Ah, se a Madame abrir a boca… Como a “delação-magoada” pode salvar o esporte
Um dos grandes mestres do jornalismo brasileiro, multipremiado repórter, com quem divido muitas das angústias do ofício e a quem recorro muitas vezes para compartilhar eventuais dúvidas sobre reportagens e procedimentos é fascinado por ex-mulheres. Poucas pessoas são donas de um cartel de relacionamentos com ex-mulheres (de terceiros) assim tão rico. Calma, gente…Sem julgamentos apressados, por favor. É realmente no melhor sentido profissional. Relações absolutamente profissionais. Entendeu como poucos um dos mandamentos básicos que todo foca deve saber: uma ex-mulher de um desses gângsteres que abundam por aí é uma caixa-preta por vezes maior do que qualquer arquivo de documentos. Fonte mais rica do que qualquer delator premiado. É a delação-magoada.
A regra é muito simples: se por anos a fio ela dividiu os segredos de alcova com o mafioso ao terminar uma relação, ou ainda, ao descobrir eventual pulada de muro do elemento, a antiga cúmplice passa a ser um explosivo pote até aqui de mágoa. E aí a regra é mais simples ainda: por normalmente não ser muito afeita aos bons costumes, já que compactuava e se beneficiava do malfeito, a tal ex aponta dois caminhos tão óbvios como únicos: ou o ladravaz dá o tão conhecido “cala boca” ou verá a caixa-preta impiedosamente aberta. E, nesse caso, não precisa ser para a Polícia Federal ou ao Ministério Público. Basta um cafezinho com um repórter. E aí entra esse amigo aqui referido.
Dia desses, um conhecido servidor público, investigador de mão cheia, sabendo que o repórter em questão é um grande amigo, me fez um quase desabafo: “O sujeito tem uma legião de ex-mulheres delatoras como fonte. Acaba sabendo as coisas antes da gente”.
A história, por aqui e no mundo, está repleta de exemplos de ex-mulheres que fizerem o mundo desabar ao abrir a boca. Pois muito bem: por muitas vezes falamos aqui e outros lugares que nada é tão impune como o esporte brasileiro. Cartolas corruptos vivem por aí, imunes a investigações, com prestações de contas fajutas e verbas públicas milionárias a encher seus cofres. De tal forma que só mesmo a explosão (desse algo que pode acontecer em breve) parece poder mudar tal quadro.
Quem acompanha este autor sabe a absoluta ojeriza que esta humilde agência tem por publicar algo sobre vida privada. O desprezo por quem pratica esse tipo de jornalismo é tão grande que é de lavra deste aqui o termo “jornalismo-manja” para classificar quem envereda por aí. No entanto, a dimensão do roubo do dinheiro público muda este quadro e torna o caso de interesse nacional. E, se vier a abrir a boca, público. Por envolver dinheiro público. E o caso em questão, que anda pululando por aí, é de conhecida madame, desportiva primeira-dama, que entrou por agora para esse temido time das ex. E, pelo que se fala, o imenso barraco e a ameaça de botar a boca no mundo anda saindo caro demais ao capo. E que o silêncio anda saindo bem caro. Uma mansão já foi. Madame tá enfiando a faca, diria o populacho.
Força, Madame. Sai das sombras! A Prada da terceira geração já tá garantida (fruto do meu, do seu, do nosso din-din e suor). Você consegue! Arromba essa porta, bota a boca no mundo e salva o esporte brasileiro! E ainda vai dar algum sentido a existência tão fútil. Ah, se ela falar, se ela falar…A órbita particular do caso não interessa aqui. Mas o conteúdo da eventual delação-magoada da Madame interessa, e muito. E virou frisson tão grande que corre entre as mesas cariocas. De tal maneira que virou uma adaptação do clássico “Chega de Saudade” dia desses no templo maior do samba, aquele comandado pelo brasileiro maior Alfredinho (e mais não entrego sobre o local porque, afinal, templos sagrados, sagrados são). A turma de quinta-feira, que faz o melhor samba do mundo, com seus virtuosos Pratinha Sete Cordas, Maestro Massunaga, Manu da Cuíca e Marceuzinho de Morro Agudo, além do musicalmente nem tão virtuoso assim Cid B. de Uma Corda Só, está musicando o tema, ao tom da prece do maestro soberano. Tudo para que a Madame entregue. Força, Madame. A Prada da terceira geração já tá garantida, você consegue. Arromba essa porta, bota a boca no mundo e salva o esporte brasileiro! Ah, se ela falar, se ela falar…
Chega de Silêncio (Après “Chega de Saudade”)
Vai, minha justiça
E diz a ela que sem abrir não pode ser
Diz lhe numa prece
Que ela delate
Porque os atletas não podem mais sofrer
Chega da impunidade
A realidade é que com ele
Não há cortada, não há braçada,
É só ele enriquecendo,
Só sai dindin,
Só sai dindin…
Mas se ela falar
Se ela falar
Que coisa linda,
Que coisa louca
Pois há menos atletas a nadar no mar
Do que o dinheirinho que o ministério botou na sua conta
Dentro dos seus bolsos
Hão de ser milhões de reais,
Surrupiados assim, desviados assim, roubados assim,
Que eram pra medalhas e recordes sem ter fim,
Que é pra acabar com esse negócio
de você viver sem entregar pra mim
Não quero mais esse negócio
Da verba longe de mim
Vamos deixar esse negócio
De você sumir com tudo assim
Nossa, cara, que história! Ou como diria um brasileiro em Miami, “Nuss, man, que história!”. Mas será que ela não quer apenas fazer valer o direito à metade do butim? O tempo dirá.
É, ex-mulher é uma bomba. Sempre lembro do estrago da Niceia Pitta. Aí, comecei a ler o brilhante texto e veio desconfiança de um nome. E não é que o “tio Google”, provocado, confirmou logo de cara com ajuda do “tio Wiki”? hehehe… Se for mesmo ela, “coleguinha” que é, seria nitroglicerina pura se abrir a boca. Aí queria ver se o teflon que reveste o ex daria conta de nada grudar nele, hehe… e a versão da música é fantástica…
Simplesmente espetacular!!!!
Até a musiquinha eu achava que era a ex do Laércio, mas pensando bem ela nunca foi primeira-dama, pois não estava ao seu lado enquanto ele era governador, e nem “desportiva”, estava mais para “cabo eleitoral de ocasião”. Desse bafão carioca eu não estava sabendo, pra ver como Lúcio de Castro também é cultura popular!
Quando eu li, eu fiquei desconfiada de quem era. Assim como um dos leitores, fiz uma busca no “Tio Google” para confirmar minha suspeita.