Os segredos de Palocci: tentáculos do ex-ministro perto de fazer delação podem atingir o mundo olímpico
O encontro marcado que a Lava Jato tem com o esporte brasileiro pode chegar ao mundo olímpico. A eventual delação premiada de Antônio Palocci, ao que tudo indica cada dia mais próxima e que teria baterias voltadas prioritariamente para o funcionamento do mercado financeiro e do sistema bancário, tem elementos para jogar luz sobre este universo até aqui intocado na operação.
Um dos personagem desses bastidores financeiros mais próximos a Palocci é Edson Figueiredo Menezes, pouco conhecido do grande público, mas figura de destaque e poder em entidades com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e no Comitê Organizador Rio2016 (CoRio), ambos presididos por Carlos Arthur Nuzman. Beneficiário de um grande financiamento do BNDES ao Banco Prosper no período em que o ex-ministro comandava a pasta da Fazenda e era o todo-poderoso em Brasília. Outro personagem, ex-braço direito de Palocci, o jornalista Marcelo Amorim Netto, teve contrato de consultoria com o CoRio, sem licitação.
Além de ter presidido o Banco Prosper, Edson Menezes foi presidente da Bolsa de Valores do Rio. No COB foi Diretor Financeiro do Conselho Executivo e atualmente é diretor estatutário. No Comitê Organizador Rio-2016, tem posição ainda maior: a 1ª Vice-Presidência do Conselho Diretor, abaixo apenas de Nuzman. Nas prestações de contas do COB ao Ministério do Esporte relativas aos convênios anteriores a 2012, Edson Menezes assina os balancetes da entidade na condição de diretor financeiro. (Na foto acima, é o primeiro da esquerda para a direita, ao lado de Nuzman. Completam a foto Bernard Rajzman e Marcos Vinícius Freire).
Na época do escândalo do “Mensalão”, em alguns momentos, Edson Menezes chegou a estar no noticiário dos jornais. O banco por ele presidido vinha sendo beneficiado por generosos repasses por parte do BNDES. Os números chamavam a atenção. Antes disso, ainda entre 2001 e 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso, tais repasses chegaram a um incremento de 493%.
Posteriormente, no governo Lula, a relação seguiu azeitada e particularmente próxima com então Ministro da Fazenda, Antônio Palocci, quando os repasses chegaram a R$ 20,692 milhões somente de janeiro a julho de 2005, segundo reportagem publicada na Folha de São Paulo. Dois assessores do ministro foram contratados pelo banco. Ainda de acordo a Folha de São Paulo, em reportagem de 8 de novembro de 2005, a contratação dos dois pelo banco resolveu problemas para Palocci, já que os dois não haviam sido agraciados com cargos de destaque como pretendiam na administração federal e eram caixas-pretas no caso em que Waldomiro Diniz, assessor parlamentar de José Dirceu, aparece pedindo propinas ao bicheiro Carlinhos Cachoeira. Na ocasião, o banco se pronunciou afirmando que a contratação de ambos para consultoria não tinha qualquer relação com o ministro.
Edson Menezes foi também da diretoria do Banco Equity, incorporado ao Prosper em 2002, junto com Maurício Manfredi, que já foi membro da Assembleia Geral do COB e presidente da Confederação Brasileira de Hipismo (CBH) no biênio 2007 e 2008, em conturbada eleição. Também de acordo com diversas reportagens publicadas na época do escândalo do “Mensalão”, a chamada “Turma de Ribeirão Preto”, o núcleo em torno de Palocci, chegou a ficar perto de comprar o Equity. Marcelo Chebar, doleiro agora conhecido por sua atuação com o irmão Renato junto a Sérgio Cabral a partir de 2003, foi anteriromente diretor do Equity.
Em gravações realizadas a pedido do Ministério Público de São Paulo em 2004 e que foram para a CPI dos Bingos, ficaram registradas articulações entre os dois assessores para que Menezes e Palocci tivessem um encontro. As atribuições do dirigente no COB estavam atrapalhando o encontro, e os assessores reclamavam que “as coisas estavam paradas” em razão da estada de Menezes na Grécia por 40 dias. Em Atenas, Edson Menezes ocupou o cargo de “Subchefe de Missão” na delegação brasileira nas Olimpíadas de 2004.
