De Giba a Paolo Guerrero: uma viagem através do tempo em 14 anos de nossa imprensa e algumas breves memórias
A“h, memória, inimiga mortal do meu repouso”!
Valhei-me Miguel de Cervantes. Nesse exato momento, tuas palavras soam como bate-estaca em minha cabeça. Lembranças são assim, puxa-se a primeira e as demais vão desaguando feito cachoeira. E quanto mais o tempo anda em nossas vidas, mais forte vem essas águas.
O gatilho pode ser a coisa mais banal. É como aquela brincadeira de falar uma palavra e o outro dá sequência ao jogo com outra que imagina se relacionar com aquela. Sabe lá como termina. Começa com “bola” e pode acabar com “física quântica”. Ou vice-versa.
Foi assim desde que saíram as primeiras notícias do doping de Paolo Guerrero. Um turbilhão de memória se ativou.
Numa espécie de tecla de atualização “F5” por minuto nas TVs e sites, as informações se sucediam. Batia-se cabeça como sempre ocorre nessa hora. Até aparecerem as primeiras notícias da possibilidade da presença de cocaína. Dada em primeira mão pelo sempre muito mais do que atento repórter Eric Faria, sempre na vanguarda da notícia.
Foi aí que a memória deu seu primeiro salto. Um pulo de 14 anos.
Corta pra janeiro de 2003.
Era um verão glorioso. Como são todos os verões. O apogeu da primavera, disse o buda nagô Gil. Mas aquela tinha vindo especial. Basta olhar as manchetes de jornal desde o dia 1º do ano. Havia uma imensa esperança. Dava pra pegar a esperança no ar e tocar. As manchetes noticiavam, embora com alguma má vontade, o combate à fome, respeito aos direitos e a diversidade, inclusão social. Imagine tudo o que está aí no verão que vem chegando. Esse mar de desesperança, de intolerância, essas trevas, essa obscuridade… Era tudo exatamente o oposto. Se tiver dúvida, se viveu e não lembra, se não viveu, vá ao acervo dos jornais. Não importa ao menos aqui no momento entrar no que veio depois. O retrato aqui pretendido é de janeiro de 2003. Ali exatamente parecia que o sonho de “pão e de beleza” ao qual o poeta falou era possível.
O meu verão em particular tinha muito do pouco que alguém precisa pra ser feliz. Muito feliz. Um mergulho no fim de tarde, o sol morrendo dentro do mar feito bola de fogo ao lado dos Dois Irmãos naqueles breves dias do ano em que ele faz isso, uma conversa na roda até vir a noite, o amor dos seus, um samba pra fechar o dia e mais um pouco da boa resenha das ruas e das madrugadas pra alimentar a alma. No domingo, o velho e saudoso Maracanã antes de sua trágica morte pelas mãos de um político bandido, o velho grito de toda uma vida à esquerda das tribunas, atrás do gol do viaduto Oduvaldo Cozzi. “Acima de tudo…”
Eram férias, como sempre foram meus janeiros (alô editor da Agência Sportlight, tá chegando!). Os dias corriam frouxos, tirando aquela tristeza que vai dando quando o mês mais mágico de nossas vidas vai acabando. Vale sempre lembrar que estamos falando de um ano onde ninguém poderia imaginar que até isso iria acabar: férias, direitos…E o que é pior: alguém iria querer te convencer que isso é bom e fundamental para o país. E muitos iriam acreditar. Mas o que importa aqui é 2003. A vida correndo frouxa e os últimos dias de férias chegando.
Terça, 28/1/2003:
É quando já na regressiva final das férias, uma terça-feira, 28 de janeiro, estoura uma bomba: o atacante de vôlei Giba havia sido pego no exame antidoping por uso de maconha. A cronologia que se segue destacada dia a dia vale ser acompanhada com atenção pelo leitor para dar sentido ao todo. Terça, dia 28 de janeiro, com a volta ao trabalho marcada para fevereiro. Como dia 1º era no sábado, o retorno ficou combinado para o dia 3, segunda-feira.
Tinha mudado de anos inesquecíveis, os primeiros da carreira profissional, dos estertores do Jornal do Brasil, escola maior possível do jornalismo brasileiro, para o Globo, onde encontrei alguns dos amigos para uma vida inteira, que seguem aí, pelo mundo, e vamos nos encontrando quando dá, quando a vida manda. E como se o tempo não tivesse passado.
Assim que voltasse para o batente na rua Irineu Marinho, carregando aquela melancolia de quem só daqui a 365 dias irá saber de novo o que é não botar calça e sapato, a matéria que acabara de explodir viria para o meu colo. Sabendo disso, foi preciso ir acompanhando naqueles últimos dias o desenrolar dos fatos pra não chegar caindo de paraquedas.
