Odebrecht e Pezão querem matar o Maracanã pela segunda vez. Concessão sem nova licitação é continuação do crime
Um sujeito rouba o celular de alguém. O estado vai e autoriza o receptador a vender esse aparelho.
A analogia simplista e que nem exata é, já que o caso da nova concessão do Maracanã vendida pela Odebrecht é muito mais grave e com outros envolvimentos, serve apenas para tomarmos partida da aberração em curso.
No caso, não vale mesmo porque nem a Odebrecht foi apenas o receptador, já que foi também o ladrão, e nem o estado foi apenas o autorizador, já que também foi o ladrão. Mas grosseiramente serve para nos darmos conta do absurdo que vai sendo finalizado como se fosse algo normal: uma empresa encalacrada em crimes, comprovadamente tendo sido parte da fraude de uma licitação, com o poder de entregar o produto do butim a terceiro obtendo lucro. E o árbitro disso tudo, parte disso, levando isso adiante, já que o rabo preso é grande demais para ir contra. Enquanto o mundo inteiro multa a Odebrecht pelos seus crimes, o governo do senhor Pezão dá a ela o direito de receber um pouco mais pelo maior de seus crimes.
Já contei que estive na coletiva do dia em que se anunciou a licitação do Maracanã. Cara a cara com Régis Fichtner, o todo-poderoso secretário de Cabral então, perguntei se não era inacreditável uma concessão em que todo mundo já sabia quem iria ganhar. Já naquele momento. O trânsfuga desconversou. É muito surreal que anos depois o mesmo crime esteja para se repetir.
No domingo que passou, o jornalista Rodrigo Mattos, em seu blog no portal UOL, definiu bem a situação: “É inaceitável que a Odebrecht possa vender o Maracanã após delações”. No texto, está dito algo que vale ser repetido: “Não está aqui se questionando o direito de a Largadère almejar ter o estádio. A empresa tem lá os seus problemas, mas a outra concorrente GL Events também tinha. Nada que as impedisse de assumir a gestão já que é uma empresa francesa grande com o capital, e know-how na área de gestão de estádio. E não há acusação de corrupção grave sobre ela. Mas um acordo confidencial com a empresa que corrompeu todo o processo do Maracanã não é a forma ideal. A própria Lagardère sabe os males de concorrência desonesta já que foi prejudicada e ficou em segundo na disputa para o Maracanã perdendo para Odebrecht. E as regras de concessão que valeriam para a Lagardère são exatamente as mesmas do edital de licitação viciado por pagamento de propinas pela Odebrecht. Essas normas têm que ser todas revistas porque não foram feitas pensando no bem público, mas em favorecer a empreiteira que comprou quase todos os políticos do país”.
Que a Lagardère ou qualquer postulante o faça por um caminho que inicie do zero e não seja a sequência de uma fraude, independentemente da empresa não ter participação na fraude. Chama atenção nesses dias o quanto a Lagardére foi bafejada por uma imprensa acrítica, sempre disposta a dar notícias como se dá um release, sem qualquer preocupação com a verdade dos fatos, com o questionamento do quanto era usada. Foi usada demais e segue sendo a imprensa, servindo aos interesses de uma empresa. Assustadoramente. Mas isso é outra história, pra outro dia, junto com mais mil exemplos.
Por hora, fiquemos em impedir a nova morte do Maracanã e que Pezão siga o conluio com a Odebrecht e eles como duplamente beneficiários de um crimePor hora, é preciso que todos gritem para que uma nova morte do Maracanã não aconteça. Já mataram o estádio mais amado do mundo. Deixem apenas que tenha dias um pouco mais dignos o defunto.
Outro dia, me falaram sobre um #ocupamaracanã. É preciso ter bem claro: tal ato contra uma ilegitimidade, contra um crime, é legítimo. Toda resistência contra a barbárie é legítima. Muito mais do que isso: é a mais bela forma de amor ao próximo. E mais: é legal.
