Documento do Itamaraty fala em calote da CBF em hotel

No meio do caminho do penta tem um calote. É o que diz um documento do Ministério das Relações Exteriores.
Marcos, Cafu, Edilson, Vampeta, Juan e Cia, representantes da “Família Scolari” na ocasião, não tem culpa. Saíram pela porta da frente do hotel em Santa Cruz de La Sierra sem imaginar que, de acordo com a peça do Itamaraty, a CBF e a Planeta Brasil não honrariam o pernoite em 6 de novembro de 2001, escala de aclimatação tentando minimizar os efeitos da altitude de La Paz, onde no dia seguinte perderiam por 3 x 1 para a Bolívia, penúltimo jogo das eliminatórias do Mundial de 2002. A derrota adiou a classificação para o último jogo, contra a Venezuela, em São Luís.
Relatório da CPI do Futebol: “Empresa compõe os núcleos financeiro e econômico do grupo criminoso que se apropriou da CBF”Oito meses depois a direção do House Inn ainda tentava o pagamento das despesas de US$ 8.576, 30, reajustados então para US$ 10.166,49, como está no documento obtido pela reportagem através da Lei de Acesso à Informação. De acordo com a apelação para a embaixada brasileira em La Paz, as reservas para os dias 6, 7 e 8 “foram efetuadas pela Planeta Brasil, que se apresentou como agência oficial de viagens da Confederação Brasileira de Futebol – CBF, (informação que teria sido confirmada ao hotel, posteriormente, por representantes da CBF)”, mostra o documento oficial do governo brasileiro, assinado pelo então embaixador brasileiro em La Paz, Stelio Marcos Amarante.
Procurada pela reportagem através da assessoria de imprensa, a Planeta Brasil desconhece a dívida apontada pelo documento oficial do Itamaraty. “O Grupo Águia e sua empresa Planeta Brasil desconhecem a existência do débito com o hotel House Inn, de Santa Cruz de La Sierra, na Bolivia. Nestes últimos 13 anos, a Planeta Brasil nunca recebeu qualquer tipo de cobrança relativa a este valor do referido hotel. Nossa equipe entrou em contato com a administração do hotel House Inn que confirmou a inexistência destas despesas em nome da Planeta Brasil”. Diante da resposta, a reportagem tentou confirmar com o hotel boliviano e obteve resposta que não confirma o débito nem a inexistência do mesmo. “Lamentavelmente não podemos colaborar com esta situação porque não contamos com nenhuma documentação da administração anterior”, afirma a gerência. O hotel mudou de mãos em 2011.
Em virtude da resposta, novamente tentou-se ouvir a Planeta Futebol. Não existindo a possibilidade de confirmação ou do contrário pelo hotel, solicitou-se a possibilidade da agência ter e apresentar os recibos de quitação, obtendo como resposta: “Por favor, considere como final a resposta que enviamos”. Procurado pela reportagem, o Itamaraty, através da assessoria de comunicação, afirmou não ter outro documento sobre o tema além do que reclama o pagamento. Seja de quitação ou de permanência da dívida. A reportagem também tentou ouvir a CBF sobre o tema em diferentes ocasiões, já que a mesma foi a destinatária das correspondências de cobrança mas não obteve resposta.
A Planeta Brasil é a agência de Wagner Abrahão, parceiro dileto de Ricardo Teixeira nos negócios com a CBF, e parte do Grupo Águia, que atravessou a gestão do cartola tendo a chancela de parceiro da entidade e explorando os pacotes de viagem, ingressos e hospitality nos Mundiais, além de fazer todas as viagens da seleção brasileira e dos clubes das séries B e C do campeonato brasileiro.
Em 1998, Abrahão foi preso na França, durante o Mundial, por não honrar os ingressos comprados por torcedores. Na ocasião, teve que pagar uma multa para deixar a França. Também por ocasião da Copa da Alemanha, em 2006, Abrahão foi denunciado (e posteriormente absolvido pela justiça) pelo Ministério Público Federal por realizar vendas casadas de ingressos para os jogos e pacotes turísticos. Antes disso, em 2000, seu grupo empresarial foi investigado pela CPI da Nike pelos quase 32 milhões de reais recebidos da CBF entre 1998 e 2000. De acordo com o relatório, a agência do grupo que operava para a CBF teria montado esquema de lavagem de dinheiro por meio de superfaturamento de passagens e diárias de hotéis. A investigação não foi adiante.
Na Copa de 2014, realizada no Brasil, os benefícios de Abrahão também não foram pequenos. O direito de comercialização dos ingressos vips e 210 mil pacotes de hospitalidade, estimados em R$ 1 bilhão, foram divididos entre Abrahão e J. Hawilla, da Traffic, hoje réu confesso no escândalo em que a Fifa foi denunciada nos Estados Unidos.
Entre os negócios de Abrahão e dirigentes da CBF também estão imóveis com transações nebulosas.
Em 2009, Ricardo Teixeira e o dono das empresas de turismo negociaram cobertura de luxo no Rio, com o cartola beneficiado em preço muito abaixo de mercado. E este ano, conforme reportagem de Sérgio Rangel, publicada na Folha de São Paulo, Abrahão seguiu tendo predileção por transações imobiliárias com mandatários da CBF, não importando o ocupante do cargo. Desta vez, o beneficiário foi o atual presidente Marco Polo del Nero, que negociou cobertura de luxo na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Pelas idas e vindas da transação, advogados ouvidos pela reportagem da Folha classificaram o negócio como “atípico e podendo ter sido feito para fraudar o fisco”.
Na atual CPI do Futebol, presidida pelo senador Romário, Wagner Abrahão teve o sigilo bancário quebrado. O “relatório paralelo”, apresentado por Romário e pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede- AP), em contraposição ao texto oficial da comissão, de autoria do relator Romero Jucá, (PMDB-RR), considerado como “chapa-branca” por Romário e Randolfe, aponta que o Grupo Águia, de Wagner Abrahão, “sem dúvida compõe os núcleos financeiro e econômico do grupo criminoso que se apropriou da CBF”.
Parabéns Lúcio pela reportagem…
Fico abismado de como esse país tem dinheiro…Meu Deus…Quanta corrupção.
Precisamos de mais Lúcio de Castro e menos PIG. Parabéns pelo trabalho!