Para não perder a conta: estourou no dia 28 de janeiro, terça. Eu teria ainda de férias a quarta (29), quinta (30), sexta (31), sábado (1º) e domingo (2). Voltando na segunda, dia 3 e já fazendo a primeira reportagem para a terça, dia 4 de fevereiro.
A obrigação de acompanhar o desenrolar dos fatos foi cruel demais com os últimos dias de férias. Era tudo tão assustador, era tudo tão patético, tão ridículo, tão medíocre, um jornalismo tão de oitava categoria, que não era mais possível nem alegrar-se tanto com o por do sol que seguia, entre um temporal de fim de tarde e uma enchente e outra, nessas memórias de um verão espetacular. O verão da esperança…
A essa altura, já com alguns anos de profissão, sabia que nesse tipo de coisa quem dá o tom são os chefes. Que determinam por onde vai o que se chama de cobertura do fato e dão o tom da sequência. E que obviamente existem os repórteres mais realistas do que o rei, os capitães do mato, sempre dispostos a agradar e dar um tom ainda mais forte do que os chefes querem. Mas não era nem de longe o caso. No episódio, o tom tinha sido (des)afinado por cima, e era das chefias que vinha tom, cor e sabor daquele tema.
E era tudo muito assustador. Só pensava como seria a volta, como seria cair no meio daquele lamaçal, daquilo tão pernicioso, moralista, batendo no mais fraco e sempre de cócoras aos poderosos. Já não havia mais férias.
Colhido nessas memórias, lembrei-me de outra frase. Vargas Llosa dizia que “a memória é uma armadilha, pura e simples, que altera, e sutilmente reorganiza o passado, por forma a encaixar-se no presente”. E embora tudo ainda seja tão claro de como se deu, dia a dia, para não cair na armadilha alertada por Vargas Llosa, era melhor recorrer aos arquivos para montar esse quebra-cabeça, e não deixar que nenhuma traição aos fatos, nenhuma memória seletiva favorável “reorganizasse o passado por forma a encaixar-se no presente”. A consulta a cada um daqueles dias diria se a memória não tinha traído.
E foi assim, acervo digital do Globo a tiracolo, que o passado foi se organizando, se alinhando com a memória. E realmente, fato raro em qualquer um de nós, o tempo passou e foi o mais fiel possível a toda memória.
Estava tudo lá. O moralismo venal, o jornalismo de cócoras aos poderosos, traidor de sua essência fiscalizadora de qualquer poder estabelecido, estava tudo lá.
Logo no dia 28, terça, quando tudo explode, o tom da notícia já tinha ido para o aspecto moral. A condenação do ser humano, a pieguice patética do mais patético dos chavões, o velho “o esporte tira das drogas”, que obviamente só pode ser dito ou pelo ingênuo ou por aquele que arranca um troco qualquer para sustentar picaretas projetos sociais (nem precisa dizer que não há generalização aqui). Estava lá a conversa do “atleta ser exemplo” por sua conduta fora do campo de jogo. Estava tudo lá.
Desde o primeiro dia do caso, estava tudo lá. Assim, nesse tom, foi dada a notícia do doping:
“Embora sejam frequentemente apresentados como exemplos de vida saudável e apesar de o esporte ser considerado um caminho para afastar crianças e jovens das drogas, até mesmo os atletas tropeçam e caem diante das drogas, tornando-se viciados”.
Meu Deus…
Tinha mais. Tinha um quadro à parte, um box como se diz no jargão, com o seguinte título: “Até atletas tropeçam em vícios”. Se não existissem os arquivos talvez fosse difícil acreditar que uma matéria assim existiu. Um festival de platitudes, equívocos, julgamentos, de tratar um atleta como alguém que não é humano e portanto deve ser o guardião da moralidade, e mais ainda inacreditável, já bater o martelo falando em “vício”.
Em pleno século XXI, nosso jornalismo seguia falando como nem nossas avós falavam mais. Mas não com a inocência delas. Por opção. E qualquer um que já entrou em uma redação sabe disso. Nenhum desses chefes que dão o tom desconhece que dizer algo assim é uma aberração fora do tempo. Mas a opção pelo viés moral, por crucificar o ser humano, no caso a parte mais fraca, falar em “exemplo moral”, repetir que “o esporte tira das drogas” sem que nunca tenha se provado nem que sim nem que não, pois é essa opção que vai permitir ao chefe construir sua cortina de fumaça, se abster de cumprir o único papel que lhe cabe enquanto jornalista: fiscalizar o poder e todos os poderosos. Enquanto fala da questão moral do atleta que fumou maconha, que foi pra noite e tomou um chope, forma a nuvem que o livra de falar a única coisa com a qual deveria se preocupar: fiscalizar poderes, investigar cartolas, dinheiro público sendo gasto.
