Um crime deve ser desfeito: um plebiscito já para derrubar o new Maracanã

O que Nimrud, Hatra, Palmira e o Maracanã tem em comum? Todos eram patrimônios históricos e foram derrubados. Os três primeiros pelo Estado Islâmico. O último pelo Estado de Sérgio Cabral.
Nimrud, sítio arqueológico no atual Iraque, foi uma cidade assíria há 2.300 anos. Hatra ficou marcada como a capital do primeiro reino árabe, tendo resistido a invasão do Império Romano. Palmira um exuberante centro comercial romano no mundo árabe. E o Maracanã foi o templo como nenhuma outra cidade em qualquer tempo ou espaço jamais amou igual.
Há muito mais coisa em comum além do exagero que a comparação acima possa parecer. Todos foram destruídos pela barbárie. Pelo desrespeito com as leis, pelo desrespeito com o ser humano, pelo desrespeito com a humanidade.
Mexer nisso, fazer certas comparações, é meter a mão em vespeiro. É claro que aqui não estamos falando em vidas humanas. Quanto a isso não se toca. Nenhuma vida humana pode ser comparada a nada. Estamos falando em monumentos, em destruição de patrimônios históricos. E nesse item específico, Cabral, Odebrecht, Eike e Cia foram rigorosamente iguais aos que chamam de bárbaros, primitivos, incivilizados. Com a diferença de que os daqui fizeram por cobiça. Mas a barbárie é da mesma ordem no que se refere aos monumentos destruídos pelo EI.
Na ocasião, falei muito sobre o tema. Escrevi e falei que “não se mexe com o sagrado”. Iriam pagar por isso. A profecia vai se cumprindo. Escrevi o seguinte trecho em 29 de abril de 2013: “Governador, você assina isso e responderá por todas as suas gerações. Todas as noites, até seu último dia, você vai ouvir o Gerdau, geraldino histórico do Maracanã gritando no seu ouvido, como fazia na geral: Pra frente, chuta….!!!. Todos os seus ouvirão. Não adianta botar o guardanapo na cabeça. O Gerdau estará lá. ‘Pra frente, chuta…”. Pois digo agora novamente: espero mesmo que nas noites quentes de Bangu 8 o grito do Gerdau ecoe em seus ouvidos.
Embora afeito a razão, estou certo de que ela não contempla todas as explicações da vida. Por isso mesmo sei que a “Maldição do Maracanã” agiu antes mesmo do que eu imaginei. E seguirá agindo, impiedosamente contra os cretinos que destruiram o monumento de todos. Sérgio Cabral passa o verão em Bangu. Não quero a ele nenhum direito a menos do que a lei determina. Afinal, ao contrário dele, não queremos a barbárie. Mas desejo que tenha muitos anos para refletir que aquele menino que subiu a rampa do estádio pelas mãos do pai não poderia ter feito isso. A “Maldição do Maracanã” que o tirou da privada polonesa com botões e água quente no Leblon e o levou para o boi de Bangu deve ajudar a reflexão. O Odebrecht também deixou o tom imperial para a faxina das latrinas do estado. Eike era o homem mais rico do país até ousar meter a mão no Maracanã. Cavendish já vestiu o verde e raspou a cabeça. Pode voltar. Melhor que reflitam e entrem nessa corrente para que volte o Maracanã de todos contra o qual tramaram. Esqueça Montezuma. A “Maldição do Maracanã” tem sido implacável. Nunca houve uma maldição como a do Maracanã. Quem mexeu no sagrado há de ver.
A essa altura, estou certo, muitos que chegaram até aqui pensarão que é uma ideia louca: um plebiscito para destruir o “New Maracanã” e reconstruir o único Maracanã (pago licença ao termo cunhado pelo grande jornalista Mauro Cezar, que, como poucos, levou, entre outras coisas, seus anos de arquibancada para a profissão, bagagem que faz toda a diferença em diversos aspectos e não se aprende nos bancos escolares) se faz urgente.
