Comparsa de dono do Azeite Royal em golpe dos cartões é sócio do irmão de publicitário do Flamengo
Os laços entre a X-Tudo Comunicação e o Azeite Royal passam pelo Flamengo. É no clube da Gávea que se encontram personagens envolvidos em casos rumorosos.
Condenado em junho do ano passado pela Primeira Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) a oito anos e meio de prisão por furto e associação criminosa, o empresário Rômulo dos Santos Gonçalves ronda figuras que fazem parte da história das duas marcas que estão presentes hoje no Rubro-Negro.
A condenação de Rômulo é decorrente de investigações de um esquema milionário de clonagem de cartões de crédito, que tinha como um dos participantes Eduardo Vinícius Giraldes Silva, o homem à frente do Azeite Royal, um dos atuais patrocinadores do clube da Gávea. Em 2014, os dois chegaram a ter, juntos, a prisão preventiva decretada, mas respondem ao processo em liberdade. Giraldes tem pena de 5 anos, 10 meses e 15 dias. Ambos estão recorrendo.
Paralelamente, Rômulo ingressou no ramo de restaurantes. Hoje, tem participação em duas empresas administradoras de franquias da rede Espetto Carioca. Um de seus sócios é Bruno Lins Gorodicht, um dos fundadores da X-Tudo Comunicação. A marca tem entre suas funções a gestão de redes sociais e a confecção de peças publicitárias para o Rubro-Negro desde o início da gestão de Rodolfo Landim.
Imagem reproduzida do Facebook do Flamengo, cujo conteúdo é produzido pela X-Tudo:
Atualmente, apesar de não aparecer formalmente na sociedade da X-Tudo, quem dá as cartas na agência é o irmão de Bruno, Marcelo Gorodicht. O trabalho tem sido alvo constante de críticas de torcedores.
Relação antigaA participação de Rômulo dos Santos Gonçalves na rede Espetto Carioca não é de hoje. Numa decisão do STF de 2014, relativa ao processo a que ele responde pelo esquema de clonagem de cartões com Eduardo Giraldes, consta um trecho que cita o restaurante.
“Está aqui a tratar de líder de um grupo criminoso com significativo poder econômico, o que fica claro com a apreensão de carros luxuosos na sua residência (Porche e Land Rover) e significativa movimentação financeira em sua conta bancária. Não se mostra crível que a única fonte de renda aparentemente lícita do denunciado, sociedade Bar e Botequim Espetto LTDA, cujas cotas compradas somam apenas R$ 10 mil, possa justificar um aumento patrimonial de R$ 1 milhão em apenas um ano”.
Hoje, Rômulo tem participação em duas empresas administradoras de franquias do Grupo Espetto, que totalizam um capital social de R$ 600 mil. Nelas, é sócio de Bruno Lins Gorodicht e de Almerinda Pereira da SIlva Souza. O empresário ainda tem a Bar e Botequim Espetto Américas, com capital de R$ 20 mil, que divide com Leandro Pereira de Souza.
Espetto com X-Tudo
Bruno Lins Gorodicht se afastou formalmente em janeiro de 2018 da FSA Comunicação, empresa que, em 2011, criou a marca X-Tudo Comunicação, segundo dados que constam na Junta Comercial do Rio.
Um dos sócios passou então a ser Gabriel Trindade Silva, que foi preso em flagrante, em maio daquele mesmo ano, por estar dirigindo uma moto roubada no bairro da Tijuca.
Coincidentemente, Gabriel também é sócio de três unidades da rede Espetto Carioca no Rio de Janeiro: Recreio dos Bandeirantes, Centro e Madureira.
A marca X-Tudo Comunicação é ligada a quatro empresas. A que trabalha atualmente no Flamengo é a M2FA Comunicação, criada em setembro de 2018, que tem como sócios Francisco Cantanhede, Marcos Milton Romano Pedrosa e Ricardo de Aquino Correa. Na prática, porém, o homem forte é Marcelo Goroditch, que se apresenta como diretor-executivo.
Espetto e Azeite no VascoUm outro clube grande do Rio, o Vasco da Gama, tem o Espetto Carioca e o Azeite Royal em sua história recente.
Em 2018, no meio de uma crise política, o time de São Januário contratou de forma emergencial a Espetto para o fornecimento de alimentação.
A empresa, porém, disse não ter recebido pelos serviços prestados por pelo menos três meses e ainda teve o contrato interrompido de forma abrupta. Entrou na Justiça cobrando cerca de R$ 2,9 milhões do Vasco.