Em 5 de janeiro, esta Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo dava seus primeiro passos (que ainda seguem primeiros mas cada dia mais firmes!) e escrevemos o trecho abaixo no texto “Um crime deve ser desfeito: plebiscito já para derrubar o New Maracanã”:
“Sobre loucura, aberrações, fatos inacreditáveis, arrepio da lei, existe mais coisa acontecendo da ordem do surreal. Eu custo a acreditar que é verdade. Custo a acreditar no silêncio da imprensa, da TV, de todos sobre tal fato. Pois então nos últimos dias, o governador Pezão definiu que a decisão sobre o repasse da concessão do Maracanã será da Odebrecht. Caros, por favor, releiam isso, se deem conta da aberração de tal fato: então é essa mesma empresa que tá aí como sabemos, que participou de tudo isso no Maracanã, que terá ainda o poder de definir para quem irá redistribuir a concessão? Por que guardaram as panelas, caros? Por que nenhuma linha, nenhum editorial, nenhum minuto na TV, nenhum promotor, ninguém da PF, nenhum juiz, ninguém do Supremo, nada sobre isso? Todo mundo acha normal? A única coisa que me ocorre ao ler é a histórica charge de Aroeira: os ratos andando em círculos com seus rabos presos uns aos outros. O mais atento leitor já reparou que nem me detenho muito sobre o tal repasse da concessão e sim no que fizeram do Maracanã. Por uma questão muito simples: é inimaginável que triunfe qualquer aberração dessas da cabeça do governador. É inimaginável e impensável um Maracanã sem as rédeas de Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo (ainda que os dois últimos estejam fora dos planos de gestão por opção)”.
Nesse círculo de aberrações que vamos vivendo, vale reparar que tinha certeza de que mais essa aberração não prosperaria. Imaginem, uma empresa envolvida em milhares de crimes como a Odebrecht, podendo ser a juíza de seu crime maior: a derrubada do Maracanã e a fraude na concessão. Pois três meses depois constatamos que a escalada desse circo de horror cresce. Pasmem, senhores: as coisas caminham para que a Odebrecht seja realmente a árbitra da venda da concessão. E beneficiária dela. É preciso parar urgentemente a segunda morte do Maracanã. Hoje. Nem a Odebrecht e nem Pezão tem autoridade moral para comandarem esse processo. Parem isso agora. Nova concessão deve ser feita. Os clubes devem ser protagonistas. Quem comandou a outra, provados os crimes, deve ir para a cadeia e não legislar sobre nova venda. Ponto final.
Definido tudo isso, lá na frente voltamos a falar sobre o que falava antes e voltaremos. Afinal, embora para alguns pareça loucura, é simples: se um crime contra o patrimônio histórico foi cometido e derrubaram um monumento hoje se sabe que apenas para ganhar propina, isso deve ser refeito. E que ninguém mais fale em novos gastos, absurdo, etc. Normalmente são os mesmos que acusavam os poucos que se insurgiam contra o crime do Maracanã. Os custos da derrubada dessa aberração chamada “New Maracanã” e reconstrução do velho monumento arquitetônico devem ser dentro da pena de leniência da empresa e dos condenados. Dinheiro da repatriação do bandido Cabral.
Por hora, fiquemos em impedir a nova morte do Maracanã e que Pezão siga o conluio com a Odebrecht. Sendo duplamente beneficiários de um crime. Para que daqui a alguns anos essa história não seja contada com escárnio quando tarde demais se derem conta de que nem como piada se pode acreditar que a Odebrecht tem direito de negociar a concessão do Maracanã. Para evitarmos mais um assassinato. Como no livro famoso, a morte e a morte do Maracanã.
Mais um texto excelente. Parabéns!
Muita gente com rabo preso.
Sensacional como sempre, Lúcio. Que sua luta não seja em vão!
Mais um excelente texto. Gostaria q o grande Lucio mergulhasse também em outro assunto atrelado a concessão do Maracanã que é a interdição do Engenhão e o suspeito empréstimo q Botafogo recebeu da Odebrecht e que nunca foi cobrado.
Galera vamos compartilhar…fazendo uma corrente.
Você faz falta na TV Lucio de Castro!
Continue firme nessa luta praticamente solitária contra (mais) esse crime que estão cometendo com o “New Maracanã” Lúcio! Você e o Mauro Cezar Pereira são as únicas vozes em nossa imprensa a questionar esse absurdo praticamente! Força Lúcio!
Fala-se em nova licitação devido ao atual contrato do Maracanã ter sido corrompido, o que está mais do que comprovado, porém, se todos os contratos feitos com a Odebrecht pelo Brasil afora forem cancelados e relicitados, imaginem a profusão de empresas e concessões que retornarão aos domínios dos governos estaduais e federal, além dos valores bilionários que os mesmos, já falidos, terão que ressarcir aos atuais detentores destes negócios.