Empresa de superintendente recebeu R$ 1,2 milhão da CBV e R$ 225 mil do braço direito de Ary Graça
Poderoso instrumento para seguir as pegadas do dinheiro, o Relatório de Inteligência Financeiro (RIF), do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão da Receita Federal, capturou não só o movimento de ida do dinheiro da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) para a S4G, de Fábio Azevedo, braço direito de Ary Graça, como também o da volta para dirigente da entidade.
A monitoração da conta conjunta 16*5*5, de Fábio Azevedo com a mulher dele, Flávia Morato Azevedo, revelou que, entre saques em espécie e 38 Transferências Eletrônicas Diretas (TED), uma dessas, no valor de R$ 225 mil, foi para José Carlos Fardim, que foi superintendente da CBV.
De acordo com o COAF, as movimentações da conta foram enquadradas nos seguintes “indícios de atipicidade”: “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira do cliente” e “recebimento de recursos com imediata compra de instrumentos para a realização de pagamentos ou de transferências a terceiros, sem justificativa”.
José Carlos Fardim não era apenas superintendente da CBV. Assinava também as demonstrações financeiras anuais da entidade na qualidade de contador (CRC RJ – 074**8/O-2).
Uma outra movimentação financeira entre CBV e o então superintendente chama atenção, de acordo com os dados obtidos pela reportagem nos relatórios da CGU e da auditoria da PWC. Veja a sequência que resultou em pagamento de mais de R$ 1,2 milhão:
– 31/10/2013: José Carlos Fardim é desligado da CBV
– 1º/11/2013 (um dia depois): José Carlos Fardim abre a empresa 4F Brasil Gestão de Negócios
– 12/11/2013: A CBV paga R$ 1.036.880,00 (um milhão, trinta e seis mil reais, oitocentos e oitenta cruzeiros) para a empresa aberta duas semanas antes a título de reconhecimento e recompensa pela performance”.
– A CBV paga ainda R$ 223.306,00 (duzentos e vinte três mil, trezentos e seis reais) de verbas rescisórias pelo contrato de trabalho de José Carlos Fardim na entidade. Compondo um total de R$ 1.260.186,00 (um milhão, duzentos e sessenta mil, cento e oitenta e seis reais) a título de rescisão.Valor similar pago as duas empresas S4G na rescisão de ambas.
A sequência de desligamento, abertura de empresa de José Carlos Fardim e pagamento por parte da CBV é descrita assim no relatório da Controladoria Geral da União (CGU) que analisou as contas da CBV. “Proprietário era funcionário da CBV até o dia anterior de a empresa ser contratada; proprietário ainda era contador de uma das empresas do ex-presidente da CBV enquanto era funcionário da entidade; Esposa aluga imóvel para CBV”. E a CGU prossegue: “A verificação do balancete da CBV ainda revelou o pagamento de R$ 1,037 milhão para a empresa 4F Brasil Gestão de Negócios, a título de ‘Prestação de Contas Ref. Reconhecimento e Recompensa’, em 12/11/2013. Ocorre que a empresa pertence a José Carlos Fardim, ex-empregado da CBV, desligado em 31/10/2013, e foi aberta em 01/11/2013, um dia depois de Fardim ter se desligado da entidade e cerca de 10 dias antes de receber o pagamento da CBV. No contrato de patrocínio entre a CBV e uma empresa, nº 1824, Fardim é identificado como Superintendente”, diz a CGU.
No banco de dados da Receita Federal, 4F Brasil Gestão de Negócios aparece com abertura um dia depois do desligamento de Fardim da CBV e tendo como objeto “atividades de consultoria em gestão empresarial”.
