Que mulher da porra!
Aquele projeto que nunca foi adiante, vai e volta no compasso das nossas inquietudes, que mais voltam do que vão… Segue de pé, guardado pra um dia que não sei quando…
O velho sonho de dias melhores, o velho projeto infantil de um mundo com mais igualdade, mais justiça social, a “fome de pão e de beleza” sempre, o sonho de mudar o mundo, o sonho…
A velha frase de Galeano que ainda está na parede dando sentido para a vida: “Não vale a pena viver para ganhar, vale a pena viver para seguir tua consciência”. Embalando as derrotas tão Darcy Ribeiro, de todos os dias, já tão citadas na apresentação dessa Agência.
As derrotas nossas de cada dia. A repulsa por um golpe que um dia teremos toda clareza, vai levar boa parte de nossas vidas…Essa repulsa que não vai passar nunca, da crença novamente tão Darcy de um país que “seria a nova Roma”, destroçado nos projetos pessoais de escroques desqualificados, preconceituosos, misóginos, elitistas. Dos Temer, Cunhas, Jucás e Fiesps que não nos representam negros, cafuzos, mulatos, mamelucos, homens, mulheres, gays, trans e quem de nós mais chegar diante de um espelho turvado por uma imprensa escrota e vil.
Mas acima do espelho, de novo a frase de Galeano, foda-se a derrota nossa de cada dia. Vale a pena viver para seguir a tua consciência e pronto. E, como já disse aqui também, no fim de tudo, olhar os teus e dizer “valeu a pena”.
Começar tudo de novo, subir a montanha, seguir na luta. Usar e ter a única arma que te cabe, o ofício do qual te querem banir e baniram. Mas não comemorem ainda senhores de la prensa, “querrán matarlo y no podrán matarlo”, (Alejandro Romualdo, poeta).
Lembrar todos os dias da voz do pai dizendo que mais vale carregar cimento no cais do porto do que entregar a única herança, a honra dos teus, a alma. Se negar a vencer por vencer e preferir perder “pra seguir tua consciência”.
E de repente, mesmo que tudo diga não, reencontrar aquela alegria infantil em estar atrás de uma grande história. Dar voz ao mais profundo da alma, se alimentar a cada dia do que mais gosta, buscar histórias, estar atrás de histórias. Que no fundo, é uma coisa só: gostar de gente.
Sentar no samba de quinta, pedir a benção ao Alfredinho, e tirar do baú o velho plano com o Marceu. Exatamente como há 20 anos, naquela noite que corremos para fechar o projeto até meia-noite e essa meia-noite nunca passou! E já que nunca decidimos a briga fraternal sobre quem ia fazer o capítulo do Zico no livro dos onze mais do Flamengo, vamos tocar aquele outro projeto. Entender que tão bom como o projeto pronto é discutir por anos a fio sem concluir quem serão as dez maiores mulheres da história do Brasil. A emoção da homenagem para as mulheres, as grandes mulheres que fizeram nossa história e nossas vidas, em nova discussão que nunca acaba e vai seguir quando baixar a porta e a gente tiver ajudado a recolher as cadeiras. Na última vez tínhamos fechado a lista das 10 maiores e você apareceu com mais 15 imprescindíveis. Sem as quais era impossível fazer. E desandou tudo de novo.
Acho que paramos em Dandara. Palmares revivido nas nossas páginas que nunca saíram. Vamos falar por esses dias, camarada, os nomes tão me fugindo a memória. Acho que tinha Zuzu Angel. E tinha a Marta. Craque. Gênia. Sem mais. Alguns gostando ou não tinha a Dilma no nosso livro, aquela foto altiva diante dos algozes no tribunal da ditadura atualizada décadas depois na foto do congresso diante de algozes tão sujos quanto. Tinha Clementina, benção Quelé, segue valendo. Acho que forçamos uma barra pra tornar Olga brasileira só pra ter Olga. Quem há de contestar? E aí o Neném vai nos pedir licença pra sugerir mais uma e vamos dizer que foi aceita, já que pedido dele não se nega. Tou esquecendo de quem, camarada? Tem mais algumas aí…
Estou certo de que batemos o martelo de que a maior delas, a maior de todos os tempos de nossa história, (e todos gostam mesmo disso, né?,“a maior…”), pois bem, a maior foi Chiquinha Gonzaga. A mulher que quebrou tudo, gênia da raça, avant la lettre é pouco pra ela, uma trincheira não bastava, lutou contra a escravidão, lutou pelas mulheres, contra o preconceito, lutou pra ser feliz, que mulher da porra. E será que paramos porque, assim como em Zico, de novo começamos a discutir quem ia fazer o capítulo da Chiquinha? Parou por isso ou porque lá dentro queremos mesmo é seguir essa resenha, seguir nos sonhos, nos projetos que nos alimentam e amenizam tudo isso?
Vou confessar bem baixinho, juro que não foi cafajestada… Se me lembro, acho que desviei um pouco pra falar algo que não era do projeto, falamos um pouco da mais linda. São tantas, claro que não chegamos a qualquer conclusão, mas lembro que falamos tanto da expressão de Maria Thereza Goulart imortalizada com o comício da Central a emoldurar uma beleza luminosa e serena, que era algo tão inacreditável…Mas logo voltamos pras maiores, que afinal, lindas.