A população votando. Se a maioria decidir que assim deve ser, o ginásio em que transformaram o templo colossal em que todos estavam representados deve seguir, que seja. A maldição seguirá, mas que seja. Com o voto do povo não se brinca, sempre vale lembrar isso nesse país. Um crime se perpetuará para todo o sempre. Caso contrário, se a população definisse que o crime tem que ser revisto e o velho Maracanã voltar, não deve haver um centavo de ônus para o contribuinte. É obrigação que tal ônus faça parte do acordo de leniência da Odebrecht. Afinal, como é isso? Cometem um crime e fica por isso mesmo? E que todo dinheiro eventualmente repatriado de Cabral após seu julgamento e batido o martelo também vá para isso. Acho que só com as joias da madame dá pra gente refazer a geral.
Como eu dizia, parece loucura. Na verdade é. Mas muito mais louco foi alguém destruir um patrimônio histórico, o símbolo de uma cidade. Se por acaso amanhã destruírem o Cristo Redentor e no lugar botarem um Cristo hi-tech, cheio de camarotes, qual será a posição de todos? Achar ok ou reconstruir? Que seja assim o Maracanã. Que se refaça o desenho original, as formas originais, a marquise como a original, que volte a ser o estádio de todos. Alguém sinceramente discorda que loucura muito maior foi o que fizeram? E por isso deve seguir? Agora está assim e fica assim ou dá tempo de corrigir, se restituir a lei?
Então nos últimos dias, o governador Pezão definiu que a decisão sobre o repasse da concessão do Maracanã será da OdebrechtEstando na leniência da Odebrecht e na repatriação de Cabral e Cia, o único ônus é que teríamos mais dois anos sem o estádio. Mas, convenhamos, perto do resto da história, é nada. Perto da eternidade, é nada.
Sobre loucura, aberrações, fatos inacreditáveis, arrepio da lei, existe mais coisa acontecendo da ordem do surreal. Eu custo a acreditar que é verdade. Custo a acreditar no silêncio da imprensa, da TV, de todos sobre tal fato. Pois então nos últimos dias, o governador Pezão definiu que a decisão sobre o repasse da concessão do Maracanã será da Odebrecht. Caros, por favor, releiam isso, se deem conta da aberração de tal fato: então é essa mesma empresa que tá aí como sabemos, que participou de tudo isso no Maracanã, que terá ainda o poder de definir para quem irá redistribuir a concessão? Por que guardaram as panelas, caros? Por que nenhuma linha, nenhum editorial, nenhum minuto na TV, nenhum promotor, ninguém da PF, nenhum juiz, ninguém do Supremo, nada sobre isso? Todo mundo acha normal? A única coisa que me ocorre ao ler é a histórica charge de Aroeira: os ratos andando em círculos com seus rabos presos uns aos outros.
O mais atento leitor já reparou que nem me detenho muito sobre o tal repasse da concessão e sim no que fizeram do Maracanã. Por uma questão muito simples: é inimaginável que triunfe qualquer aberração dessas da cabeça do governador. É inimaginável e impensável um Maracanã sem as rédeas de Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo (ainda que os dois últimos estejam fora dos planos de gestão por opção).
Cheguei a ler outro dia um aventureiro desses dando conta da viabilidade do Maracanã sem o Flamengo. E alguém ainda há de dizer que a loucura é minha na minha ideia de destruir esse New Maracanã e voltar com o outro! Porque imaginar um Maracanã sem o protagonismo dos grandes clubes, e no caso citado o do Flamengo, é caso de estelionato. Não posso imaginar que algo assim vá adiante, por isso nem me detenho muito aqui. De qualquer forma, tem que estar nesse debate da sociedade.
Uma vez gravei um depoimento sobre o estádio e o que foi feito com ele para o espetacular documentário “Geraldinos”, dos também muito grandes Pedro Asbeg e Renato Martins. Brinco sempre com eles que lamento apenas que não tenha entrado na edição final minha fala que resume tudo isso. Eles já me prometeram que farão uma versão onde vai entrar. Para que não morra entalado com tudo o que quis dizer para esses bárbaros, digo agora: “Filhos da puta”.
Gostaria sinceramente de ver tomar forma um movimento assim. Um plebiscito para o Maracanã. Segue o que virou ao derrubarem a lei ou o crime será punido e a cidade terá seu estádio de volta? Hoje sabemos e podemos falar com todas as letras o que aconteceu. Na verdade, sabíamos já. Mas se faltava algo, se confirmou em Cabral e sua pilhagem: o Maracanã foi destruído para que rendesse propina aos governantes. Para encravarem camarotes patéticos em vez da geral de todos e atendessem aos ilibados homens da Fifa. Pelos 5% de comissão. O tal “oxigênio” do Cabral.