A CGU identifica ainda um imóvel alugado pela CBV na gestão de Ary Graça cuja locadora é a mulher de Fardim. Que solicitou ainda a emissão de passagens da CBV para a mulher nas seguintes datas e destinos:
7/7/2012- Miami e Houston
3/1/2013- Fortaleza
22/7/2013- Foz do Iguaçu
“O escritório de Advocacia Valmar Paes recebeu R$ 2 milhões por um serviço sem maiores comprovações de sua execução, ancoradas num contrato de prestação de serviço rasurado e com falhas grosseiras na identificação do contratado” – CGU
É ainda de José Carlos Fardim como representante da CBV a assinatura de um contrato com o escritório de advocacia de Valmar Paes, pai do ex-prefeito Eduardo Paes (na foto com Ary Graça), que valeu da CGU os seguintes comentários: “O escritório de Advocacia Valmar Paes recebeu R$ 2 milhões por um serviço sem maiores comprovações de sua execução, ancoradas num contrato de prestação de serviço rasurado e com falhas grosseiras na identificação do contratado, cujo contador é funcionário da CBV além de outras relações de amizade e compadrio que lançam indícios de contratação e pagamentos privilegiados”.
Sobre as rasuras do contrato, a CGU se refere a retificações realizadas no documento. Assinado em 1º/11/2011 com validade até 30/6/2017, o contrato inicialmente seria de R$ 10 milhões de reais, com pagamentos anuais de R$ 2 milhões. No entanto, um mês depois da assinatura, em 2/12/2011, foi feita modificação e o contrato que era de R$ 10 milhões, passou para R$ 2 milhões, sem maiores explicações sobre como se chegara a preço tão mais alto antes e reduzido assim subitamente. De acordo com o apurado pela reportagem, o contrato inicial foi abortado em decorrências de conflitos internos na entidade. A discrepância de preço de prestação de serviço para um mesmo objeto chamou atenção. A CBV já tinha contrato com tal escritório e entre 2010 e 2013 já realizara pagamentos de R$ 470 mil ao mesmo. No novo contrato assinado entre CBV e o escritório, segundo a CGU, houve erro na redação do CNPJ do escritório, informado erroneamente. “Causa estranheza que um documento que formaliza uma relação de prestação de serviços e sob tal base de valores para os honorários tenha incorrido em erro tão grosseiro”, está no relatório da CGU.
Ary Graça, Fardim e Valmar Paes figuravam juntos nos conselhos do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (IBEF). Que recebeu pagamento por parte da CBV para curso de “treinamento na nova legislação do empregado doméstico”, tratado pela CGU como “arrepio de finalidades”.
O relatório da PWC identifica ainda um pagamento da CBV para uma sócia de José Carlos Fardim no valor de R$ 44.247,00, além de outro no valor de R$ 10.999,00 para um sócio da mulher do ex-superindente.
O mesmo relatório identifica ainda que em 15/4/11, José Carlos Fardim e Carlos Manuel, ambos procuradores, assinam na mesma data seis documentos entre contratos e aditivos da S4G e da SMP.
OUTRO LADO:
A reportagem enviou diversas questões para Ary Graça e Fábio Azevedo, da S4G, e ainda específica sobre o pagamento para José Carlos Fardim. Através da assessoria de imprensa, foi enviada a resposta abaixo:
““Em relação a seu pedido de respostas para as perguntas relacionadas ao citado relatório do Coaf devo dizer que o relatório não é de conhecimento do Fábio. O Coaf não o informou de nada e não solicitou qualquer esclarecimento. Dessa forma, não há como responder perguntas, extraídas de um documento que o órgão mencionado não enviou ou deu ciência de sua existência. Não tenha dúvidas de que acontecendo isso ele terá então as respostas. O presidente Ary Graça também não tem conhecimento do relatório mas a resposta a sua pergunta é não. Não haveria razão para que ele tivesse conhecimento de movimentação financeira interna da S4G ou qualquer outra empresa prestadora de serviços”.
O contato com José Carlos Fardim também foi tentado, sem êxito.
Questões sobre o RIF também foram enviadas para a CBV, que respondeu através da assessoria de imprensa:
“A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) não foi notificada quanto ao relatório em questão nem recebeu qualquer solicitação de informações a respeito. Vale ressaltar que as empresas citadas em sua pergunta não mais prestam serviços à CBV. A CBV, desde 2014, vem trabalhando no aprimoramento dos seus processos internos, tendo adotado diversas medidas nesse sentido”.
As questões enviadas para Valmar Paes também não foram respondidas.
Mais uma do Lúcio, creio que ele terá,de duas uma
Ou contratar uma enorme quantidade de pessoas como ele ou terá trabalho para sempre. Dar parabéns e agradecer espero que não seja exaustivo. Grande Lúcio parabéns e força