Depois das malas de dinheiro de Geddel e Nuzman, a vez de Ary Graça: delação fala em desvio do patrocínio para dirigente
Malas de dinheiro chegavam para Ary Graça. Dinheiro público, subtraído do Banco do Brasil. É o que está no processo de colaboração premiada de Marcos Valério.
Preso desde 2013 em Sete Lagoas (MG) e condenado a 37,5 anos por peculato, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e pelo crime contra o sistema financeiro, o principal personagem do escândalo que ficou conhecido como o “Mensalão Mineiro” revelou os detalhes da transação que, de acordo com seu relato, envolvia o ex-presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e diretores do banco que patrocina a modalidade. A delação já foi aceita pela Polícia Federal, como a reportagem confirmou.
São 60 anexos (o relato dos episódios das supostas irregularidades). Que demonstram como as agências de publicidade SMP&B e DNA foram usadas para pagamento de propinas para políticos, tendo como protagonistas o ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo e Aécio Neves.
Os anexos 10 e 39 tratam especificamente do patrocínio estatal para o vôlei brasileiro. Marcos Valério trata sobre o desvio do dinheiro que saia do Banco do Brasil e deveria ir integralmente para o patrocínio da CBV mas que, de acordo com o delator, tinha parte desviada em espécie para Ary Graça.
No “Anexo 10” da delação de Marcos Valério (ver cópia do documento), o relato é que o dinheiro saia da verba de patrocínio e ia para Ary Graça via Caixa 2. A pedido da diretoria do banco, Wagner Monteiro, gerente financeiro da agência DNA, “providenciava o recurso e entregava no Rio de Janeiro” para Ary Graça.
O mesmo Wagner Monteiro, da DNA, é citado na CPI dos Correios com a mesma função: sacar dinheiro a mando de terceiro para entregar como pagamento de propina a políticos.
No “Anexo 39”, Valério relata como era feita a entrega de propina retirada do patrocínio da CBV após Henrique Pizzolato, hoje preso na Papuda (DF), assumir a diretoria do Banco do Brasil.
“Durante o patrocínio do banco, a CBV tinha um parte que era entregue legalmente através de depósito em conta e outra parte em dinheiro, que, de acordo com o pessoal da diretoria do banco era para o presidente da CBV, Ary Graça”, está no anexo.
Valério arremata que anteriormente a Pizzolato, sua agência já tinha operado com o próprio banco para a CBV.
Na foto que ilustra a reportagem, Ary Graça aparece junto com Henrique Pizzolato e Fábio Azevedo. De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, a relação dos dois era muito próxima mas ficou estremecida por divergências relativas a verba.
A relação da agência de Marcos Valério, DNA, com o Banco do Brasil já era íntima antes do episódio CBV. Por isso mesmo teria sido escolhida para tal intermediação. No “Anexo 1” da delação a qual a reportagem teve acesso, o publicitário conta como foi conquistada a conta de publicidade do banco pela DNA: uma negociação direta entre o então deputado Aécio Neves e o Ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo Fernando Henrique entre 1999 e 2001, Andrea Matarazzo, com o ok do presidente. Pelo “trabalho”, de acordo com Valério, a DNA pagava 2% do valor do contrato como propina para o atual senador Aécio Neves, de novo envolvido com escândalos de propina.
A utilização do esporte por parte de Marcos Valério para lavagem de dinheiro foi um marco da Ação Penal 536, conhecida como “O Mensalão Mineiro”, onde o governador tucano Eduardo Azeredo é protagonista. De acordo com o Ministério Público Federal, “O patrocínio estatal aos eventos foi mero ardil utilizado pelo réu e comparsas para dar aparente legalidade à empreitada criminosa”, já antecipando o que Valério viria a citar na delação tema desta reportagem.
A série de reportagens “Dossiê Vôlei” publicada na ESPN Brasil, mostrou uma série de denúncias envolvendo os contratos de patrocínio entre CBV e do Banco do Brasil.
Reportagens recentes da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo mostraram que a notícia de dinheiro em espécie com Ary Graça não chegam a ser novas. Relatório de Inteligência Financeira” (RIF), feito pelo COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão da Receita Federal, mostra que Fábio Azevedo, fiel escudeiro do então presidente da CBV e atual presidente da Federação Internacional de Vôlei e que segue com ele na condição de secretário-geral da FIVB, sacou mais de um milhão de reais em espécie na caixa de uma agência bancária em um período de seis meses no ano de 2012, ainda durante o mandato de Ary Graça.
