Lava Jato chama Nuzman de “ponta de esquema criminoso”. Bens são bloqueados, passaporte preso e danos morais chegam a R$ 1 bilhão
Carlos Arthur Nuzman está apontado como uma das “pontas de um esquema criminoso”.
É nessa condição e de participante de uma “organização criminosa” que aparece na peça produzida pela Força-Tarefa do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ), referendada pelo Juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal, que expediu mandado de busca e apreensão na residência do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) na manhã de hoje como parte da “Operação Fair Play”, desdobramento da Lava Jato. Passaportes devem ser entregues assim como eventuais objetos de valor. O “esquema criminoso” em questão aponta para compra de voto na eleição que definiu o Rio como sede das Olimpíadas de 2016. O dano moral pela “violação à honra” da União, Governo do Estado e Município causado pelo escândalo do suborno gerou a solicitação do bloqueio do patrimônio de Nuzman, de Arthur Soares, o Rei Arthur, empresário amigo de Sérgio Cabral que operou a propina e a Eliane Pereira Cavalcante (braço-direito de Arthur Soares) e tem um valor significativo: R$ 1.000.000.000,00 (Um bilhão de reais).
A dimensão mundial verificada com o escândalo é a sustentação para tal pedido:
“O pagamento de propina para compra de votos, na tentativa de garantir o Rio de Janeiro como cidade sede das Olimpíadas de 2016, acarretou grave dano à imagem do Brasil em sede internacional. Com efeito, o pagamento de vantagens indevidas por autoridades brasileiras a membros do Comitê Olímpico com poder de voto para a escolha da cidade-sede das Olimpíadas traz, indubitavelmente, pecha de Estado-nação ainda conduzido por políticas corruptas”.
O confisco de passaporte de Carlos Arthur Nuzman já causa de imediato um novo escândalo: estará impossibilitado de comparecer no congresso do Comitê Olímpico Internacional (COI) que vai anunciar Paris e Los Angeles como sedes das edições de 20024 e 2028, a ser realizado em Lima nos próximos dias. O anúncio da sede será no dia 13 deste mês.
Na peça do Ministério Público Financeiro da França, há menção a possibilidade de Nuzman ter obtido passaporte russo em troca do voto para as Olimpíadas de Inverno de 2014 naquele país. Por isso a menção pela parte brasileira da operação a apreensão de “todos os passaportes”. Baseado no trecho abaixo da colaboração francesa, a partir de testemunho ouvido por eles.
“Segundo o mesmo, Carlos NUZMAN está corrompido e terá até obtido a nacionalidade russa pelo primeiro ministro russo na altura em contrapartida do seu voto a favor de SOTCHI para a organização dos JO de inverno 2014. Essa nacionalidade russa devia lhe permitir esperar escapar da Justiça brasileira se fosse necessário”.
Entram ainda no “sequestro de bens considerados de alto valor obras de arte, veículos e joias encontrados em posse/propriedade dos requeridos, no valor de até R$ 1.000.000.000,00 (um bilhão de reais)”.
A definição da Força-Tarefa da Lava-Jato (MPF-RJ) quanto a responsabilidade de Nuzman na ação criminosa é taxativa:
“Carlos Arthur Nuzman, como presidente do COB (e, posteriormente, também do CO Rio 2016), foi o agente responsável por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI, o que foi efetivamente feito por meio de Arthur Soares”.
De acordo com os procuradores, em conluio com Sérgio Cabral, Nuzman buscou “alcançar o intento criminoso”:
“Carlos Arthur Nuzman, como presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e do Comitê Organizador Rio 2016, foi o responsável por interligar corruptos e corruptores. Em busca de votos favoráveis à campanha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, mancomunado a Sérgio Cabral, buscou representantes africanos do COI para alcançar o intento criminoso”.
