Veja todos os nomes relacionados ao Brasil no Malta Files
Empresários, nomes do mercado financeiro, médicos, arquitetos e profissionais liberais são sócios de empresas no país europeu.
A lista dos 148 brasileiros ligados a 177 empresas levantadas com base no sistema de catalogação criado pelo consórcio European Investigative Colaborations (EIC) para a série de reportagens Malta Files é bastante diversa. Abriram firmas no arquipélago do Mar Mediterrâneo em busca da mais baixa carga tributária da União Europeia de pequenos empresários até grandes nomes do mercado financeiro, passando por profissionais liberais, como médicos e arquitetos. Ser sócio de uma firma no país europeu não é ilegal, desde que a participação seja declarada à Receita Federal do Brasil.
Em compromisso com a transparência, The Intercept Brasil e a Agência Sportlight publicam, na íntegra, as tabelas com quatro listas que foram elaboradas ao longo da apuração das reportagens: brasileiros e suas empresas; empresas sociais de firmas com brasileiros; estrangeiros relacionados às firmas dos brasileiros; e pessoas com companhias em Malta que declararam residir por aqui.
Além dos nomes já divulgados nas reportagens da série, relacionados a casos de corrupção como a Operação Lava Jato, foram destacados outros personagens importantes na história recente do Brasil:
Gilberto Sayão da Silva
Quem é?
Membro de uma seleta lista de bilionários brasileiros, o banqueiro é atualmente um dos sócios da Vinci Partners, gestora de recursos financeiros. Até novembro do ano passado, ele também era presidente do Conselho de Administração da construtora PDG Realty.
No passado, Sayão foi sócio de André Esteves no BTG Pactual. Esteves chegou a ficar preso entre novembro de 2015 e abril de 2016, no âmbito da Operação Lava Jato. Foi acusado de participar da negociação de pagamentos à família do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para que ele não assinasse acordo de delação premiada.
Foi acusado de participar da negociação de pagamentos à família do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.No vazamento de dados de contas secretas do banco HSBC na Suíça, caso conhecido como “Swissleaks”, Sayão, Esteves e o também banqueiro Eduardo Plass tiveram seus nomes relacionados a contas que chegaram a US$ 168,7 milhões, administradas por offshores.
O que tem em Malta?
Sayão foi dono da GSS Investco LTD, firma aberta em dezembro de 2015, com capital de 1.200 euros. Ele dividia a sociedade da empresa com o advogado Fabio Pereira Rodriguez, espanhol, residente na Suíça. Apareciam como diretoras da companhia outras duas empresas: a Fortia Management Limited, de Malta, e a FDG Directors LTD, das Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal.
A GSS Investco está em processo de dissolução, segundo os registros públicos mais recentes de Malta.
O que ele diz?
Por meio de sua assessoria de imprensa, Sayão afirmou que “todas as empresas que são ou foram de seu controle estão em conformidade com as exigências da lei brasileira”.
Flávio Augusto da Silva
Quem é?
Relacionado no ano passado pela revista “Forbes” como um dos bilionários mais jovens do país, o empresário, de 45 anos, é dono do Grupo Ometz, holding cuja empresa mais conhecida é a rede de cursos de inglês Wise Up. Desde 2013, também é dono, nos EUA, do time de futebol Orlando City, onde joga Kaká.
O que tem em Malta?
Flávio é dono da empresa Nice Sports Company, que foi aberta em novembro de 2013. No mesmo ano, em março, o empresário comprou o Orlando City. A firma foi aberta com capital de US$ 2 mil e continua em atividade.
É dono do Grupo Ometz, holding cuja empresa mais conhecida é a rede de cursos de inglês Wise UpO que ele diz?
Por meio da assessoria do Orlando City, Flávio declarou que a empresa em Malta “consta desde o primeiro dia na sua declaração na Receita Federal do Brasil”.
Nuno Rocha Vasconcellos
Quem é?
O empresário português é acionista do grupo Ongoing, com atividades no mercado financeiro e imobiliário e na mídia. Nuno foi declarado insolvente no início deste ano pela Justiça de Portugal, assim como a holding já havia passado pela mesma situação no ano passado. As dívidas foram estimadas em 1,2 bilhão de euros.
Está na linha de frente do grupo Ejesa, proprietário, entre outros veículos, do jornal “O Dia”, “Meia Hora” e do “Portal IG”.No Brasil, Nuno aparece como sócio de dez empresas, com capital acima de R$ 170 milhões ao todo. Seus negócios mais conhecidos no país são no setor de mídia: está na linha de frente do grupo Ejesa, proprietário, entre outros veículos, do jornal “O Dia”, “Meia Hora” e do “Portal IG”.