A movimentação fora de padrão chamou a atenção do COAF. O RIF-15458, que foi enviado do órgão da Receita Federal para o Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF), apontou “indícios de atipicidade” nas transações.
As anormalidades descritas pelo órgão da Fazenda vão além: “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, a atividade econômica ou a ocupação profissional e a capacidade financeira do cliente” e “recebimento de recursos com imediata compra de instrumentos para a realização de pagamentos ou de transferências a terceiros, sem justificativa” também compõe a peça, cujas minúcias relacionam diretamente a S4G, empresa em que Azevedo consta como proprietário, e a CBV, esta como depositante absolutamente majoritária. Também existem registros de transferências para membros da diretoria da CBV, assim como para empresa de familiar de Ary Graça. Outra empresa envolvida na participação de contratos entre CBV e Banco do Brasil, a SMP, também foi retratada em RIFs do COAF.
Já um relatório de auditoria da PWC fala em R$ 30 milhões pagos pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) especificamente a sete empresas entre os anos de 2010 e 2013. Pagamentos classificados com “fragilidades de controles internos”. Como “adiantamentos realizados para empresas antes de sua constituição”, “pagamentos de comissões não previstas em contrato”, “emissão de notas sequenciais”, “pagamentos para parentes de acionistas das sete empresas”, “pagamento de comissão por contrato de patrocínio firmado antes da abertura” ou “pagamento de comissão após contrato firmado entre CBV e empresa”, entre outros.
Embora com 60 anexos bem detalhados, focados acima de tudo em Aécio Neves e Eduardo Azeredo, e citando o ex-presidente Lula e FHC, a delação de Marcos Valério foi recusada pelo Ministério Público de Minas Gerais no ano passado. Este ano, a Polícia Federal confirmou a delação. A homologação de colaborações premiadas pela PF é alvo de controvérsia jurídica. No entanto, o caminho parece aberto para a aprovação em breve. Em votação no Supremo Tribunal Federal, o placar está em 4 x 0 para que a PF possa conduzir colaborações.
Os contratos da CBV citados por Marcos Valério no entanto, não são os que envolveram maiores cifras de patrocínio do banco. Estes coincidem com o período da presidência de Aldemir Bendine no banco (17 de abril de 2009 a 6 de fevereiro de 2015). Nos seis anos de sua gestão, foram assinados os dois maiores contratos de patrocínio entre BB e CBV, além de sete aditivos em outros contratos. Bendine está citado na colaboração premiada da Odebrecht por solicitação de propina no valor de 1% em contratos entre a instituição e a Odebrecht. Ouvido pela imprensa sobre o caso, Bendine nega a prática. O presidente do Banco do Brasil durante o período em que o patrocínio da CBV atingiu os maiores valores e mudou o patamar está preso desde julho, durante a 42ª fase da Operação Lava Jato.
Outro lado:
Ary Graça:
O atual presidente da FIVB respondeu através da assessoria de imprensa:
“Ary Graça não recebeu qualquer pagamento advindo do contrato de patrocínio da Confederação Brasileira de Vôlei com o Banco do Brasil. A CBV sim, rigorosamente conforme o contrato comercial firmado entre as entidades e absolutamente dentro da lei.
O dirigente jamais foi beneficiado com repasse de dinheiro em caixa 2 ou de qualquer outra forma, como teria especulado Marcos Valério baseado em relatos de terceiros, segundo matéria recém publicada em veículo de imprensa, da qual tomamos conhecimento.
Ary Graça desconhece qualquer transferência de dinheiro do Banco do Brasil que não se refira aos pagamentos previstos em contrato para a CBV. A informação, portanto, não é verdadeira, não tem substância. Ary Graça não foi beneficiado com recursos de Caixa 2, muito menos com o recebimento de dinheiro vivo. A quem poderiam ter beneficiado valores supostamente destinados a ele é do desconhecimento de Graça”.
Marcos Valério:
A reportagem tentou contato com o advogado de Marcos Valério, que não respondeu as questões enviadas. Entre as questões, estava a solicitação sobre o funcionamento do esquema. Se além da parte citada pelo delator para Ary Graça, também a agência fazia repasses para executivos do banco. Sem resposta.
Aécio Neves:
A reportagem tentou contato com Aécio Neves, sem retorno.
Cada dia que passa mais sujeira é posta para fora… Acreditando que este processo todo não seja em vão.
acho interesante, por que vai fazer uns 02 anos , que estou por dentro deste assunto.
nfelismente a cbf , gosta de gastar dinheiro, com certas empresas logisticas , que esta no poder, a mais de 10 anos.
com valores, super faturados e etc.
mais é assim mesmo, um dia vao enxergar