Quarenta anos depois, a resposta: como vivia Carlos Arthur Nuzman
Foi a pergunta que não quis calar durante quatro décadas. A pergunta encantada. Feita por todos e por ninguém respondida. Afinal, do que vive Carlos Arthur Nuzman, dirigente em tempo integral desde a década de 70, quando assumiu a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e mais ainda depois do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), 1995/2017.
Como sustenta o alto padrão de vida, morador de uma mansão no Jardim Pernambuco, a elita da elite do Rio e do Brasil, um dos metros quadrados mais caros do mundo? Ontem ela finalmente foi respondida. Ou melhor, foi demonstrado que realmente era uma questão complexa, capaz de perdurar por quarenta anos. Mais complexa ainda e difícil de ser respondida quando se goza a benesse única de ser cortejado por quem deveria cumprir o papel de fiscalização dos poderes e opta por tecer loas em manchetes e programas de TV. Provavelmente mais quarenta anos seriam necessários para chegar-se a uma resposta.
A isso talvez se chame de legado olímpico: já se pode saber como viveu Carlos Arthur Nuzman ao longo desses anos todos.
Nas 157 páginas da denúncia do Ministério Público Federal-RJ (MPF-RJ), força-tarefa da Lava Jato, o muito particular modo de vida é destrinchado em curiosos detalhes. Cidadão do mundo, passaporte diplomático a tiracolo, frequentador dos melhores hotéis e restaurantes, e no entanto…na hora de pagar…em espécie!
“Documentos apreendidos na casa de Carlos Arthur Nuzman demonstram que grande parte de suas contas é paga em espécie”, afirma a denúncia. E logo vem a conclusão sobre a motivação para tal: “de modo a dificultar a constatação da disparidade entre os seus gastos mensais e os rendimentos declarados”.
Pagava-se tudo em espécie. O cozinheiro Rogério, que também limpava o 1º e 3º andar da mansão. A secretária Tereza. O motorista Afrânio, que também lavava a piscina. Edina, que lavava roupa e o 2º andar. A passadeira quinzenal não identificada pelo nome. Uma outra faxineira também não identificada…Todos tinham algo em comum além da vida severina contígua à casa-grande: todos recebiam seus salários em espécie.
Era a secretária Tereza que cuidava dos pagamentos. Dos funcionários e demais despesas. Tudo em espécie. Os R$ 3.350, 00 do Gávea Golf, que, ironia do destino, apesar do associado ilustre, foi preterido como sede olímpica por uma reserva ambiental estuprada que virou prédio e tanto barulho deu…Dos R$ 3.200,00 do condomínio do Jardim Pernambuco…Do IPTU de três imóveis…Dos R$ 550,00 do Jockey Clube e do mesmo pelo Marimbás, o seleto clube do Posto 6. Dos R$ 950,00 pelo pacote da NET (quantos pontos tem essa assinatura de uma mansão de três andares?)…Dos R$ 1.000,00 da CEDAE e dos R$ 1.700,00 da Light. Das contribuições mensais para quatro diferentes instituições judaicas, sempre em espécie, e outros tantos gastos. Em espécie, como está na lista de Tereza.
Foram em espécie também os saques na boca da caixa bancária que guarda a conta do COB. Assim mesmo, sem maiores parcimônias, sacava-se em espécie da conta do COB. R$ 1.421.903,00 (um milhão, quatrocentos e vinte um mil e novecentos e três reais) entre os meses de janeiro de 2014 e abril de 2015. Resistamos à tentação do quase óbvio chavão de imaginar o fruto desses saques investidos em Rafaelas, em Robsons, em iniciação esportiva na Cidade de Deus, na Maré e em Alagados…
A detalhada investigação por fim conclui sobre Nuzman aquilo que andou nos corações e mentes dos amantes do esporte por tanto tempo: “não há indicação de empresas ou CPFs que permitiriam a real constatação da origem (e legitimidade) dos recursos que formam seu patrimônio”.