Foi de deformação em deformação, foi dessa bizarra concepção de jornalismo, foi dessa opção patética e proposital, que chegamos a uma década de grandes eventos no Brasil e uma imprensa de cócoras, que, exceções boas de sempre, nada viu, nada fez. Muito pelo contrário: aplaudiu, ufanou-se. Para depois se ver surpreendida com os desfechos. Atente para isso por ser fundamental: uma década de grandes eventos no Brasil e salvo iniciativas isoladas das exceções de sempre, a imprensa nada viu. E é esse o ponto. É fundamental se estabelecer tal relação. O tom moralista, acusatório, a carga sempre no lado mais fraco está diretamente ligada a um país que vive uma década de grandes eventos e cuja imprensa nada viu. Não se constrói o fracasso e a vergonha que foi a cobertura da imprensa brasileira nos grandes eventos e entorno da noite pro dia. Foram precisos muitos casos como esse aqui, muitas omissões ao longo dos anos, para que nossa imprensa formasse seu caráter (ou a falta de).
Metáfora da vida dos dias de hoje. Enquanto falamos do nu do museu, do Chico, do Caetano ou do que fulano ou sicrana fazem entre quatro paredes, deixamos de ter que falar, investigar, apurar, retratar o cartola (ou o político) bandido, aquele alvo que deveria ser a grande razão de ser do ofício.
Naquele mesmo dia 28, Ary Graça divulgou nota “lamentando profundamente o caso”.
Quarta, 29/1/2003:
Veio o dia seguinte, quarta, 29. Ainda de férias mas de olho no que viria. E veio ainda mais inacreditável.
“Ary Graça dará um puxão de orelhas”. É o que estava na matéria. Exaltando que aquele cartola, aquele que anos depois protagonizaria um dos maiores escândalos da história do esporte brasileiro, repreendia moralmente o atleta. E o jornal dava o tom a partir daí. Para completar a reportagem com a frase onipresente: “O esporte forma ídolos, tira crianças das drogas”. (Lembrei de Carlos Arthur Nuzman, Ary Graça, José Maria Marin…Todos ex-atletas, todos formados pelo esporte…).
O mais inacreditável vinha logo abaixo desta matéria que abria a página, o alto da página como se fala no jargão das redações. Da metade para cima, o administrador exemplo de gestão tendo voz para deitar falação moral, falar em “puxão de orelhas”. Da metade para baixo, quase uma matéria paga pedindo dinheiro público para a entidade de Ary Graça. (e depois lavamos as mãos, como se não tivéssemos sido cúmplices das gestões temerárias…).
“CBV precisa de mais R$ 2 milhões para o Centro” era a manchete.
E vinha a exaltação da honradez de Ary Graça e da transparência de sua gestão: “Foi tudo licitado e as contas abertas para quem quiser olhar. Assim como os R$ 2 milhões que pedimos a mais já estão licitados”, esclareceu Ary, preocupado em justificar a origem do dinheiro para o ministro”. Está na mesma página que condena moralmente o atleta pego no doping.
Não foi só. Espaço para Agnelo Queiroz, exaltado pelo jornal por sua transparência. O mesmo que uma década depois seria preso por improbidade administrativa. Falava a reportagem sobre Agnelo: “O ministro elogiou a atitude de Ary de abrir as contas da obra do centro, afirmando ser de fundamental importância a transparência.”
Quinta, 30/1/2003:
As férias galopavam em sua fase final. E a cada manhã um novo susto com as páginas que mais pareciam um apanhado da Tradição, Família e Propriedade, a velha TFP, rediviva nos dias de hoje em outras siglas menos qualificadas que a de outrora, que ao menos tinha integrantes de algum estofo intelectual.
Nova rodada de entrevistados para destilar a moral da família brasileira. Escolhidos a dedo para dar o tom escolhidos pelas chefias. Foi a vez de Carlos Alberto Parreira, aquele mesmo que depois diria ser a CBF um exemplo do Brasil que dá certo, malhar o atleta por sua moral:
“Ele é um ídolo. Eu só tenho a lamentar. Um atleta como ele tem de servir de exemplo para a juventude”. Parreira, o homem que conviveu docilmente com a ditadura militar, com Havelange, com Teixeira, com Marin e com Del Nero, lamentava que um atleta pego no doping com substância de maconha deveria dar exemplo para a juventude.
Zagalo também tirou uma casquinha. “O que é mal feito não pode servir de exemplo”. Por fim, aquela quinta, 30, ainda trazia novamente Agnelo, o improbo, falando que “esse não pode ser o caminho. O esporte tem que ser saudável”.
Sexta, 31/1/2003:
Tava faltando ele. Na retumbante semana em que a questão moral do atleta pego no antidoping deu o tom das reportagens, não podia faltar ele. O mais virtuoso dos homens do esporte brasileiro, o maior gestor, aquele que iluminava todos os caminhos, pautava as redações, apontava aos chefes quem o incomodava. Aquele que 14 anos depois foi parar no presídio de Benfica denunciado por corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas: Carlos Arthur Nuzman.
