Agência Sportlight conquista o Prêmio Petrobras com o “Dossiê Nuzman”. Leia ao fim a íntegra do discurso na cerimônia de premiação:
A Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo conquistou na noite de ontem o V Prêmio Petrobras de Jornalismo com a série de reportagens “Dossiê Nuzman”. A cerimônia de premiação foi no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
O “Dossiê Nuzman” foi composto por um total de 32 reportagens mostrando o lado B das Olimpíadas de 2016. Andando por diversas vezes à frente dos próprios órgãos de investigação, muitas dessas reportagens apontaram irregularidades no comitê presidido por Carlos Arthur Nuzman, que acabou sendo preso por conta de fatos relacionados aos jogos e ao comitê organizador.
A reportagem “República de Mangaratiba de Cabral ganhou milhões no comitê de Nuzman” encabeçou a série e foi publicada em 3 de fevereiro de 2017. Mostrava dezenas de empresas de amigos do ex-governador Sérgio Cabral, a conhecida “República de Mangaratiba” ou “Turma do Guardanapo” beneficiadas em diferentes contratos com o Rio-2016, tendo muitas vezes o mesmo objeto.
Em novembro de 2017, a série já havia sido contemplada com a “Menção Honrosa” no “Premio Latinoamericano de Periodismo de Investigacón”, um dos mais prestigiados do continente, na cerimônia realizada em Buenos Aires.
Lúcio de Castro, que no ano passado também conquistou o Prêmio Petrobras na categoria “esporte” com uma série de reportagens denunciando malfeitos na Confederação Brasileira de Basquete (CBB), recebeu ontem o prêmio e fez o discurso de agradecimento.
A ÍNTEGRA DO DISCURSO NA CERIMÔNIA DE PREMIAÇÃO:
Boa noite a todos. Tantos companheiros e companheiras nessa jornada que vai ficando longa, a organização, os jurados. Meu agradecimento a todos.
Quero muito também expressar minha gratidão a quem acompanha essa aventura boa que tem sido fazer esse imenso bloco do “eu sozinho” chamado Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo. Cada leitor.
Esse “Dossiê Nuzman”, agora premiado, e grandes trabalhos feitos por outros colegas, devem lembrar todo dia que, se não somos órgãos de investigação, sem esse papel e poderes, se não podemos quebrar sigilos bancários e outras coisas, ainda assim podemos muito dentro dos limites do jornalismo. Esse trabalho buscou e conseguiu andar muitas vezes à frente dos próprios órgãos de investigação, abrir e mostrar caminhos, cumprir nosso papel nisso tudo que é dar um pé nas portas que pretendem esconder muita coisa.
Esse prêmio vem em momento muito especial da minha vida. Logo falarei sobre isso.
Antes, não poderia deixar de falar muito brevemente, e afinal, essa também é uma obrigação inerente ao ofício, sobre o contexto do jornalismo e do país nessa primavera de 2018. Que muito pouco tem de flores. É também da nossa natureza de jornalista e das obrigações ter que falar mais das sombras do que das flores.
Me assusta um pouco reler o que falei aqui nesse palco no ano passado ao receber também esse prêmio. Falava sobre as omissões do jornalismo. Recordo um trecho:
“Nesse momento em que as trevas e a sombra do autoritarismo, da censura e do obscurantismo se avizinham e se põe sobre nossas cabeças, não poderia deixar tal reflexão apenas para o jornalismo esportivo”.
Tragicamente profético.
Mais do que nunca, quando as trevas e as citadas sombras do autoritarismo batem na porta do estado democrático de direito, que pode estar ao alcance de um cabo e um soldado a pé sem precisar sequer de um jipe, é preciso relembrar intransigentemente a única razão de ser desse ofício: a defesa do interesse público.
E se os mais belos versos já escritos em verde e rosa afirmam que “é na luta que a gente se encontra”, o único encontro possível dessa profissão é essa defesa do interesse público.
