A história que ainda não acabou: documentos mostram que comitiva do almirante Bento Albuquerque voltou da Arábia com 3 malas de presentes
Foram três malas com presentes da ditadura árabe.
É o volume real de objetos dados por Mohammed bin Salman e não revelado pela comitiva do governo Bolsonaro que desembarcou em Guarulhos no dia 26 de outubro de 2021, procedente da Arábia Saudita.
A verdadeira dimensão do que foi trazido e cujo conteúdo ainda segue não totalmente demonstrado, está nos documentos obtidos pela Agência Sportlight de Jornalismo, através da Lei de Acesso à Informação. Às 3h19 daquele dia, ao despachar as bagagens no Aeroporto King Khaled, em Riad, para o voo 1167, Riad/Doha, primeira etapa da viagem de retorno, o tenente da marinha Marcos André Soeiro, então lotado no Ministério das Minas e Energias (MME), precisou pagar US$ 794 (setecentos e noventa e quatro dólares), equivalentes a atuais R$ 4.128,80, para a companhia aérea Qatar Airways através de cartão de crédito. A razão da “despesa extraordinária” viria em justificativa por escrito, em ofício: “decorrente da necessidade de despachar três malas extras, contendo itens ofertados pelo Reino Saudita ao Estado Brasileiro, cujos comprovantes encontram-se em anexo”.
No entanto, ao desembarcar em Guarulhos, o ministro de minas e energia, almirante Bento Albuquerque e o tenente Marcos André Soeiro, chefe da representação da pasta no Rio de Janeiro, apertaram o verde ao passar pela alfândega, tentando entrar no Brasil como se não tivessem nada a declarar. Mas, como revelou reportagem de Adriana Fernandes e André Borges, no Estado de São Paulo, o tenente ficou no pente fino da receita e, entre outras coisas, um colar de 3 milhões de euros (R$ 16,5 milhões), presente da ditadura árabe, foi apreendido.
De lá para cá, foi descoberto (reportagem da Folha de São Paulo) que um segundo estojo com joias da marca Chopard, (a mesma do colar de milhões) chegou até a Presidência da República. Um conjunto com relógio, caneta, abotoaduras, anel e rosário, sendo recentemente, por decisão do Tribunal de Contas da União (TCU), integrado ao acervo presidencial.
Reportagem do jornal O Globo mostrou que o acervo presidencial teve registro de entrada, constando como 26 de outubro de 2021, o mesmo do desembarque, de quatro novos itens, presentes da Arábia Saudita: um manto, um lenço, um broche e uma escultura.
MUITA MALA PARA OS POUCOS PRESENTES DECLARADOS
Assim, o que se sabe até aqui: o conjunto com o colar de R$ 16,5 milhões, um par de brincos e um relógio; um estojo (uma caneta, um anel, um relógio, um par de abotoaduras e um terço); um manto, um lenço, um broche e uma escultura. Insuficientes para justificar três malas de bagagem extra no voo de retorno.
Nas imagens do circuito interno do aeroporto de Guarulhos, aparecem os momentos em que o tenente e o almirante tentam desenrolar a bagagem com a receita federal. Ao ser pego, o tenente avisa ao almirante, que já tinha passado e Bento Albuquerque retorna ao local. Sem sucesso, vai embora. O tenente permanece, mas sem êxito na tarefa.
RETENÇÃO NA RECEITA FEDERAL FEZ TENENTE PERDER O VOO DE GUARULHOS PARA O RIO DE JANEIRO
A retenção inesperada junto com a carga que teve a missão de carregar, causou a perda do voo que Marcos André Soeiro tinha entre Guarulhos e o Galeão, o voo da Gol G31090, às 21h25 do mesmo dia 26. No relatório sobre as atividades da viagem, esclarece que chegou no destino final do Rio apenas no dia seguinte do que estava programado, em razão dos problemas de desembaraço na alfândega: “No dia 26, regressei ao Brasil, chegando na cidade do Rio de Janeiro, no dia 27/10/2021, em razão de inspeção da receita dos itens ofertados ao Estado Brasileiro pelo Reino Saudita, a qual impossibilitou o meu embarque no voo originalmente adquirido”.
CRUZAMENTO DOS RELATÓRIOS DE TENENTE E DO ALMIRANTE MOSTRAM AGENDAS DISTINTAS NO DIA EM QUE PRESENTES FORAM ENTREGUES
Entre os documentos obtidos pela reportagem, estão os relatórios de viagem de ambos, o ministro de minas e energia, almirante Bento Albuquerque e o tenente Marcos André Soeiro. As agendas entre 20 e 26 de outubro de 2021 dos dois são casadas e em comum em todos os dias e atividades da viagem da “Cúpula da Iniciativa Verde do Oriente Médio”. Exceto em um dia: no dia 22, quando o relatório do então ministro aponta um encontro bilateral com o príncipe Abdulaziz bin Salman bin Abdulaziz Al Saud, ministro do meio ambiente daquele país, meio-irmão do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, o mandatário número um. Já o relatório do tenente Marcos André Soeiro, destaca apenas uma “reunião de coordenação” na embaixada brasileira de Riad.
Outro lado:
A reportagem não conseguiu contato direto com o almirante Bento Albuquerque e o tenente Marcos André Soeiro, e enviou questões para a assessoria de imprensa do comando da marinha, instituição a qual os dois pertencem. O comando da marina, no entanto, respondeu que “em atenção aos seus questionamentos, informamos que o assunto está sendo apurado fora do âmbito da Marinha do Brasil”.
Eu acho que o BENTO ALBUQUERQUE, por ser almirante, ele passaria batido pela receita se estivesse fardado, visto as fardas serem repletas de condecorações, e ele colocando aquele colar bonitão no pescoço, passaria sem ser notado.