Mas contra ele não existia questionamento algum. Muito pelo contrário. Palavra franqueada para dar o tom moral de guardião de toda honra e toda glória do desporto nacional, não fez por menos. Está nas páginas: “Nuzman lhe reservou palavras duras: “ele foi fraco ao enfrentar seus problemas. Mas espero que se recupere como homem e como atleta”. Carlos Arthur Nuzman, falando na recuperação moral de um homem, “como homem”, de alguém que fumou um baseado. E indo para a manchete por isso. É…
Já não havia dúvidas de que o sempre duro retorno ao trabalho seria mais duro do que nunca. Bastava olhar o cenário. Dias de linchamento moral.
E aqui vale deixar claro, nem deveria ser preciso: não importa se era Giba, Juba, Zé ou João. Na verdade, dane-se que era Giba. Podia ser qualquer um. O que estava e segue em debate era e é o nosso jornalismo e nossa imprensa. E consequentemente a sociedade, a política. Mas como jornalistas, o que estava em jogo a partir daquele caso era a óbvia questão: “que jornalismo fazemos por aqui. Estamos cumprindo nosso dever no ofício”?
Sábado, 1º de fevereiro de 2003:
Pelo calendário, era o dia de voltar. Mas como o dia 1º caiu num sábado, era a praxe só voltar na segunda. E pela escala também não seria o dia da minha turma de plantão. Menos mal.
Mas as notícias não davam trégua. Só piorava.
O sábado não se parecia em nada com um sábado do poema de Vinícius. Vinha carregado daquela obsessão moralista que aponta ao lado mais fraco e exalta o mais forte.
Era a vez dos médicos. O que deveria ser um parecer técnico de quem jurou para Hipócrates, seguia o tom do moralismo barato do resto da semana. Manchete:
“Para médicos, Giba arranha a imagem de ídolo”.
É isso mesmo? Um médico dando parecer moral em vez de técnico? E um jornal dando espaço? Mais do que isso: provocando para tal.
O primeiro ouvido era Bruno Borges, médico da Comissão Nacional Antidopagem e do COB.
“O jogador Giba deveria ter zelado por sua imagem de ídolo”, afirmou.
Mas viria algo ainda mais surreal. Um coordenador técnico do Ladetec, o laboratório responsável pelos exames no Brasil e que chegou a ser descredenciado pela fama dos erros cometidos, não fazia por menos. Mais uma vez, talvez a centésima da semana, o “esporte como papel para afastar os jovens das drogas”. Estava lá:
“Segundo Cardoso, o esporte tem papel importante para afastar jovens das drogas. Mas até os atletas podem cair.”
Depois viria algo ainda mais inacreditável. A velha versão de que foram as más influências:
“Os atletas estão inseridos na sociedade e certamente algum amigo do Giba usou drogas e ofereceu a ele”.
Domingo, 2 de fevereiro de 2003:
Ùltimo dia de férias. Não tinha mais para onde correr, era hora de voltar, salvo o bilhete de loteria viesse premiado. Mas premiado estava o jornal de domingo com as pérolas de Eduardo De Rose, famoso médico da área do doping.
“Atleta tem de ter postura”.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2003:
A volta. A segunda ainda trazia uma última reportagem no tom dado pelos chefes, aquela da semana inteira. Era a vez de José Roberto Guimarães, inquestionável como técnico de vôlei. Manchete: “José Roberto quer punição social para Giba”.
José Roberto Guimarães:
“O atleta deve sofrer as consequências do seu gesto. O Giba é um referencial para a juventude e isso pesa”.
Treze anos depois, em 8 de março de 2016, o tricampeão olímpico foi ao Bola da Vez da ESPN Brasil. Perguntado pelo então apresentador Dan Stubalch sobre os escândalos da CBV e do cartola Ary Graça, não foi tão duro assim. “Nada ficou provado”, disse.
Volta de férias são sempre melancólicas. Naquela segunda-feira, o trajeto até a Irineu Marinho, centro do Rio, tinha ainda mais angústias postas no tabuleiro. Mas saudades do mês de delícias à parte e tristeza por tudo que vinha acompanhando, existia também um sentimento bom. Havia um bom combate em jogo. Era preciso fazer o debate, falar sobre a profissão.
Sobre o que somos, nosso papel. Mais uma vez vale o pecado da repetição: dane-se o Giba, o Zé ou o João. Não era a pessoa que estava em questão. Era a forma como se noticiava. Mais do que isso: as opções do jornalismo por aqui, tão claras no episódio. Era preciso ampliar o jogo, debater, confrontar opiniões, posições, travar-se o bom combate. E ao final, deveria vencer o único ser supremo nisso tudo: nosso ofício.