Acho que a gente tem que incluir a Joanna Maranhão. E acho que vamos falar também: “que mulher da porra”Tou com uma ideia aqui, te falo na quinta, aparece lá. Acho que vai gostar. Talvez seja exagero entusiasmado pelos últimos dias, mas creio mesmo que vai comprar. Acho que a gente tem que incluir a Joanna Maranhão. E acho que vamos falar também: “que mulher da porra”.
Acho que vamos concordar que ela tem caixa pra estar no meio dessas aí. E vamos nos permitir até o chavão de chamá-la de “Mulher-Coragem”, salvo encontrarmos definição melhor. A mulher que teve a coragem de encarar os demônios do abuso ainda criança e botar a boca no mundo, a mulher que disse não desde sempre aos cartolas, a mulher que encarou os bandidos do seu próprio meio e gritou na cara do colega medalhista-amigo-do-cartola-
E sei que vamos concordar que ela tem que estar. Mas aí você vai me lembrar que outras do esporte e de antes dela tem que entrar pelas mesmas razões, pelas mesmas transgressões. E vai falar na Jackie Silva, na Isabel do vôlei. E vou concordar e muito, que mulheres da porra também, mas vou argumentar que assim não há capítulo que baste. Como cortar essas duas?
E aí vamos começar tudo de novo. E você vai me avisar que outro dia lançaram um desses com as maiores mulheres da história do Brasil, e eu, muito mais desbocado e mal educado do que você, vou dizer que é uma merda e que não impede o nosso, e aí vamos rir e começar tudo de novo. E você vai dizer que não tem como dormir se entrar num projeto desses sem botar o Janjão na parada e vou dizer que claro, jamais sem o Janjão. E eu vou pedir para dedicarmos ao Vitu, por essa saudade que nunca vai passar e só aumenta a cada dia. E que tudo o que escrevo e faço tem o Vitu nos meus pensamentos e esse não será diferente. E você vai me emocionar com suas palavras sobre o Vitu, de quem gostava tanto também. E vamos incluir mais uns três ou quatro amigos de fé, quem sabe cinco, pra escrever com a gente, porque afinal a graça do jogo é todo mundo jogar. E vamos concluir que então não vamos ganhar nenhum dinheiro com essa cabeçada toda. E então vamos rir porque afinal nunca soubemos mesmo ganhar dinheiro…Mas sempre vamos rir, sempre saberemos ir em frente com um pouco de sonho e de luz.
E nosso livro nunca vai sair. E terá sido apenas mais uma derrota. Mas uma derrota que nos alimentou 20 anos de sonho, de conversa, de bem querer, de bons copos e de bons amigos. E terá valido muito mais do que quem nos ganhou.
Lúcio, Lúcio… logo cedo emocionando o marmanjo aqui. Que vontade de estar aí vivendo esse teu Rio particular e afetivo. Que nunca será meu mas talvez eu tenha que ficar por aqui mesmo nas trincheiras dessas Minas Gerais, com as mesmas derrotas que são na verdade, nossas vitórias. Te admiro e um dia te encontro e te dou um abraço.
Querido Lúcio, parabéns por mais um texto da porra! Abraço
Chico Lins
sempre juntos, meu irmão! belo texto, belas lembranças!
Que maravilha, meu irmãozinho. Se não me chamar pra qualquer coisa, eu quebro tudo e vou encher a minha cara e a paciência do Marceu.
Texto irretocável que uma cidadã no sentido completo da palavra já merecia há muito tempo! Fico emocionado, pois sou completamente apaixonado pela PESSOA, pela CIDADÃ Joanna Maranhão! Mulher de uma simplicidade e FIRMEZA de caráter admiráveis. Parabéns Lucio, mais uma vez, só pra variar…rs.
Texto lindo. Chorei sem peias
Lúcio querido, outro dia me perguntaram pq fico tanto no celular. Nunca saberão o prazer de ler seus textos que me fazem sentir acompanhada nesse mundo tão cinzento que vivemos.
Sou sua fã, Lúcio! Escreva sempre! E como sou admiradora apaixonada pela Joana Maranhão…. eita gente linda da porra!
Obra prima!! Parabéns!!
Que texto! ❤
Perfeito! 👏👏👏👏
Que texto maravilhoso, as palavras, escolhidas com precisão poética, trazem ao nosso entendimento o valor das derrotas nas grandes causas.
parabéns, lucio! belo texto!
Tenho lembrado bastante dos teus textos e te elogiado bastante, tanto que ja fico ate meio constrangido em dizer que você foi preciso de novo, haha. Mesmo assim, é uma felicidade e um alivio encontar vozes que se juntem as nossas, sonhos que se juntem aos nossos, lutas que se juntem as nossas
Maravilha Lúcio. A beleza torna a resistência menos enfadonha.
Mais uma vez parabéns Lúcio são textos assim que nos fazem procurar seguir em frente
Amei o site, estão de parabens!