Nos salões do Laranjeiras: Cabral e Nuzman trataram sobre eleição com presidente da Namíbia. Voto do país está envolvido em escândalo
Nunca um simples voto indicou tantos caminhos possíveis de serem percorridos através de suas pegadas.
A decisão da Namíbia pode ser uma peça-chave na investigação sobre a escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. Na eleição realizada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 2 de outubro de 2009 em Copenhague, o país africano foi representado por Frank Frederics, envolvido em escândalo de propina em troca do apoio. Pouco tempo antes, em fevereiro, um importante capítulo para a conquista deste apoio foi escrito: no Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador do Rio, Sérgio Cabral, então ocupante da casa, e Carlos Arthur Nuzman, receberam Hifikepunye Pohamba, (presidente namíbio entre 2005 e 2015) para tratar sobre a candidatura.
O tema do encontro está em relatório da embaixada brasileira naquele país, obtido pela reportagem (ver documento abaixo) através da Lei de Acesso à Informação junto ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). De acordo com o que está descrito, em companhia de Nuzman (presidente do Comitê Olímpico Brasileiro e do Comitê Rio-2016), o ex-governador Sérgio Cabral, agora preso por corrupção, pediu o apoio ao namíbio.
Sete meses depois a Namíbia endossou a campanha carioca no colégio eleitoral do COI através de Frank Frederics. Que recebeu propina vinda de um amigo de Cabral para votar no Rio, de acordo com investigação do Ministério Público da França, que apura os fatos relativos ao pleito em colaboração internacional com a Força-Tarefa da Lava Jato do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ).
Amigo de Cabral é o elo fundamental do esquema de compra de votos Nas investigações, reveladas pelo jornal francês Le Monde, Frank Frederics, medalhista do atletismo e que até hoje consta na página do Comitê Olímpico da Namíbia como o representante do país no COI, foi apontado como tendo recebido um depósito de US$ 299,3 mil no dia da votação para cravar o Rio, em pagamento também feito através da empresa de Papa Diack para a Yemi Limited, empresa do namíbio situada nas Ilhas Seicheles. O esquema teve outra peça decisiva, de acordo com os franceses: o senegalês Lamine Diack, pai de Papa Diack e membro do COI.
O elo fundamental do esquema de compra dos votos é intimamente ligado a Sérgio Cabral, anfitrião do namíbio no Palácio Laranjeiras: Arthur Cesar de Menezes Soares Filho. Empresário com íntimas ligações ao político e integrante do primeiro círculo de relações do ex-governador na “República de Mangaratiba” e na “Turma do Guardanapo”. O “Rei Arthur”, como era chamado pelo amigo, foi quem realizou o pagamento de U$ 1,5 milhão para os Diack através da Matlock Capital Group. Detentor de diversos contratos com o estado na gestão de Cabral, o empresário também obteve contratos milionários na organização das Olimpíadas através de participações societárias em prestadores de serviço do Comitê Rio-2016, como mostrou reportagem da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo.
Na mesma viagem em que esteve com Cabral e Nuzman para tratar de apoio a candidatura carioca, Hifikepunye Pohamba manteve outros encontros com empresários e representantes de estatais brasileiras, além do então presidente Lula. Este encontro levou o governo da Namíbia a ser citado na Lava Jato, por e-mails de Marcelo Odebrecht interceptados pela Polícia Federal. Em conversas com executivos da empreiteira, em 2009, a respeito do projeto de construção de uma hidrelétrica naquele país, o ex-Ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, diz que “o PR fez o lobby”. As iniciais foram interpretadas pela Polícia Federal como “presidente da República”.
Em visita a Petrobras, o presidente da Namíbia foi recebido pelo presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli e pelo diretor da área internacional, Jorge Luiz Zelada, como mostra o documento do MRE. Ambos investigados pela Lava Jato.
Um outro escândalo relacionou Hifikepunye Pohamba a favores concedidos por países-sedes de Jogos Olímpicos. Em 2009, um tabloide namíbio de nome “O Informante” revelou que o presidente e nove autoridades receberam bolsas de estudo para que os filhos estudassem na China, que sediara a edição olímpica de 2008. A reportagem publicada na Agência Sportlight no último dia 22 mostrou que os 54 países africanos votaram em bloco na China.
A reportagem revelou ainda que os países africanos foram o alvo da ofensiva final de Carlos Arthur Nuzman e da candidatura brasileira, intensificada nos dois últimos meses em corpo a corpo e reuniões naquele continente. E com encontros no Mundial de Atletismo de Berlim, cujo anfitrião era Lamine Diack, naquele ano de 2009, um mês antes das eleições.
Nos encontros, representantes de comitês olímpicos africanos acenaram com o voto em bloco para o Rio dos países integrantes da Assembleia Geral da Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais da África (ANOCA), que reuniu-se em 6 de julho, na Nigéria.
A reportagem sobre a ofensiva nos votos africanos mostrou também que o período eleitoral da candidatura brasileira também registrou uma série de convites para membros dos países votantes virem ao Brasil.
Um novo documento obtido pela reportagem revela que em março de 2013, Joan Smit, secretária geral do Comitê Olímpico da Namíbia também veio ao Brasil como convidada. O documento é da embaixada do Brasil em Windhoek, capital da Namíbia, produzido em 14 de junho de 2013.
Outro lado:
A reportagem enviou questões ao Comitê Rio 2016 relativas ao encontro de Carlos Arthur Nuzman com Sérgio Cabral e o presidente da Namíbia, Hifikepunye Pohamba no Palácio Laranjeiras.
A reportagem enviou e-mail para Frank Frederics, sem resposta.
Comitê Rio-2016:
“O ex-governador recebeu o presidente Pohamba em um almoço oficial. O presidente namíbio vinha de Brasília onde tinha encontrado, em visita de estado, o ex-presidente Lula. No almoço do Rio, estavam secretários do governo Cabral, executivos da Campanha Rio-2016 e oficiais do governo da Namíbia. O então governador, o presidente do COB e o presidente da Namíbia, nunca estiveram juntos, à sós, para conversar, durante a visita”.
Bingo vc de novo parabéns
Como é que o Nuzman ainda tá solto?
Não só o Nuzman tá solto, mas Teixeira, Del Nero, Romero Jucá, Temer, etc, todos da mesma patota.
Mais uma excelente reportagem. Por mais utópico que pareça, estes canalhas cairão um a um!