Sabia que a cobertura me cabia e viria para mim. E estava disposto a debater o que vinha sendo feito até ali. Mostrar minhas discordâncias, mostrar que não iria por ali. Salvo fosse convencido que o caminho, o papel do jornalismo era aquele mesmo como estava sendo feito. Que as opiniões se esgrimassem e teríamos contribuído para a melhora do jogo jogado ali.
Como era sabido, a volta foi logo com a transferência da pauta do caso. Que passava para mim. Nada me foi dito sobre o tom a ser adotado. Já estava dado há uma semana, creio que se imaginou. O “sistema” tem essa peculiaridade. Em sua imensa engrenagem e sofisticação, sabe que ninguém precisa falar o que pode e o que não pode. Dizer o tom. Está lá. E parte do princípio que todas as engrenagens, nós no caso, iremos seguir no tom.
Bom, se nada me foi dito, era possível adiar o debate sobre as visões do caso. Se nada me foi dito, posso fazer sob o meu entendimento. Obviamente sabendo que depois viria o questionamento, já que aquela era uma linha editorial da chefia.
terça-feira, 4 de fevereiro de 2003:
Sai publicada a reportagem, a primeira depois das férias. Com todas as minhas visões sobre o tema. Publicadas, públicas. O inevitável debate de posições antecipado ali. Provavelmente até mais “opinativa” do que deve ser uma reportagem, óbvio fruto da indignação pelo rumo que o tema ia tomando, contrário a todas as minhas convicções sobre a profissão. Era uma guinada total em relação ao que vinha saindo.
A manchete já não tinha mais a ver com a semana de “exemplo para tirar crianças das drogas” como vinha. Provavelmente, e aqui a memória falha, um título como tantos que pedi sugestão para Pedro Motta Gueiros, parceiro tão querido desde JB. Nunca gostei e nunca fui bom na arte de dar títulos e ninguém dava títulos como Pedro. “Giba de volta para o futuro” era digno do talento imenso do Pedro. Sintetizava o atleta de volta aos treinos, ao trabalho e não a carolice do que fora dito até ali.
Lá no corpo da reportagem, vinha muito mais do que o tema Giba. Estavam ali todas as minhas convicções sobre um jornalismo sempre de cócoras para os poderosos e algoz dos menores. E a imensa contradição entre um atleta pego no antidoping crucificado como “mau exemplo” até por aqueles dirigentes sistematicamente poupados de investigações e apurações pelo jornalismo.
Uma mudança total dos rumos do que vinha sendo publicado. E obviamente o debate posto na mesa, o questionamento claro e público de como o tema vinha sendo tratado. Mandei lá, como o arquivo mostra:
“Curiosamente, em um país com enorme índice de dirigentes esportivos envolvidos em caso de corrupção e em CPIs sobre desvio de verbas e porcentagens ilícitas, Giba é que virou o mau exemplo, alvo de críticas de vários dirigentes, médicos, ex-jogadores e treinadores, que, nos últimos dias, sistematicamente tem condenado e criticado o atacante por seu erro…”. E seguia.
Ouvi o psicanalista Luiz Alberto Py, que estava estupefato com o que via naqueles dias, como pode ser visto no trecho do jornal do dia abaixo reproduzido. Vale ser lido.
Depois disso viria o caminho do RH. Chegaremos até a parte que conta o caminho do RH, mas antes vale chegar finalmente ao debate que se seguiu.
Terça era dia da reunião de pauta semanal. Com a matéria publicada do jeito que foi, obviamente a reunião prometia. Mas certamente viria um bom confronto de ideias como dito antes. E a convicção mais acertada deveria seguir dando o tom.
No dia seguinte, sou chamado e comunicado que era para procurar o RH. Outras tantas vezes viriam. Com o mesmo traço em comum: nunca me foi dito por que. Em nenhuma se disse a razão, existiu algum fato em si. Nunca nenhum chefe chegou e soube explicar. Da primeira a última vez, que ainda será contada em seu tempo.A redação era no sexto andar e a reunião geralmente em uma sala do sétimo andar. Toda editoria de esporte estava lá. No filme que por hora passa, parece tudo vir com exatidão. Os presentes, até onde cada um se sentou…A chefia veio com fome. O caso e a reportagem da minha volta entraram logo em pauta. Com um forte questionamento do tom adotado e da necessidade de se mostrar “um atleta tem que dar exemplo, o aspecto moral…”.