Uma gravação do dia 8 de setembro registra a volta ao Brasil do banqueiro. “O Edson chegou da Grécia, ficou 40 dias, e algumas coisas ficaram truncadas”, conversam os assessores, que foram monitorados entre maio e setembro daquele ano. As Olimpíadas na Grécia foram entre os dias 13 e 29 de agosto de 2004. Em outro diálogo está dito que “o chefe quer falar direto com o Edson”. O encontro por fim aconteceu no dia 10 de outubro. Posteriormente, questionado sobre a razão do encontro, Palocci diria que recebeu Menezes no Ministério da Fazenda porque este comandava a Bolsa de Valores do Rio.
Em setembro de 2012, o Banco Central decretou a liquidação do Banco Prosper, além de tornar indisponíveis os bens dos administradores e ex-controladores da instituição. A liquidação ocorreu por “sucessivos prejuízos que vinham expondo seus credores a risco anormal, a deficiência patrimonial e a descumprimento de normas aplicáveis ao sistema financeiro”. Em janeiro de 2016 o Banco Central anunciou o fim da intervenção no banco, saindo assim o caso da esfera do banco e indo para a justiça.
Edson Menezes abriu uma offshore no Panamá em 5 de abril de 2013, a Remo Investments, como mostram documentos obtidos pela reportagemEdson Menezes abriu uma offshore no Panamá em 5 de abril de 2013, a Remo Investments, como mostram documentos obtidos pela reportagem. Ter uma offshore não é ilegal pela legislação brasileira, desde que declarada à Receita Federal, assim como seus bens e valores tributados. A Receita não responde a confirmações sobre uma empresa estar ou não declarada. A offshore panamenha foi aberta durante o período de intervenção do Banco Prosper.
Há um outro personagem muito próximo a Palocci cujo caminho se cruza com o CoRio. Marcelo Amorim Netto, que foi assessor especial de imprensa durante a passagem do ex-ministro na Fazenda e citado no escândalo do caseiro Francenildo Costa, que teve o sigilo bancário quebrado ilegalmente. Marcelo Amorim Netto era tratado na imprensa como sendo muito próximo a Palocci e de grande influência sobre o então ministro.
O jornalista tinha um contrato de consultoria, sem licitação, (028/2013) que durou durante o ano de 2013 com o CoRio. Uma espécie de lobista: o objeto era “consultoria e assessoria em relações institucionais, junto aos órgãos governamentais em Brasília”, no valor de R$ 838.551,60 (oitocentos e trinta e oito mil, quinhentos e cinquenta e um reais e sessenta centavos).
Reportagens publicadas neste site mostraram também que diversos contratos de fornecedores do CoRio, de altos valores e alguns com objetos muito parecidos entre eles, foram assinados com empresários investigados por serem do esquema do ex-governador Sérgio Cabral.
Outro Lado:
Edson Menezes/COB:
Em consulta anterior para reportagem anterior sobre a existência da offshore no Panamá, Edson Menezes afirmou, através da assessoria de imprensa do COB, que a Remo Investments está devidamente declarada em seu Imposto de Renda.
Em nova demanda enviada pela reportagem sobre as relações de Edson Menezes e do Banco Prosper com Palocci , a assessoria de imprensa do COB confirmou o recebimento mas não voltou a responder.
CoRio2016:
Já o CoRio2016, através da assessoria de imprensa, foi questionado sobre qual a razão para o contrato de consultoria com Marcelo Amorim Netto. Resposta:
“O primeiro contrato da MAM foi feito com dispensa de concorrência por ser um trabalho de confiança na montagem do relacionamento do comitê junto aos órgão governamentais em Brasília. A principal missão foi acompanhar a tramitação da Lei Olímpica no legislativo. Como você sabe a lei trata de todo arcabouço legal da montagem dos jogos inclusive as isenções fiscais. A MAM produzia também um clipping nacional bem detalhado e mais barato do que os clippings disponíveis no mercado incluído neste custo. Em dezembro de 2013, o Conselho não aprovou mais a dispensa de concorrência da MAN e o contrato foi encerrado”.
Marcelo Amorim Netto: A reportagem fez contato, sem sucesso.
Antônio Palocci: a reportagem tentou contato com a defesa do ex-ministro, sem êxito.
Caramba Lúcio,assim acaba antes de que eu me torne um Matusalém, mais uma das coisas estranhas que acontecem no esporte brasileiro, força parabéns siga em frente Bebeto de Freitas