Dimas Toledo usou Furnas para “atender as necessidades de Aécio”, diz delação de Marcos Valério
Dimas Toledo tinha como função viabilizar recursos para “as necessidades de Aécio Neves”.
É o que está na delação premiada de Marcos Valério a qual a reportagem teve acesso e que aguarda homologação da Polícia Federal.
Principal personagem do escândalo que ficou conhecido como o “Mensalão Mineiro”, o delator, preso desde 2013 em Sete Lagoas (MG) e condenado a 37,5 anos por peculato, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e pelo crime contra o sistema financeiro, aponta, no anexo 24, que o hoje senador Aécio Neves “usou os serviços” do ex-diretor da estatal para financiar a própria eleição a presidente da Câmara dos Deputados, usando recursos de fornecedores de Furnas.
Além de Marcos Valério, Dimas Toledo é apontado como o operador no esquema de corrupção que captava recursos para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em Furnas Centrais Elétricas em diferentes delações premiadas, como a do ex-senador Delcídio do Amaral, nas delações dos executivos da Odebrecht e na de Fernando Moura, ligado a Petrobras.
De acordo com o relatado por Henrique Valadares, ex-diretor da Odebrecht, Dimas participou, em 2008, das negociações para o pagamento de R$ 50 milhões no exterior, para que Aécio defendesse os interesses da Odebrecht nas usinas de Santo Antonio e Jirau, no Rio Madeira, em Porto Velho (RO).
Henrique Valadares chegou a contar que foi recebido em fevereiro daquele ano juntamente com o ex-presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador de Minas Gerais, (Aécio Neves na ocasião). O assunto era o leilão que envolvia as duas usinas.
O delator contou que Aécio teria dito que Valadares seria procurado por Dimas Toledo para tratarem do pagamento. E depois da reunião, Marcelo Odebrecht teria dito a Valadares que acertou o pagamento de R$ 50 milhões para o tucano, sendo R$ 30 milhões da Odebrecht e outros R$ 20 milhões dados pela Andrade Gutierrez. De acordo com a delação, Dimas entregou a Valadares um papel com o nome de Alexandre Accioly, amigo de Aécio Neves, para que este recebesse os depósitos em uma conta de Cingapura. Accioly nega o fato.
A partir daí, os pagamentos para Aécio (codinome Mineirinho na relação de propinas) por parte das empreiteiras foi sempre via Dimas.
Reportagem da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo no último dia 9 mostrou que Dimas Toledo abriu uma offshore no paraíso fiscal do Panamá em pleno curso da Lava Jato.
Sobre a mesma delação, reportagem de setembro mostrou que dois anexos falam em desvio de verba do Banco do Brasil para a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV).
Os anexos 10 e 39 tratam especificamente do patrocínio estatal para o vôlei brasileiro. Marcos Valério trata sobre o desvio do dinheiro que saia do Banco do Brasil e deveria ir integralmente para o patrocínio da CBV mas que, de acordo com o delator, tinha parte desviada em espécie para Ary Graça, então presidente da entidade, que, questionado na ocasião da publicação, negou.
A delação de Marcos Valério foi recusada pelo Ministério Público de Minas Gerais no ano passado. Este ano, a Polícia Federal confirmou a delação. A homologação de colaborações premiadas pela PF é alvo de controvérsia jurídica. No entanto, o caminho parece aberto para a aprovação em breve. Em votação no Supremo Tribunal Federal, o placar está em 4 x 0 para que a PF possa conduzir colaborações.
OUTRO LADO:
A assessoria do senador Aécio Neves enviou a nota abaixo para a reportagem sobre a delação de Marcos Valério:
“São falsas as acusações feitas por Marcos Valério, condenado pela Justiça a quase 40 anos de prisão e que busca, reiterada e desesperadamente, benesses para amenizar sua pena. Muitas das acusações que agora faz contra o senador Aécio Neves, fez antes contra o PT e nunca foram provadas.
O próprio Ministério Público, em diversas oportunidades, já reconheceu e descartou declarações feitas por ele em razão da inconsistência e da falta de provas.
Com relação às falsas acusações, informamos que:
O senador Aécio Neves jamais recebeu recursos ilícitos. Todas as doações feitas às suas campanhas se deram de maneira legal e oficial, estando declarados junto ao TSE.
O engenheiro Dimas Toledo foi funcionário de Furnas por mais de 35 anos tendo ingressado na empresa, ainda na década de 60, e ocupado cargos em todos os níveis hierárquicos da estatal.