Iniciei minha argumentação sem me afastar do que havia publicado. De que nossa missão na profissão era acima de tudo questionar e fiscalizar poderes e poderosos, e que falhávamos e éramos extremamente coniventes com malfeitos de cartolas, dos bandidos que se locupletavam no esporte brasileiro como dirigentes, e o mais grave, com dinheiro público, ou em instituições de interesse público. No lugar de apurarmos mazelas dos cartolas, dedicávamos-nos a cuidar da moral e dos bons costumes. E isso era uma opção. Exatamente como havia escrito. E então passei a discorrer sobre a “questão moral, a do exemplo”.
Deixei a seguinte proposta: que quem acredita que um atleta no doping por maconha é um mau exemplo para os jovens e crianças, deveria ir aos clubes e escolinhas de vôlei ver quantas crianças haviam deixado o esporte naqueles dias após o episódio Giba. Porque afinal o argumento do “exemplo” deveria se provar. Senão ficávamos no campo subjetivo. Se fossem a um clube e demonstrassem tal fato, eu passaria a incorporar tal entendimento a minha reportagem.
Por outro lado, mais ou menos na linha do que Luiz Alberto Py tinha dito, eu gostaria de fazer o seguinte: a cada dia que o Brasil de Giba e cia conquistasse um título, ou o Guga no tênis, eu iria a uma escolinha ver quantos se matriculavam. E aí poderíamos entender que o exemplo do atleta se dá por performance, “a imagem está ligada ao desempenho atlético”, como disse Py. Que confrontássemos a visão e buscássemos sustentação. Mas acima de tudo reiterava que o fundamental disso tudo era mostras as mazelas de nossos cartolas. E era lamentável crucificar um atleta por algo assim e seguir sem cumprir nosso ofício com cartolas.
Acabou a reunião desse jeito, o embate indefinido mas tudo ok. Ao menos cara a cara. Cada qual com seu ponto de vista. Era voltar para a redação e seguir o trabalho. Não foi bem assim. Depois, sou chamado e comunicado que era para procurar o RH.
Outras tantas vezes viriam. Com o mesmo traço em comum: nunca me foi dito por que. Em nenhuma se disse a razão, existiu algum fato em si. Nunca nenhum chefe chegou e soube explicar. Da primeira a última vez, que ainda será contada em seu tempo.
O que me leva a ter uma leve suspeita: fazer jornalismo nesse país é um perigo e um problema.
Um país onde esse mesmo jornalismo se torna a cada dia mais uma irrelevância no cenário mundial e mesmo da América Latina, enlevado em sua irrelevância, mais disposto a contar a história sob a ótica dos poderosos e dos poderes e amarrado a um aleijão que vai deformando gerações de profissionais que, se não tem no que se mirar, o que se deve ser e qual o papel, irão sempre reproduzir o que está aí.
Existem várias medidas para entender o tamanho de nossa irrelevância no mundo. Algumas delas, o peso e a representatividade do jornalismo brasileiro em congressos mundo afora, o quanto jornalistas brasileiros são parceiros em iniciativas mundiais. Mas acima de tudo, de qualquer visão e percepção estrangeira, está mesmo nossa produção. A de um país que vive há três anos a maior operação anticorrupção do mundo e cujo jornalismo vive apenas de vazamento. Medida maior não pode haver.
As reminiscências e o recorte escolhido desses 14 anos existiram porque o caso Guerrero me lembrou o de 2003.
Fechando a tampa da memória e pedindo para que ela se acomode de novo lá no recanto mais profundo onde vivem nossos demônios, encerro apenas com a lembrança do momento seguinte a passagem no RH. Tinha visto aquela cena tantas vezes ao longo dos anos, a lembrança do menino com o pai entrando em casa no meio da tarde quando deveria estar em uma redação, logo depois de passar no RH… Pelas reportagens, por ter liderado uma greve, pelo jornalismo praticado…
E vinha sempre a lembrança da expressão serena de quem se ferrou mas em paz com a vida. E a frase que ouvi tantas vezes: “se for preciso carrega-se cimento no Cais do Porto mas não se entregam a alma e a dignidade”.
Sai da Irineu Marinho e, antes de ir pra casa, fui dar um beijo nos velhos. A chave rodando na porta antes da hora do fim do dia de trabalho também era cena familiar para eles. Contei tudo e tive como resposta a frase ouvida tantas vezes.
Outras tantas viriam. Seguimos a caminho do Cais do Porto mas em paz. O que importa é ao fim de tudo dizer: valeu a pena!
Por onde andam os personagens desta história:
O autor: Tudo indica que tenha sido banido da imprensa brasileira. Com o tempo e vendo as coisas acontecerem, descobriu que racismo, prevaricação, picaretagem, jabá, nada disso é crime na imprensa brasileira. O único, maior e verdadeiro crime passível de punição é…fazer jornalismo. Deu de ombros pro banimento. Com a Agência Sportlight e 63 reportagens de fôlego em menos de um ano, mandou avisar que “temos pólvora, chumbo e bala” e a ideia é ainda dar muito trabalho por aí.