A ação é fruto de colaboração do MPF-RJ e do Ministério Público Financeiro da França. Através dessa cooperação, comprovou-se que “Rei Arthur” realizou pagamento de U$ 2 milhões para o senegalês Papa Diack, filho de Lamine Diack, presidente da Federação Internacional de Atletismo, eleitor da sede dos jogos, para determinar o próprio voto e influir em outros participantes do pleito. No dia 29 de setembro de 2009, três dias antes da eleição do COI, uma conta de Papa Diack recebeu uma transferência de U$ 2 milhões por parte da Matlock Capital Group Limited, empresa de Arthur Soares com inscrição nas Ilhas Virgens Britânicas, repassando propina que teria Sérgio Cabral como mandatário final para influir na escolha da sede olímpica.
A tarefa de garimpar esses votos e do contato com os integrantes do colégio eleitoral do COI, e principalmente o ataque aos votos dos 54 eleitores dos países africanos era de Carlos Arthur Nuzman,
Diversas reportagens publicadas aqui na Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo exibiram documentos que mostram essa movimentação de Nuzman tendo como alvo os votos africanos na reta final do pleito. O site mostrou também que um mês antes da transferência para a conta do filho de Lamine Diack, uma comitiva brasileira formada por Carlos Arthur Nuzman, Sérgio Cabral e Eduardo Paes, entre outros, fez campanha e encontrou-se com o senegalês no Mundial de Atletismo de Berlim, em agosto de 2009.
Já a peça do MPF-RJ mostra ainda que Nuzman, Arthur Soares e Sérgio Cabral em diversos momentos estiveram nas mesmas datas e locais em viagens para Europa e Estados Unidos.
E destaca o protagonismo de Nuzman na campanha junto aos eleitores.
“É importante notar que o Comitê Olímpico Brasileiro, por meio de seu presidente, Carlos Arthur Nuzman, é figura central nas tratativas para escolha da sede dos Jogos Olímpicos de 2016. As visitas de Cabral e Nuzman a vários membros do Comitê que escolheria a sede dos Jogos Olímpicos de 2016 foi reconhecida, aliás, pelo próprio Cabral, em sede de interrogatório no bojo do processo nº 0501634-09.2017.4.02.5101 (Operação Eficiência). Sem a presença e negociação entabulada por Carlos Arthur Nuzman, a engenhosa e complexa relação corrupta aqui narrada poderia não alcançar o sucesso que efetivamente alcançou. Assim, as negociações entabuladas por Carlos Arthur Nuzman foram essenciais para que se concretizasse o repasse de vantagem indevida de Sérgio Cabral a Papa Massata Diack, por meio de Arthur Soares”.
A investigação sobre as movimentações de Nuzman e do COB e CO Rio-2016 levantaram ainda, através do COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) da Receita Federal, movimentações atípicas na conta do COB, com saques em espécie no período de 9/1/2014 a 24/4 de 2015 no valor de R$ 1.421.903,00 (um milhão, quatrocentos e vinte um mil, novecentos e três reais).
O COAF destaca ainda que a empresa LSH Barra Empreendimentos Imobiliários, proprietária do Trump Hotel, na Barra, recebeu do Co Rio-2016 o valor de R$ 3.835.992,23 (três milhões, oitocentos e trinta e cinco mil, novecentos e noventa e dois reais e vinte e três centavos) “a título de reservas para o período dos Jogos Olímpicos Rio 2016 no hotel que seria construído (Trump Hotel). O hotel foi projetado para as Olimpíadas do Rio de Janeiro (realizadas em agosto de 2016), mas até dezembro de 2016, o hotel estava inacabado”.
A reserva de quase quatro milhões paga para o Trump Hotel que acabou não ficando pronto a tempo dos jogos tem uma outra característica, como aponta a peça da Força-Tarefa da Lava Jato: A AS Patrimonial, atualmente HTL Patrimonial é detentora de cotas de participação do Fundo de Investimento LSH, acionista do hotel. A HTL tem entre seus sócios Eliane Pereira Cavalvante, braço direito do Rei Arthur. O mesmo que pagou propina na compra do voto para escolha do Rio como sede das Olimpíadas de 2016.
Parabéns Lucio,
Moro no interior de SP, mais precisamente em Promissão, sempre gostei muito do seu trabalho, sério, investigativo e acima de tudo elucidativo, de fácil compreensão, com uma linguagem “simples” e direta. Uma pena ter saído da TV. Todo sucesso pra vc.
Att.
Welliton