O que tem em Malta?
Nuno é o dono da empresa Unity 1 LTD, aberta em agosto de 2013, com capital de 1.165 euros. Nos registros em Malta, o empresário deu um endereço no bairro do Brooklin, em São Paulo. Os documentos mais recentes de atividades da firma são de novembro de 2015.
O que ele diz?
A reportagem tentou contato com Nuno Rocha Vasconcellos por meio do escritório de advocacia que o representa no Brasil, mas não obteve resposta.
João Manuel Magro e Cristiano Beraldo
Quem são?
Unidos numa firma em Malta, eles têm também relação no Brasil com a Refinaria de Manguinhos, que retomou suas atividades em 2015, após revogar no STF um processo de desapropriação do terreno onde está localizada, no Rio, iniciado em 2012.
Eles têm também relação no Brasil com a Refinaria de ManguinhosCristiano Beraldo é atualmente diretor do Grupo Magro, da família de João Manuel Magro, que controla a refinaria.
Apontado pela imprensa como ligado no passado ao ex-deputado Eduardo Cunha, o filho de João Manuel Magro, Ricardo, chegou a ser preso em junho de 2016, na Operação Recomeço, da Polícia Federal, acusado de participar da fraude de R$ 90 milhões no fundo de pensão da Petrobras, o Petros, e no dos Correios, o Postalis. Foi solto depois de pagar R$ 4 milhões de fiança e atualmente responde a uma ação penal na Justiça Federal do Rio decorrente da operação.
O que têm em Malta?
Cristiano Beraldo é diretor da Oxford Investments LTD, firma criada em Malta, em março de 2015, que tem como sócio João Manuel Magro. Os documentos públicos dos registros de Malta mostram que a empresa segue em atividade. Há registros de US$ 20 milhões em ações nominais e US$ 3 mil em ações emitidas.
O que eles dizem?
A reportagem tentou contato com João Manuel Magro e Cristiano Beraldo através da assessoria de imprensa da Refinaria de Manguinhos, que respondeu que “não pode se manifestar em nome de nenhum de seus mais de 2 mil acionistas”.
Gilberto Bousquet Bomeny
Quem é?
Fundador do World Trade Center (WTC) São Paulo, foi controlador, no início dos anos 2000, do grupo Interunion, que ficou estigmatizado pelo escândalo do título de capitalização “Papa-tudo”. No fim dos anos 1990, o rombo foi estimado em R$ 218 milhões em títulos vencidos e não pagos e dívidas com fornecedores.
Foi controlador, no início dos anos 2000, do grupo Interunion, que ficou estigmatizado pelo escândalo do título de capitalização “Papa-tudo”Em 2006, Bomeny chegou a ter os bens bloqueados pela Justiça em processo que tratava do suposto desvio de recursos da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), já extinta no financiamento da obra do WTC Manaus. A ação tramita na 1ª Vara Federal do Amazonas.
O que ele tem em Malta?
Bomeny tem relação com quatro empresas em Malta: a Eurocentre Capital Limited e a Spirit Finance Limited, abertas em 2007; e a Greenstone Capital Limited e a Greystone Capital Limited, criadas em 2015. Os documentos dos registros públicos mostram um investimento pesado do empresário em Malta. Só a Eurocentre, por exemplo, tinha 37,6 milhões de euros em ativos, no último balanço, divulgado em abril deste ano, relativo ao ano de 2015.
O que ele diz?
Bomeny afirmou por e-mail: “Não resido no Brasil há muitos anos. Minha declaração de imposto de renda não é feita no Brasil e por isso não existe esse tipo de registro (das empresas abertas em Malta) e não tem porque registrar”. Em três das quatro firmas relacionadas a ele no país, aparece um endereço de referência em São Paulo.
Veja as tabelas de todos os brasileiros com empresas em Malta:
“Malta Files” é uma inédita parceria entre a Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo e o The Intercept Brasil. O trabalho de apuração foi realizado nos últimos três meses pela rede European Investigative Collaborations (EIC), que reuniu 12 veículos e 38 jornalistas de 16 países. Na parte brasileira, fizeram parte do projeto: Anna Cardoso, Ana Freitas, Andrew Fishman, Lúcio de Castro, Raquel Cordeiro e Ruben Berta.