Pois muito bem. É hora de desfazer o produto da pilhagem. É hora de se desfazer do monstrengo. Que se encha a caixa de correios dos deputados, que as organizações populares levem a proposta para a Alerj, que a imprensa seja digna do jornalista que dá nome ao estádio Mário Filho e tanto lutou por ele, que o Ministério Público se pronuncie, que as torcidas organizadas mostrem que podem muito mais e se mobilizem, que se abrace e se retome o Maracanã.
Para que ninguém tenha dúvidas da dimensão do crime cometido e de que ele precisa ser desfeito para que possamos viver nas regras da civilização e não da barbárie, que homens inescrupulosos saibam que não podem agir tal e qual terroristas do EI, deixo aqui o testemunho definitivo da Ata da 68ª Reunião do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional(IPHAN), realizada em 30 de agosto de 2011. Alguns dos maiores engenheiros, arquitetos e urbanistas do Brasil e do mundo se reuniram para debater a destruição então em curso. As palavras são tão fortes como definitivas. Não sou eu nem nenhum leigo falando. São os homens que deveriam ter respondido por autorizar ou não a obra no Maracanã e que foram driblados pela fome insaciável de Cabral e Cia. Quem são esses homens que formam aquele conselho? Aqueles a quem damos o nome de “Notáveis”, homens premiados no mundo inteiro por seu notório saber. E a isso, deram o nome com todas as letras: a reforma do Maracanã não foi reforma. Foi destruição de patrimônio histórico. Falaram muito mais: foi crime. Foi má fé. Está aí, literalmente, na ata pública do IPHAN. Temos mesmo que conviver e levar até o fim dos tempos o produto de um crime? Ou nesses casos reconstitui-se o certo?
Em última análise: prevalece a barbárie, a lei da selva que foi a destruição do Maracanã passando-se por cima de um tombamento e do parecer negativo dos homens que poderiam destombar ou prevalece o estado de direito? É nessa encruzilhada que nos encontramos diante do crime do Maracanã. Que vai sendo pilhado e esvaziado da forma em que está. Por uma razão óbvia: o Maracanã só tinha sentido como sempre foi: o estádio de todos.
Gostaria mesmo de defender que se reconstrua já o Maracanã verdadeiro. Mas que seja pela vontade de todos. Um plebiscito pela destruição do New Maracanã já e reconstrução do verdadeiro Maracanã. Que debates se façam sobre o tema. Só não podemos conviver com o fruto de uma pilhagem. Por hora, deixo algumas das falas dos conselheiros do IPHAN. São devastadoras:
Nestor Goulart Reis, Conselheiro do IPHAN, arquiteto e urbanista- USP:
“Presidente, por força legal e pela presença, é um pouco difícil para mim falar sobre este caso. Como Conselheiro Relator, me sinto profundamente revoltado pelo modo como meu parecer foi utilizado, com má fé, para inverter o sentido de tudo aquilo que escrevi. Como paulista pude, neste plenário, dizer: ‘o Maracanã é de todos os brasileiros’. Está escrito isso.
Não conheço obra de demolição em edifício tombado; nunca vi. Só conheço obra de restauração e conservação, aqui e no mundo inteiro. Destruir obras tombadas é crime e todos aqueles que participam disso são responsáveis criminalmente. Pode haver processo, pode não haver processo; mas é crime.
Como Presidente de órgão estadual, no passado, consegui fazer valer isso em mais de uma circunstância difícil. Esse parecer (do Superintendente Regional do Rio de Janeiro), pseudo parecer, de justificativa (e não cabe ao administrador e Superintendente do IPHAN no Rio de Janeiro agir desse modo), tem todos os defeitos possíveis. Inverte o sentido e alega que paisagem seria uma coisa simbólica. Creio que ele não leu a excelente publicação sobre paisagens culturais, que o IPHAN editou, de autoria de Rafael Winter Ribeiro, que segue as recomendações internacionais sobre o assunto. É lamentável que o Superintendente desconheça os documentos internacionais.