Chefes (não) citados nessa história: Sumiram. Ninguém nunca mais ouviu falar deles no jornalismo.
O jornalismo brasileiro: Segue sendo uma irrelevância cada dia maior. Competindo com outras tantas coisas para ser o grande escândalo nacional pela irrelevância, subserviência e incapacidade. Conseguiu ser irrelevante e viver apenas de vazamentos em meio ao maior escândalo de corrupção da história. Conseguiu ser irrelevante durante uma década de grandes eventos esportivos e um mar de lama de corrupção. Conseguiu ser irrelevante, salvo as poucas exceções sempre ressalvadas, os Jucas e Zés e alguns outros por aí, mesmo tendo passado por personagens como Havelange, Teixeira e Nuzman, entre outros.
Giba: Fora das quadras, não é nem a sombra do gigante que foi atuando. Participa de reality show e dá entrevistas dando conta de suas proezas sexuais. Jamais se manifestou em relação aos casos de corrupção no esporte. É alinhado ao dirigente Ary Graça e arrolado como testemunha em processos movidos pelo cartola.
Paolo Guerrero Segue sua luta para comprovar inocência no caso de doping. Ou não. Provavelmente a imprensa espera ocasião melhor para o linchamento moral.
Carlos Arthur Nuzman: Comandou o esporte brasileiro por mais de três décadas. Recebeu milhões em verba pública e nunca tirou o esporte nacional de um lugar secundário. Está em prisão domiciliar depois de passar 15 dias preso em Benfica, denunciado por corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Finalmente, depois de quatro décadas sem que soubesse como e de que vivia, descobriu-se que, além das barras de ouro, dinheiro em espécie e pagamentos também em espécie, registrou evolução patrimonial de 457% na década dos grandes eventos. Foi idolatrado por anos pela mesma imprensa que agora se mostra indignada e surpresa com as descobertas.
Ary Graça: Esteve envolvido com um dos maiores escândalos da história do esporte brasileiro. É um dos anexos da delação de Marcos Valério, que o acusa de receber malas de dinheiro vindas do patrocínio do Banco do Brasil. Assim como nos escândalos do “Dossiê Vôlei”, nega. Mora na Suíça onde é presidente da Federação Internacional de Vôlei.
Agnelo Queiroz: Foi figura fácil e bafejada pelo noticiário em seus anos como Ministro do Esporte. Deu pitaco de moral e bons costumes no episódio Giba. Em alguns lugares que trabalhei, era chamado de “reco”. Quando fazer matéria com alguém é ordem que vem de cima… Foi preso este ano por improbidade administrativa. E muitos dos que ordenavam a redação a fazer matéria com ele apareceram indignados por aí com a imoralidade.
Parabéns e admiração!!! Que surjam mais Lúcio de Castro neste deserto que vivemos. Obrigado!
Magnífico Lúcio. Siga seu caminho com estas convicções fortes, pois os justos não perecem. Abraço daquele que não mais assiste ao jornalismo engraçadinho.
Excelente, Lúcio Castro. Simplesmente, excelente. A indigência mental das redações é assustadora. Fui repórter e editor de esportes do jornal Zero Hora (Poa) por muito tempo e ainda hoje fica difícil entender por que pessoas ditas esclarecidas propagam com tamanha cegueira o que existe de pior na sociedade.
Acho que por essa época, 2003 ou 2004, fui finalista do Prêmio Embratel com reportagem sobre racismo no futebol gaúcho. Fui finalista. O vencedor foi você, não lembro com que reportagem. Eu pensei, cara, eu perdi pro Lúcio de Castro! Isso é uma vitória.
Seu texto merece destaque na porta de entrada das faculdades de jornalismo.
Grande abraço, Lúcio.
Jones Lopes da Silva
Você é simplesmente excepcional
Parabens pela lucidez
Lúcio continua um monstro . Saudades do Bate Bola das 13h com o trio MCP, João Canalha e Lucio de Castro.
Como ninguém , nesse mundão , é perfeito ,me dá um aperto no coração vendo você iniciar o texto , mesmo que de forma subentendida, sobre os bons tempos do Molusco no inicio de sua gestão em 2003. Vida que segue. Te acho um Gênio e isso nada vai mudar. Cada um com suas preferências políticas e ideológicas. Saudações Rubro Negras.
Eu estava assistindo ESPN, muito por causa do Lúcio, naquele dia em que ele não se conteve diante das baboseiras do “canalha” que falava sem parar, tentando isentar Pelé em uma situação sobre saber o que a ditadura fazia em 1970 (Pelé havia dito não saber). Parabéns Lucio Castro! O tal de João “canalha” continua um idiota com sorte.