É possível que tal conta que não fecha entre “a constatação da disparidade entre os seus gastos mensais e os rendimentos declarados” explique porque a promessa do próprio Nuzman ao assumir em 1995, de transformar o Brasil em potência olímpica nunca tenha se cumprido.
Vinte e dois anos depois, ao menos se pode afirmar: potência olímpica para quem precisa de potência olímpica. Medalha para quem precisa de medalha. Por hora, o que se precisa por aqui é que nenhum centavo mais vá repousar em espécie no Jardim Pernambuco ou em cofre suíço.
Que vire bola, rede e uniforme na escola dos meninos e meninas de canela-ruça, como dizia Darcy. O mesmo iogurte da mesa do Jardim Pernambuco na merenda de Quixeramobim, e não a automática e asquerosa exclusão de dar farinha de porcos na merenda dos meninos, sonho do janota de plantão que odeia gente. Depois não reclamem quando o bicho fica feio.
Esporte como política de saúde e só, sem mistificações, e não para locupletar uma escumalha que responde pela falta de pão e de hospital enquanto saca em espécie. Para todos, para que nunca mais em tempo algum se ache normal que alguns homúnculos tenham nostalgia canalha da escravidão.
E aí então, sem esse complexo de gigante que no fundo escondeu essas desmedidas ambições pessoais valendo-se de muito dinheiro público, lembraremos desses dias obscuros e sombrios, dessa primavera sem flores de 2017. Mas ao menos, como disse o poete, terá valido a semente.
Parabéns Lucio, excelente, ELE TINHA CONTADOR, QUEM ERA O CONTADOR DO COB. abraço.,
Caro enorme Lúcio, cachorro morto. A vida continua, torço aqui ,que vc com a sua obstinação , não pare por aí. Talvez seja pedir demais , e os covardes coniventes, é óbvio que sozinho nada se faz. Apesar de bastante entristecido , principalmente porque se nós do esporte tivéssemos um pouco de vergonha na cara estaríamos juntos com vc nesta sua luta. Cansado de te mandar PARABÉNS , agora mudarei , vai em frente que sabemos que tem muito mais que pode vir
Sensacional como sempre!
Como é que esse picareta ficou no poder tanto tempo e o deixaram roubar tanto. Meu pobre povo brasileiro que eu tanto amo!
Lúcio, parabéns. Que você tenha força pra charfundar a o papel da rede globo na trama.
Caro Lúcio, obrigado por nos mostrar aquilo que sempre soubemos, mas que ninguém ainda tinha provado. É muito triste pra nós do esporte, chegarmos a triste conclusão que só uma pequena parte do dinheiro investido, chegou realmente aonde deveria.
Espero que isso tudo que vem acontecendo, promova mudanças nos nossos comandos.
Precisamos de quem realmente pense e goste do esporte.
PARABÉNS!!!!!
Mexer na corrupção do esporte brasileiro é mexer com a globo…gostaria muito de ver jornalista isentos fazer esse comparativo, porque dos atletas só espero imbecilidades, covardia e “glória à Deus”!
Adorei seu texto
Tomara que as verdades reveladas se transformem justiça social.
Ainda falta ir na fonte da corrupção, o sistema bancário, os bancos privados, o cartel da mídia encabeçada pela rede Globo de corrupção, o poder judiciário com seus juízes, procuradores e delegados cooptados por todos esse grupo corrupto e por interesses internacionais, suas agências , departamentos de estado, o chamada propinoduto do mercado de delações e de palestras, as bolsas de estudo para jovens juízes e procuradores (cooptação), aqui e lá fora do Brasil, começando pelos EUAs onde a ponte aérea de juízes e procuradores nunca foi tão alta como agora nos tempos da farsa à jato.
A estrategua de guerra híbrida desenvolvida pela CIA nunca teve tanto sucesso como agora, nunca foi tão fácil dar golpes de estado sem precisar gastar uma bala. E no lugar dos militares são usados os juízes, procuradores e delegados, as instituições do judiciário cooptados e corrompidas.
É preciso denúncias e desmontar essea organizacão criminosa e prender todos que fazem parte desse gigantesco Mecanismo golpista de assalto a nação e a soberania.