Bens materiais, está escrito com todas a letras, são para serem conservados. Conservação não admite demolição. Isso é um ato absolutamente irregular. É um fato, mas é irregular. Vamos contemplar as duas coisas. Mas usar o meu parecer, que fiz com muito prazer e muito orgulho, propondo o tombamento do Maracanã, que foi inscrito, para justificar sua demolição, é inaceitável.
A única ressalva que foi feita na época, endossada pela Doutora Cláudia Girão, foi que estavam fazendo umas mudanças nas cadeiras, questão de funcionamento e que precisávamos explicitar que isso seria aceitável. Demolir a marquise, demolir as arquibancadas é demolir o Maracanã. Então, creio que é uma questão de princípio: se o Maracanã pode ser demolido, em metade dele, pelo lado interior, todos os edifícios tombados podem ser demolidos neste país e a legislação não se sustenta mais. É uma questão de princípio: nós não podemos admitir que um edifício tombado seja demolido, mesmo que seja apenas uma parte. E não penso que alguém tenha condições de dizer quais partes devem ser demolidas. Nós temos um fato e penso que são dois problemas diferentes.
A questão aqui neste plenário é a da validade da legislação de proteção aos bens materiais. Eles não podem ser destruidos; eles podem ser tratados para serem conservados. Pode ser uma coisa desagradável conservar um estádio antigo, que já não serve tão bem, porque hoje em dia no mundo a FIFA está recomendando isso (a reforma).. É um fato. Portanto, essa é a questão técnica: podemos destruir bens tombados mesmo que seja parcialmente? Não podemos. Arquitetura, Engenheiro (dirigindo-se ao Secretário de Estado do Rio de Janeiro), não é fachada. Se conservarmos o lado de fora e destruirmos tudo dentro, o edifício não foi conservado.
Projeto é uma visão de conjunto. Não dá para aceitar. Talvez isso não lhe diga respeito. Tenho que fazer a ressalva: o seu papel social é outro. Aqui Vossa Senhoria é responsável por uma obra pública, um conjunto de obras públicas. Mas aqui, neste plenário, nós somos responsáveis por esse principio: obras tombadas não podem ser descaracterizadas. E aqui está escrito que eu disse isso, escrevi isso e este Conselho aprovou: o Maracanã não pode ser descaracterizado. Então, fico estarrecido que alguém use essa minha frase para descaracterizar o Maracanã. É inaceitável. Gostaria só dizer palavras agradáveis sobre isso; gostaria de ser simpático em relação a isso. Mas, infelizmente, eu estou num papel desagradável sendo um Relator, defendendo os princípios, sendo provavelmente hoje, aqui, o de mais idade, e portanto portador de longa tradição de defender a tradição. Também, Engenheiro, não é verdade que não se possa restaurar as estruturas. Todas as pontes, todos os grandes viadutos e pontes de São Paulo estão sendo restaurados. Portanto seria possível restaurar o Maracanã. A razão política é outra: querem fazer uma obra, querem aproveitar esta obra para dela participar”.
Liberal de Castro, Conselheiro do IPHAN, arquiteto, Universidade Federal do Ceará:
“Não sou sentimental nem nostálgico, repito, mas é triste ver a destruição gratuita de documentos que retratam ou retrataram materialmente a História da Arquitetura Moderna Brasileira. E pior: tudo por imposição de um grupo de estrangeiros espertos, cujo objetivo é lucrar com a aplicação de
investimentos na ciranda financeira internacional.
Recentes declarações de um desses senhores dirigentes da FIFA, em entrevista concedida ao semanário brasileiro Época, deixam claro que aquela instituição somente respeita a opinião dos investidores. Se procederem do próprio país onde se organiza a Copa do Mundo, a FIFA aceita o que eles decidem.
