“Polícia Federal: A Lei é Para Todos”- O que fazer com o filme agora?
Éconhecida a história do encontro entre o ex-premiê Zhou Enlai e Nixon no ano de 1972. Reza a lenda que o ex-premiê chinês foi perguntado sobre a Revolução Francesa (1789, portando quase dois séculos antes). Com toda milenar calma, afirmou que ainda era muito cedo para que se pudesse ter uma análise serena e por inteiro dos fatos.
Alguns anos depois, com tal versão tendo corrido o mundo e virado exemplo do que é a cultura oriental, apareceu um tradutor para dizer que não foi bem assim. Que na verdade Zhou Enlai falava dos protestos de maio de 1968 em Paris. Ora, a versão da revolução francesa é tão rica que deveriam nos deixar com ela. Mas ainda que valha a outra, de 1968, estamos falando de quatro anos para o referido 1972 da análise do comandante chinês. Quatro anos que ele considerava pouco para análise sem risco de cometer maiores erros e açodamentos.
Tudo isso me ocorre agora quando sabemos que a “Lei de Jucá” é mais viva do nunca e saiu dos subterrâneos de Brasília para abater-se sobre todas as instituições, com supremo, com tudo…Passou por Curitiba, deu uma volta em Minas, capital, passou no aeroporto de Cláudio, Brasília, e vai se espalhando.
Deu uma voltinha na lista tríplice da Procuradoria e finalmente chegou nas dependências da Polícia Federal. E o inimaginável aconteceu. Sabedores que as panelas são seletivas e nunca na história deste país soaram contra a corrupção e sim contra x ou y e que assim alguns tudo podem fazer que não há risco de revolta e protestos maiores, pasmem nobilíssimos, simplesmente extinguiram a Força Tarefa da Polícia Federal responsável pela Lava Jato. Se você andou em marte e não sabia, repito: quando o negócio começa a esquentar e a parecer que os maiores quadrilheiros entraram na teia e a brincadeira não era apenas para os suspeitos de sempre, mandaram avisar: “Cansamos desse jogo, não queremos mais brincar. Vamos sair do play”.
A tão ciosa instituição ia nos restituir a glória e cujos expoentes davam entrevista falando do timing para prender os outros, subitamente não vai mais brincar e nenhum deles achou estranho. E nenhuma panela bateu. Todos ao som de Paulinho da Viola, dizendo “que o pior aconteceu, pode guardar as panelas…”.
Vale a leitura da reportagem de “Lava Jato: desmonte para proteção”, no blog do grande repórter Marcelo Auler, onde ele transmite com riqueza de bastidores detalhes do que está acontecendo. Não aqueles bastidores boi com abóbora que a turma daquele jornal das 22h adora anunciar como quem anuncia a notícia que irá ganhar o próximo Pulitzer mas a montanha sempre acaba parindo um seletivo rato.
Ali está esmiuçado o desmonte com cara de a volta dos que não foram. De “Lei de Jucá”, a lei que mais funcionou na história desse país.
Deixamos abaixo algumas sugestões para o destino da fitaE é aí que me ocorre a lição de Zhou Enlai. O que farão com aquela fita que tá no forno, anunciada com estardalhaço para estreia em breve: “Polícia Federal: A Lei é Para Todos”. Uma ode a atuação da PF na Lava Jato, e que, ao que consta, obteve até imagens vazadas da condução coercitiva de Lula, que, também ao que parece, é o ponto alto do filme, algo como o clímax jamais visto, somente alcançado no cinema nacional por Nuno Leal em “O Homem de Itu” quando se animava e o mundo tremia.
Juro com sinceros lamentos de um amante das artes que me preocupei. O que farão com tanto trabalho, com dinheiro empatado, financiamentos?
A pressa foi inimiga. Quero e gostaria de crer que não por oportunismo, por algo comercial, de querer lançar um produto bem palatável nesse Brasil de panelas seletivas e que fosse ao encontro delas. Com super-heróis fardados de preto e vilões de vermelho. Mas como cometer erro tão banal, não esperar um pouco para entender o que se passava, o que estava acontecendo, digerir a “Lei de Jucá”, ver o que tava rolando…Mesmo sabendo que a arte e a ficção permitem delírios de toda sorte, mas como falar em “lei para todos” depois de Aécio leve e solto por aí? De Loures e tantos outros. E acima de tudo, do fim da Força Tarefa que inspira o filme. Pois esse é o ponto: e agora como fica esse filme, o que fazer com esse “a lei é para todos”?
Vale para tudo o que está sendo produzido sobre o tema Lava Jato, sobre os personagens do tema. Filmes, livros, documentários…Não é melhor esperar um pouquinho para entendermos direito o que tá acontecendo? Ainda que a “Lei de Jucá” seja tão clara, vale sempre a cautela.