Era preciso dizer tudo isso num Brasil impossível de se saber do amanhã… Não sabemos o que será dos jornalistas. Não sabemos nem se existirá o Prêmio Petrobras. Oxalá ainda exista a Petrobras…
Não sabemos se esse livre pensar poderá se encontrar nesse palco. Mas nos encontraremos com certeza, apesar de todos os pesares, numa reportagem qualquer por aí. Nessa luta a gente se encontra.
Peço perdão por me alongar um pouco. Deixo na conta dessa urgência que o Brasil nos pede todos os dias.
Enfim encerro. Com o que queria dizer de mais importante:
No ano passado, também nesse palco, ao receber o prêmio, disse: “a primeira coisa que farei ao sair daqui será dar um beijo e entregar esse prêmio ao meu pai”.
Trocaria todos os prêmios de minha carreira, trocaria toda minha carreira, qualquer coisa, para sair daqui e dar esse beijo em meu pai.
Se não é mais possível, ao mesmo tempo quero dizer que nunca tive tanta certeza do quanto estamos juntos aqui essa noite: eu e meu pai.
Juntos em tudo o que ele me ensinou, em todas as suas convicções sobre o jornalismo, acima de tudo sobre a vida, juntos no bom combate, juntos no amor ao próximo. Juntos.
Relendo algumas dedicatórias que ele escrevia nos livros que me dava, copio e devolvo para você, pai, a frase que sempre esteve presente nessas dedicatórias que deixava aos filhos: “com o mais profundo amor. Do muito amor”.
É por esse mais profundo amor que dedico esse prêmio a meu pai. Dedicamos: eu, minha mãe, irmãos e os netos dele.
Marcos de Castro, mais do que nunca e sempre: “Presente”!
Parabéns por mais esse prêmio. Vitória do jornalismo e linda homenagem a seu pai.
LUCIO DE CASTRO, COMPETENTE, TRANSPARENTE, ÍNTEGRO. PARABÉNS! PARABÉNS! PARABÉNS!
Que foda, meu irmão! Um discurso pra história. O velho certamente está orgulhoso de mais esta demonstraçao do teu compromisso com o jornalismo e a ética. Todo reconhecimento a você é pouco.
Lucio. Sou seu fã demais. Parabéns pela coragem e zelo com sua profissão nesses tempos sombrios que vivemos onde o grupo de familia do Watsapp nos entorpece de fake news. Vc nao esta sozinho. Estamos juntos!!!
Lúcio, sou seu fã de mais. Você é muito merecedor. Nesses tempos difíceis precisamos cada vez mais de gente corajosa em todas as “trincheira”. Te parabenizo. Fiquei muito tocado com as palavras sobre seu pai, também perdi o meu, e essa cratera não fecha. Mas a gente vai honrando os nossos velhos sendo cada dia mais humanos. Parabéns.
Discurso emocionante. Um orgulho enorme para todos nós cidadão e jornalistas
Que aventura cujo teor dá voz a setores da sociedade mantidos a margem! A democracia respira e agradece em meio a treva momentânea. Parabéns por manter a chama auspiciosamente acessa!
Grande Lucio, meu parceiro, meu irmão.
Parabéns pelo prêmio, com certeza seu Marcos estava PRESENTE!!!
Parabéns Lúcio “One man army” de Castro, por mais um prêmio merecido. Com certeza os nossos pais estão aplaudindo vc lá de cima e com certeza muito orgulhosos do seu trabalho.
Lucio one men army de Castro
Onde é que está o botão para “levantar e aplaudir de pé”? Grande abraço.
Parabéns meu caro Lucio.
Parabéns Mestre!
Simplesmente o melhor jornalista investigativo deste país! Muitíssimo obrigado por ser luz em tempos tão sombrios. Um afetuoso abraço, Adriano Bueno de Ourinhos-SP (fã nº01 no MMDQF)