Entretanto, como assegura aquele diretor financeiro, quando os investimentos procedem do exterior, ocorre o contrário, pois prevalece a opinião da entidade poderosa, com cínica e autoritária interferência na legislação e no cotidiano dos respectivos países, como foi o caso da União Sul Africana e parece ser o do Brasil. Em vista do que vem ocorrendo, vale concordar com o velho dito popular: o boi (a FIFA) sabe onde fura a cerca” …
Ítalo Campofiorito, Conselheiro do IPHAN, arquiteto, UFRJ, trabalhou na equipe de Oscar Niemeyer na construção de Brasília:
“O Maracanã foi tombado como bem material. Aliás, conheço poucas coisas mais materiais que o Maracanã, talvez os Andes, a Mantiqueira, alguma coisa assim, seja mais material que o Maracanã … Para mim, ele faz parte da paisagem urbana, física e cultural, do Rio. Paisagem urbana que entendemos como paisagem cultural, isto é paisagem feita pelo homem. O Maracanã, da mesma forma que o Cristo Redentor, cujo relatório de tombamento foi feito por mim, é um objeto emblemático.
Acho francamente que houve desleixo e distração de parte do responsável pelo encaminhamento desse ato”.
Ulpiano Bezerra de Menezes, Conselheiro do IPHAN, Historiador USP, Doutor em Arqueologia pela Sorbonne:
“Me sinto na obrigação de apontar dois gravíssimos desvios de conceito, escandalosamente inaceitáveis, principalmente por quem teria responsabilidade de ter um encaminhamento de outra natureza.
Em primeiro lugar, imaginar que o valor simbólico tem o efeito de desmaterialização; é exatamente o contrário que acontece. O valor simbólico, no limite, leva ao fetichismo; é só ver o que é o talismã. Não é possível que alguém com responsabilidade institucional seja capaz desse desvio
de conceito.
Em segundo lugar, e aí eu retomo o que disse o Conselheiro Ítalo Campofiorito, não há bem material tombado sem uma dimensão imaterial, não é possível que alguém que tenha responsabilidade institucional neste órgão ignore isto. Então, não estou discutindo a pertinência ou não de certas intervenções, estou simplesmente dizendo que é inaceitável que se possa usar esse tipo de argumentação num parecer institucional como esse da 6ª Superintendência”.
Aparte de Ícaro Moreno Júnior, Presidente Empresa de Obras Públicas – EMOP, um dos responsáveis pela obra do New Maracanã:
O senhor Ícaro Moreno pediu a palavra para a seguinte complementação:
“Conselheiro Nestor Goulart, eu só queria fazer uma colocação aqui sobre a questão dessa marquise. Foi feito um estudo, talvez não tenha sido feito no Brasil da forma como fizemos o estudo dela. De forma nenhuma queríamos demoli-la. O projeto já tinha sido aprovado, já tinha sido licitada aquela primeira
cobertura. De forma nenhuma queríamos demolir a marquise.”
O Conselheiro Nestor Goulart tomou a palavra para a seguinte observação: “Então poderiam reconstruí-la exatamente como ela era, conservando as partes que não estivessem estragadas, isso é restauro”.
Por favor, leia:
http://www.confluencias.uff.br/index.php/confluencias/article/download/237/83
Também apareço no Geraldinos, nariz de palhaço, mas sou ainda mais silencioso que você. Vou compartilhar seu texto, mas a ideia da reconstrução do Maracanã às custas deles é genial. É necessário realmente pensar a estratégia de divulgação disso para não morrer, como morreu minha ação no judiciário (e olha que ela era por causa da obra do Pan, que matou a geral…a da Copa matou o Maracanã todo).
Realmente um crime. Hoje o Maracanã está abandonado. Nem luz tem mais.
E impressiona, de fato, o silêncio da mídia. Especialmente a carioca.
A ideia é realmente muito boa, mas fico pensando se não vão arrumar algum jeito de meter a mão nessa obra de reconstrução. Desculpe, mas ando sem esperanças de melhoras.
Lúcio, deixo aqui o link do “Dossiê Maracanã” que você fez com a Gabi Moreira em 2013.
http://espn.uol.com.br/noticia/330860_dossie-maracana-superintendente-do-iphan-que-autorizou-bota-abaixo-do-maracana-e-funcionario-do-governo-do-estado
Acho que é uma boa você pôr no seu texto para mostrar às pessoas que não acompanharam em 2013.
Abraço
Diante da barbárie, felizmente uma constataçâo : ainda há homens lúcidos e comprometidos com a causa no jornalismo brsileiro!