E o autor segue em frente…
Sensacional, Lúcio! O jornalismo brasileiro e alguns jornalistas vêm perdendo credibilidade de tempos em tempos. Alguns canais de esporte e programas de fofocas, parecem semelhantes. Veja o caso do William Waack. A ‘conservadora’ Rachel Sherazade disse que ele é vitima de ‘esquerdopatas’. Ou seja, os preconceitos podem passar batidos diante do profissionalismo e, ainda mais, pela visão política de quem diz absurdos.
Forte abraço.
Outra porrada em forma de artigo. Vi que mencionou de leve o que imagino ser a saída da ESPN. Essa tenho curiosidade em saber, não por algum tipo de fofoca, mas por ser um lugar onde mais se praticava o jornalismo. Transmitiram com destaque o Memórias do Chumbo, o Histórias do Esporte com o Roberto Salim, como exemplos. Seu blog na ESPN era um tesouro do jornalismo brasileiro, torço para que coloque os artigos aqui na Sportlight.
“Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição”. Palavras de Mano Brown que Lúcio de Castro assinaria. Precisamos de você, Lúcio, não desista.
Adorei o artigo. Admiro muito sua coragem: coragem de dizer a verdade e de fazer jornalismo sério em um país como o nosso. Parabéns!
Lúcio; não é um artigo, é um libelo. E S P E T A C U L A R ! ! ! Você é único.Falar mais o quê? Aplaudir e agradecer sempre!
Não sou jornalista, fui professor e engenheiro e atualmente “carrego cimento no Cais do Porto por não entregar a alma e a minha dignidade”. tento viver com uma aposentadoria indigna de um profissional da empresa privada. E esse Governo golpista e ladrão ainda quer piorar mais…
Ao longo de minha carreira em “grandes empresas” também tive esse tipo de “CHEFE” mas, jamais cedi aos seus mandos, quando percebia que algo existia por trás de um projeto, licitação e contratação. Também apanhei muito em reuniões montadas e também já segui o mesmo caminho de RH, mais de uma vez, sem saber o motivo…tive que encarar mulher e filhos, sem ter o que explicar mas, jamais deixei de dormir com a consciência pesada de não ter sido honesto comigo, com o trabalho, com a empresa e com a engenharia.
Muitos que não o foram, talvez não estejam carregando cimento no cais do porto mas, não devem estar dormindo tão bem como eu. Mesmo morando em mansões, compradas ou ganhadas com os benefícios para agradar aos “CHEFES”.
Siga em frente, continue lutando pelo jornalismo ético, correto, pois é disso que precisamos em vez de notícias plantadas para mudar o comportamento de “idiotas” que acreditam em tudo que leem e escutam. Muitos até batem panelas e atualmente viraram “policiais da xereca da vizinha”, como bem definiu Aldyr Blanc, mestre nessas frases, condenando a tudo e a todos, mudando o pensamento de muitos incautos que vomitam seus ódios nas redes sociais.
Parabéns, Lúcio e espero não perder a vontade de lê-lo sempre, sabendo que terei um texto sério e sensato, sem as interferências dos “CHEFES”.
Ao ler este artigo, ou melhor esta dissertação, lembrei de um show da Velha Guarda da Mangueira e convidados. Tudo transcorria bem até q Jamelão subiu ao palco. Os talheres das mesas perceberam q havia algo de diferente, de superior.
Assim é vc!
Essa análise deveria ser obra de leitura necessária nas faculdades de jornalismo.
Quanta densidade e estilo. Para além do jornalismo, é um convite à reflexão sobre filosofia e sociologia.
Bravo!
Sobre a citação a mim:
“Luiz Alberto Py continua nadando contra a corrente”.
Grande abraço, Lúcio.
Walt Bogdanich, Andrew Jennings, Giannina Segnini, Robert Fisk, Rodolfo Walsh, José Ricardo Arques, Roberto Saviano, Jamil Chade, Lúcio de Castro entre muitos outros (historiadores, escritores, repentistas, bêbados e equilibristas, etc). Como diria Darcy Ribeiro já comentado por você algumas vezes: “Meus fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”. Eu gostaria de citar Otto Maria Carpeaux em seu ensaio “Lição de uma Santa”: “Teresa fez história. A história não se faz com armas e tesouros; a história não é o teatro dos generais e dos diplomatas. A verdadeira história passa despercebida, tranquilamente, no centro da alma humana. Ela finalmente é a mais forte. É a nossa fé. Essa fé, é preciso defini-la? […] Muitos homens se deixam convencer pelo desespero de não haver remédio contra a violência do mundo presente, exceto a fuga ou destruição. Mas há outro remédio, que está ao alcance de qualquer, da mãe, do sábio, do marinheiro, do camponês, dos jovens e dos velhos. O remédio é esta concentração do espírito ativo, que o pensamento humano conservou através de tantas tiranias, e que o preserva ainda. ”
um abraço
Parabéns!
Mantenha-se firme na trincheira!