“Operação Unfair Play” da Lava Jato está na casa de Nuzman, apontado como parte de esquema criminoso
Depois de três décadas no comando do esporte brasileiro, Carlos Arthur Nuzman foi alcançado pela justiça.
O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e Comitê Rio-2016 é alvo, neste exato momento, de um mandado de busca e apreensão em sua casa no Jardim Pernambuco, área de mansões do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, em ação conjunta da Polícia Federal e da Força Tarefa da Lava Jato do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ). Arthur Soares, o “Rei Arthur”, íntimo de Sérgio Cabral e empresário com diversos contratos durante o mandato do ex-governador no estado, também é parte da ação. É a compra de voto de um integrante do colégio eleitoral do Comitê Olímpico Internacional (COI) que em 2 de outubro de 2009 definiu o Rio como sede das Olimpíadas que une Nuzman e Arthur Soares na mesma investigação. Pelas regras olímpicas quebradas, a operação se chama “Unfair Play”. Na medida cautelar assinada pelo Juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal, Nuzman é apontado como uma das “pontas de um esquema criminoso”, com determinação de apreensão de passaporte. Fato que já o coloca em outro escândalo, já que no próximo dia 13 o COI se reúne em Lima para referendar Paris e Los Angeles como sedes de 2024 e 2028. Impedido de viajar, o anfitrião dos últimos jogos não estará presente por envolvimento na compra de votos, de acordo com a operação em curso.
Diversos agentes da Polícia Federal, acompanhados por procuradores do MPF-RJ revistam nesse momento a mansão de Nuzman com objetivo de apreender computadores, telefones e objetos de valor. O dirigente está intimado a comparecer em audiência na sede da Polícia Federal ainda hoje, às 15h. Caso não compareça, será levado coercitivamente. Já Arthur Soares tem sua prisão preventiva decretada, assim como Eliane Pereira Cavalcante, também alvo da operação de hoje, braço-direito do “Rei Arthur”. Os três terão objetos de valor apreendidos como garantia para eventual dano moral fixado em sentença. O dano moral deve-se ao estrago feito a imagem do país devido ao escândalo e está estabelecido em R$ 1.000.000.000,00 (Um bilhão de reais) entre o patrimônio dos três.
Ação é fruto de colaboração da Força-Tarefa da Lava Jato do MPF-RJ com o Ministério Público Financeiro da França A ação é fruto de colaboração da Força-Tarefa da Lava Jato do MPF-RJ, comandada por Eduardo El Hage e do Ministério Público Financeiro da França e de delações premiadas como a dos irmão Chebar. Através dessa cooperação, comprovou-se que “Rei Arthur” realizou pagamento de U$ 2 milhões para o senegalês Papa Diack, filho de Lamine Diack, presidente da Federação Internacional de Atletismo, eleitor da sede dos jogos, para determinar o próprio voto e influir em outros participantes do pleito. No dia 29 de setembro de 2009, três dias antes da eleição do COI, uma conta de Papa Diack recebeu uma transferência de U$ 2 milhões por parte da Matlock Capital Group Limited, empresa de Arthur Soares com inscrição nas Ilhas Virgens Britânicas, repassando propina que teria Sérgio Cabral como mandatário final para influir na escolha da sede olímpica.
A tarefa de garimpar esses votos e do contato com os integrantes do colégio eleitoral do COI, e principalmente o ataque aos votos dos 54 eleitores dos países africanos era de Carlos Arthur Nuzman, em uma série de viagens e visitas, como foi mostrado com exclusividade na Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo em diversas reportagens, com documentos que mostram essa movimentação. O site mostrou também que um mês antes da transferência para a conta do filho de Lamine Diack, uma comitiva brasileira formada por Carlos Arthur Nuzman, Sérgio Cabral e Eduardo Paes, entre outros, fez campanha e encontrou-se com o senegalês no Mundial de Atletismo de Berlim, em agosto de 2009.
Arthur Soares está na relação dos fornecedores do Comitê Rio-2016 através do “Consórcio Alimentar”, empresa que se formou para tal serviço e na qual o amigo de Cabral está representado em participação societária através da Prol Alimentos, que vem a ser um dos braços da Prol, como passou a se chamar a “Facility”, a empresa do amigo de Cabral cujos negócios com o governo estadual chegaram a R$ 2,8 bilhões, divididos em 57 contratos com 19 órgãos.
Carlos Arthur Nuzman assumiu o COB em 1995, depois de uma década de comando da CBV, prometendo transformar o Brasil em uma potência olímpica em 8 anos. Nesses 21 anos, o Brasil passou longe disso e não cumpriu nenhuma dessas metas esportivas, nem mesmo as relativas ao quadro de medalhas na edição caseira. Apesar de o volume de dinheiro que alimentou a entidade nessas duas décadas ter sido recorde. Dinheiro público em sua maior parte, vindo de convênios com o Ministério do Esporte e empresas estatais.
Em 2009, logo após a confirmação do Rio como sede olímpica, Nuzman passou a ser também presidente do Comitê Rio-2016, até então Comitê de Candidatura Rio-2016. O acúmulo entre o comando do comitê olímpico e o da organização dos jogos por parte de um mandatário foi algo inédito na história olímpica. A promessa de realização dos jogos apenas com dinheiro privado também não se cumpriu.
A despeito de toda enxurrada de dinheiro público na entidade comandada pelo dirigente, logo após o término, o próprio Nuzman reconheceu que o país tinha regredido para os níveis esportivos equivalentes aos de 1995, ano em que assumiu. Porém, sem assumir a responsabilidade por tal fato e sim debitando na conta do enxugamento de receitas.
Os mecanismos de fiscalização das verbas concedidas a entidades esportivas seguem questionadas por suas fragilidades. Outro ponto de questionamento repetido a Carlos Arthur Nuzman nessas duas décadas como mandatário, foi a relação íntima e próxima com uma agência de viagem, a Tamoyo, que manteve até ser vendida, logo após a escolha do Rio como sede, a exclusividade na venda de passagens para o COB e dos tíquetes olímpicos para pacotes de viagens. Com o surgimento da Lei Agnello/Piva, o volume de viagens para atletas pagas através de convênios com o Ministério Público cresceu em grande volume, constituindo a maior parte consumida da verba de 2% da loteria repassada ao COB. E em sua maioria, gasta nos contratos de parceria com a empresa preferida de Nuzman.