As ligações perigosas de um ministro: Mandetta pagou 11 fretes aéreos com verba do mandato para empresa de amigo delatada pela JBS por emitir notas frias
Com dinheiro da verba parlamentar, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), escolhido como futuro ministro da saúde por Jair Bolsonaro, pagou para a empresa de um amigo por onze fretamentos de aeronaves ao longo dos seus dois mandatos como deputado federal. Os pagamentos foram efetuados para a Amapil Táxi Aéreo, envolvida na Lava Jato no escândalo da JBS exatamente por emitir notas fiscais sem prestar o serviço.
As transações Mandetta e Amapil pagas com dinheiro público ficaram em R$ 128.257,50 (cento e vinte e oito mil, duzentos e cinquenta e sete reais e cinquenta centavos), com reembolso de verba parlamentar entre dezembro de 2014 e maio de 2018. Total de 11 fretamentos. A locação de aeronaves não impediu que o deputado tivesse gastos também com passagens de avião de carreira pagos pelo congresso.
Para se ter uma referência e tomando janeiro deste ano como exemplo, o futuro ministro da saúde aparece pagando através do mandato por dois fretes da Amapil naquele mês. O primeiro no valor de R$ 8.250,00 e o segundo de R$ 5.365,00. Ainda assim, foram emitidas nove passagens em voos regulares de grandes companhias para o deputado. Nos demais meses em que fretou aviões da Amapil também fez gastos de voos de carreira.
(Exemplo de pagamento do mandato de Mandetta para a Amapil na prestação de contas do Congresso Nacional):
A Amapil está citada na Lava Jato por emissão de notas para voos que não realizava, de acordo com a delação de Joesley e Wesley Batista, da JBS. Na colaboração premiada dos irmãos foi apresentada a relação de 12 notas fiscais emitidas pela voadora contra a JBS no valor de R$ 168.109,00 (cento e sessenta e oito mil, cento e nove reais). Dinheiro que, segundo a dupla, ia para o esquema de pagamento de propinas. A Amapil nega. (ver no fim da reportagem).
(Relação de notas emitidas pela Amapil contra a JBS contida na delação de Joesley e Wesley Batista):
Nas prestações de conta do Congresso Nacional, Mandetta, além dos fretamentos de aeronaves com a Amapil, aparece também com despesas de compra de passagens na empresa.
Como em 23 de agosto de 2012, quando paga R $5.775,00 para a Amapil através da nota 00000593 pelo trecho Campo Grande/Corumbá/Campo Grande. Em busca por sites de viagem, a reportagem encontrou passagens para o trecho equivalente por R$ 1.507,00.
O esquema de propinas em que a Amapil aparece citada pelos irmãos Batista funcionava da seguinte forma, de acordo com a delação dos dois: a JBS conseguia incentivos fiscais em Mato Grosso do Sul. Durante o governo de Zeca do PT, voltavam 20% em propina do total abatido. Depois, com André Puccinelli, do MDB, o montante subiu para 30%. Para pagar este dinheiro por fora, a JBS se valia de empresas que prestavam serviços para ela, que assim emitiam as notas para os políticos. De acordo com os Batista, assim a Amapil emitiu as 12 notas no valor de R$ 168.109,00 (cento e sessenta e oito mil, cento e nove reais) contra a JBS para que isso fosse para suborno.
“Tinha grande amizade com Leandro, irmão do dono da Amapil”. Luiz Henrique Mandetta, futuro ministro da saúdeA reportagem tentou falar com a Amapil sobre a prestação de serviços de fretes para Mandetta e também da eventual venda de passagens, serviço de que não consta no site da empresa, sem sucesso.
Sobre a delação da JBS, a Amapil, em reportagens na imprensa por ocasião do ocorrido, publicou nota então afirmando que “em relação à conduta mencionada na delação da JBS, imforma, que todos os procedimentos se referem a voos devidamente realizados, contabilizados e declarados aos órgãos competentes, conforme ficará comprovado, sem sombra de dúvidas”.
Luiz Henrique Mandetta tem relações pessoais com os sócios da Amapil, de acordo com reportagem publicada no jornal O Globo da última quinta-feira, conforme o próprio futuro ministro afirma. E em entrevista no domingo, afirmou contou que “tinha grande amizade com Leandro, irmão do dono da Amapil”. Na entrevista, ele conta que o empresário cedeu o avião para ele algumas vezes. Mas não conta que usou verba parlamentar para pagar notas emitidas pela Amapil tendo como objeto o fretamento de voos.
Outro lado: A reportagem enviou questões para Luiz Henrique Mandetta por e-mail. Ligou para o gabinete do deputado federal para confirmar o recebimento mas não obteve resposta.
A Amapil também não respondeu as questões enviadas.
Como diz o lema Brasil acima de todos,Voa Brasil,Voa Lucio.
Lucio, parabéns pelo site e pelas reportagens! Jornalismo honesto e bem feito hoje está cada vez mais raro. Continue sempre!!
Saudades de vc é João Canalha no bate bola!! Bons tempos.