Olhando a ficha, vejo que alguns dos atores, salvo engano, eram daquele curioso (e patético) bloco, o “Morobloco”, que foi as ruas pedir a saída de Dilma e, claro, a entrada de Temer e sua quadrilha. (Que nos poupem de dizer que não era pela entrada de Temer, afinal, a conta não fecha. Qualquer um em que o Lé casa com o Cré minimamente sabe que o golpe comandado por Cunha pelo qual engrossaram fileiras tinha como ato seguinte a chegada ao poder de Temer, Quadrilha, Jucá, Cunha, Geddel, Gato Angorá e Cia…)
Assim, é de se presumir que para alguns, veteranos de “Morobloco”, tendo ido para a rua pedir pela entrada de Temer, a autobiografia não chega a ser uma grande preocupação. Mas creio que a maioria ali do elenco não estava batendo panela junto a Cunha e nem com a camisa amarela fazendo coração com Jucá. Portanto, por esses, fica esse imensa preocupação: o que fazer agora disso tudo?
Leio que teve laboratório, se encontraram com Moro, analisaram o gestual, trocaram telefones, sessões de estudo na PF…E agora que acabou antes de começar? O que fazer disso tudo? Será que não poderiam fazer um laboratório com Jucá e acrescentar algumas cenas? Ou com Geddel na Papuda?
Deixamos abaixo algumas sugestões para o destino da fita:
– Enterrar em sarcófagos de cimento nas profundezas da terra como fizeram com os restos de Chernobyl.
– Botar em uma cápsula do tempo e deixar ordem para se abrir só daqui a 200 anos.
– Editar o que já está feito aproveitando algumas coisas e acrescentar no roteiro cenas do que veio depois. O filme passaria a se chamar “A Lei de Jucá”.
– Editar o que já está feito aproveitando algumas coisas e acrescentar no roteiro cenas de comédia rasgada. Poderia manter o nome com um sinal de ironia ao fim.
– Editar o que já está feito aproveitando algumas coisas e acrescentar no roteiro cenas picantes no nível de realismo do eterno clássico “Rebuceteio”, uma das grandes e maiores obras do cinema nacional. Passaria a se chamar “Suruba Federal – A Lei de Jucá é para todos”. Nesse caso, seriam acrescentados ao elenco Paulo Cesar Pereio, Rita Cadilac, Alexandre Frota (em ação com camisa do Morobloco), Carlo Mossy, entre outros. Com pré-estreia no Supremo e Gilmar Mendes como apresentador.
– Deixe sua sugestão.
A ideia de um Rebuceteio Reloaded me agrada. Fechar uma parceria com Brasileirinhas para dar uma incrementada no elenco. A qualidade das atuações iria subir.
Lucio, eu trabalhei no filme – e ainda trabalho – fazendo algumas ações. O filme cobre apenas a primeira metade das operações da Lava-Jato, e já está encaminhada a continuação.
Ele é quase um documental pautado sobre os documentos do inquérito, porém dramatizado para o cinema. Praticamente Baseado em Fatos Reais.
A função do filme é mostrar como chegou-se ao ex-presidente. Garanto que nada foi inventado, apenas o que está documentado em processo.
Se o processo é real ou não, outro assunto!
Grande abraço!
Este é o problema: tratar uma obra de ficção como “quase documental”. Muitos diretores como João Moreira Salles mostraram em seus documentários (por ex. Santiago, 2007) q é impossível um documentário ser 100% descritivo e realista pois sempre tem a visão do seu diretor ou o corte do editor que não são 100% neutros. Acho q Lula deveria ter sido condenado lá atrás no mensalão. Assim como o FHC pelos escândalos da releição e do filho extraconjugal, situação privada que em outros países é tratada como crime (o adultério) pois a autoridade pública fica sujeita a todo tipo de chantagem. Mas o ponto do Lúcio é que fatos contemporâneos só podem ser analisados e compreendidos historicamente com o decurso de anos ou décadas. Vamos supor q os inquéritos foram totalmente ditados nos diálogos do filme. Mesmo assim as autoridades produtoras do inquéritos não foram 100% neutras. É histórico no Brasil que a Lei não é para todos e o q acho que o Lúcio escreveu é como um filme produzido no atual ambiente de histeria coletiva acaba sendo influenciado pela visão dominante da mídia, pelas crises econômicas e de representatividade. E por isso o filme tende a ser um campeão de bilheteria e também um fiasco como retrato histórico como também foram Cidade de Deus e Tropa de Elite, segundo a opinião de alguns na platéia.
O incrível é que nesse momento há quem defenda os métodos utilizados pelo Moro onde foi escancarado toda a sua seletividade e parcialidade, não só dele é claro, mas de toda cúpula da PF e MPF.
Uns preferem a sentença do Dallangnol por ser mais conveniente com os seus sentimentos e ideais.
Eu prefiro acompanhar a posição do Dr.Dalmo Dallari a respeito desse tema, esse filme terá o mesmo destino de Moroe Dallangnol, o lixo da história.
O incrível é que nesse momento há quem defenda os métodos utilizados pelo Moro onde foi escancarada toda a sua seletividade e parcialidade, não só dele é claro, mas de toda cúpula da PF e MPF.
Uns preferem a sentença do Dallangnol por ser mais conveniente com os seus sentimentos e ideais.
Eu prefiro acompanhar a posição do Dr.Dalmo Dallari a respeito desse tema, esse filme terá o mesmo destino de Moro e Dallangnol, o lixo da história.
Cara, parabéns!