Quem já foi, levado pelo pai, e entrou naquele corredor, e de repente começa a ver a grama verdinha e a torcida adversária do outro lado, e depois a sua torcida e uma multidão de gente , sabe a importância desse texto.
Quem foi pego no colo, pelo pai, pra ver o Junior cobrar falta em 92, sabe a importância desse texto.
Sou a favor da ideia: derrubem esse Maracanã e reconstruam o verdadeiro.
Meu voto num suposto plebiscito seria contra derrubar o atual.
Desde moleque aqui do outro lado da Dutra eu sempre dizia: “assim como, para um muçulmano, é preciso ir a Meca ao menos uma vez na vida, para quem ama futebol é preciso ir ao Maracanã uma vez na vida”.
Por contingências, perdi a melhor oportunidade de estrear no Maracanã no Brasileiro de 1998, naquela épica vitória por 3×2 da minha Portuguesa (outra vilipendiada por facínoras) sobre o Flamengo, o célebre jogo da devolução do dinheiro do ingresso pelo Kleber Leite. Minha estréia lá foi só 10 anos depois, vendo a minha Lusa numa derrota pro Fluminense (de más lembranças) no Brasileirão. Era já o “Maracanã do Pan”, que também já era – e acho que ainda é – uma tremenda caixa-preta, relegada ao mais completo esquecimento, sobretudo por todo o crime que você bem relata no New Maracanã.
Voltei ao Maracanã 5 anos depois, na Copa das Confederações, já no tal “New Maracanã”. No Espanha 10×0 Taiti querido já havia estranhado demais ao não reconhecer direito de onde estava o local de visitantes no qual estive em 2008 (ali onde era a geral, onde mesmo com cadeiras assisti ao jogo em pé e saí correndo pelo corredor da beira da mureta comemorando nosso gol). Algo não condizia. Na final Brasil 3×0 Espanha, veio o melhor entendimento dessa sensação estranha quando outro amigo de jornadas lusitanas, que já tinha visto nossa Lusa no Maraca original e do Pan, ao entrar no New Maracanã, logo me disse exatamente o mesmo termo que você usou: “porra, tá parecendo um mega ginásio, mega Ibirapuera”. Talvez agora, nesse mega ginásio do Maracanazão, calhasse melhor o mítico jogo de vôlei Brasil x URSS loucamente promovido pelo saudoso Bolacha Luciano do Valle. Com os bobos amarelos e seus tacapes infláveis patrocinados por certo banco estatal amarelo, aquele mesmo envolvido na trama bem delineada por ti no Dossiê Vôlei.
Desculpe-me por essas longas reminiscências da minha parca relação com o Maracanã, mas é forma de sustentar meu apreço por sua idéia de reconstrução/reparação do estádio original. Quem sabe preencheria a minha lacuna de não ter ido no templo original, mas só nas versões gestadas por engravatados que nunca botaram pés e bundas no cimento de uma boa arquibancada. Seria ótima punição a quem cometeu esse crime. Porém, infelizmente deve ficar só na quimera, uma vez que ninguém faturaria algum e, neste país de canalhas que o Brasil (e o brasileiro) cada vez mais se assume que é, as coisas só andam quando rende algum para os apaniguados do rei de plantão. Como diz um amigo, “tire-me tudo, menos a minha ilusão”. Pena que o Brasil e o brasileiro atual já calcinaram qualquer ilusão.
Mas mesmo assim, saiba que tens meu apoio que de nada vale a não ser o moral. Abraços e parabéns pelo artigo.
O que vemos na destruição do Maracanã, nada mais é do que o curso natural do Liberalismo econômico na sociedade. Após se apossar das coisas que têm relação direta com o mercado financeiro ele invade as festas populares e os espaços de cultura e lazer, dando a eles mero sentido mercadológico. O texto guarda em si uma crença nas instituições e no voto do povo para “reformar” algo que está sustentado por algo muito maior que é o sistema político/econômico em que estamos abarcados.
Sem contar que o povo brasileiro comprou fortemente a ideia dos estádios modernizados (arenas) e incorporou um fetiche pelo conforto proporcionado por elas.
Lúcio, Maraca é fonte de riqueza e desvio das oligarquias aristocráticas dos nobres usurpadores cariocas. Foi reformado total ou parcialmente, em cima de tragédias ou eventos “especiais” em 89/92/93/98/99/00/05/06/07/10/11/12/13/16
Alguém deveria fazer uma reportagem recapitulando todas essas reformas e quanto foi gasto em 27 anos. Mas sei que o Maracanã ficou fechado em torno de 11 a 12 anos nesse período.
Por essas e outras, hoje, mesmo apaixonado pelo Maracanã aonde fui mais de 300x (tenho 36 anos), reconheço que o Flamengo não pode continuar refém e trem-pagador de tanto crime lesa-pátria e oportunismo de ricaços mal-aventurados. É hora do Flamengo abandonar o estádio e partir para sua casa própria, um estádio pra 50 mil pessoas onde for possível, mas que seja próximo de metrô/trem e com espaço suficiente.
Um abraço!
Parabéns Lúcio de Castro.A destruição de nosso patrimônio, em todos os lugares, é ato de bárbaros.
Sérgio Cabral no RJ, mas não esqueçamos de seus parceiros de Brasília.
Lei Geral da Copa aprovada, com grande apoio do governo federal e do congresso da época.
Todo poder à FIFA e à Odebrecht.
É com dor no coração que penso que o Maracanã chegou a seu fim. Triste vê-lo definhando dessa forma. Também vejo a demolição como única saída mesmo. A idéia de refazer seu desenho original é ótima mas vivemos num país muito diferente do que era em 1950, os clubes vivem outro momento, o Rio e a sociedade vivem outro momento. Fora que uma nova obra de grandes proporções é um prato cheio para novas licitações e políticos golpistas se aproveitando da letargia e da conivência de grande parte da imprensa.
Enfim, é duro falar isso mas deveriam transformar a área que é o Maracanã numa grande área social esportiva. Com campos, quadras, professores e foco na população da área onde eles possam praticar algum esporte. Um espaço popular, é claro. Logicamente deve haver um memorial para que não se esqueça que ali existiu o maior templo do futebol mundial.
Logicamente isso não acontecerá. Mas o templo já foi profanado e não vejo um futuro brilhante para ele.
Lindo sonho!
Meus parabéns Lúcio, pelo belo trabalho e pelo ótimo profissional que você é. SRN
Engraçado é que NESSES DESSES defensores da HISTÓRIA imprimiram esforços mínimos para evitar esse crime. Agora aparecem vários pareceres que não servem para PORRA NENHUMA. Revoltado (muito puto da vida) estou eu, como torcedor do original Estádio Jornalista Mário Filho , o meu, o nosso Maracanã, o Maior do Mundo, tal como dizia o imortal locutor Jorge Cury. Onde estavam estes que não denunciaram, PREVIAMENTE, e não vieram a público. A meu modesto modo de ver, todos foram coniventes, no mínimo pela OMISSÃO, pois poderiam (e deveriam) DENUNCIAR, PREVIAMENTE, OS CO-RESPONSÁVEIS PELA ATROCIDADE À CULTURA E À MEMÓRIA MUNDIAL a fim de impedir essa COVARDIA. Esse CRIME foi evitável SIM. E o pior e mais triste: DANO IRREVERSÍVEL !!!!!!!!!
Engraçado é que NENHUM DESSES defensores da HISTÓRIA imprimiram esforços mínimos para evitar esse crime. Agora aparecem vários pareceres que não servem para PORRA NENHUMA. Revoltado (muito puto da vida) estou eu, como torcedor do original Estádio Jornalista Mário Filho , o meu, o nosso Maracanã, o Maior do Mundo, tal como dizia o imortal locutor Jorge Cury. Onde estavam estes que não denunciaram, PREVIAMENTE, e não vieram a público ? A meu modesto modo de ver, todos foram coniventes, no mínimo pela OMISSÃO, pois poderiam (e deveriam) DENUNCIAR, PREVIAMENTE, OS CO-RESPONSÁVEIS PELA ATROCIDADE À CULTURA E À MEMÓRIA MUNDIAL a fim de impedir essa COVARDIA. Esse CRIME foi evitável SIM. E o pior e mais triste: DANO IRREVERSÍVEL !!!!!!!!!
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