Em 23 de julho do ano passado, Vasco e Espetto Carioca assinaram um acordo que prevê o pagamento total de R$ 1,671 milhão, sendo parte do valor em parcelas que iriam até junho de 2022. O documento consta de um processo que corre na Justiça do Rio.
Duas semanas antes, o clube havia assinado um contrato de patrocínio com o Azeite Royal até o fim de 2019. Para 2020, a parceria foi renovada.
Outro caso de políciaAtual sócio de um dos fundadores da X-Tudo e réu no processo de clonagem de cartões com Eduardo Giraldes, Rômulo dos Santos Gonçalves está diretamente ligado ainda a outro caso policial rumoroso no Rio de Janeiro.
No processo da quadrilha dos cartões, o sócio de Bruno Lins Gorodicht aparece nas escutas telefônicas como tendo realizado ligações através de um aparelho de telefone de uma empresa identificada como LGA Transporte e Materiais de Construção.
A LGA Transporte e Materiais de Construção, que servia de sede para os contatos de Rômulo Gonçalves, está no nome de Abílio Veiga da Trindade. Ele aparece em processo que corre na 23ª Câmara Cível do Rio como tendo fraudado escrituras de terrenos na Barra para venda. Terras griladas que não eram dele.
No entanto, como o processo mostra e é citado em reportagem da revista Veja de junho de 2017, Abílio Veiga era apenas vigia de um shopping na Barra e morador de Oswaldo Cruz, no subúrbio do Rio, sendo usado como laranja no esquema.
O mesmo Abílio, usado como laranja, que aparece como sócio da LGA Transporte e Materiais de Construção, de onde Rômulo Gonçalves fazia suas ligações flagradas nas escutas do caso dos cartões clonados.
Falsificação de cartõesNo processo a que responde com Eduardo Giraldes, conhecido como “Pisca”, o Ministério Público Federal afirma que a organização criminosa da qual faziam parte o dono do Azeite Royal e Rômulo Gonçalves tinha como modus operandi instalar as máquinas de cartão de crédito, chamadas de “maquina POS”, do inglês “point of sale” (ponto de venda), em estabelecimentos comerciais, com alguns de seus membros fazendo se passar por funcionários da Redecard, Visanet ou Ticket.
Vencida essa primeira etapa, entravam em cena outros membros da organização, o que o MPF classificou como “núcleo de compradores”. Pessoas que recebiam os cartões de crédito ou débito dos líderes do grupo e iam ao comércio comprar produtos previamente determinados, a serem entregues aos chefes, que repassavam tais mercadorias para uma rede de receptadores com deságio.
Os cartões de crédito eram falsificados assim como as máquinas POS também eram adulteradas. O grupo movimentou milhões, antes dos empreendimentos comerciais da dupla. O processo de Eduardo Giraldes na Justiça Federal aponta que durante o ano de 2011, o denunciado teve súbito aumento de circulação de dinheiro nas contas, chegando a acumular R$ 3,5 milhões no período sem o que justificasse e evolução patrimonial de 373% em apenas um ano.
Viagem à FlóridaApesar da condenação pela Primeira Turma Especializada do TRF-2 que pesa contra ele, Rômulo Gonçalves tem viagem marcada para a Flórida, entre os dias 20 de fevereiro e 1º de março.
Com base na decisão do STF que reverteu o entendimento de cumprimento imediato da pena após decisão em segunda instância, o desembargador federal Paulo Espírito Santo concedeu no último dia 7 o direito ao réu de descansar com a família nos Estados Unidos.
Ele já havia tentado viajar para Miami em agosto do ano passado, mas o pedido foi negado pela Justiça Federal com base no entendimento à época do Supremo.
Outro lado:
Procurado, o Flamengo afirmou apenas que “a X-Tudo não tem nada com o Azeite Royal”.
A X-Tudo negou que tenha qualquer relação com Rômulo Gonçalves e que a presença do Azeite Royal no Flamengo tenha alguma ingerência da agência.
A reportagem entrou em contato por e-mail com representantes da Espetto Carioca, que tem Bruno Lins Gorodicht e Rômulo Gonçalves como sócios, mas não houve retorno. Também não houve retorno por parte do Azeite Royal. O espaço segue aberto para quaisquer esclarecimentos dos citados.
Essa reportagem foi produzida e escrita em parceria com o “Blog do Berta“
Primeira reportagem sobre o Azeite Royal e relações com o futebol: clique aqui
Excelente, mais uma vez. Parabéns aos envolvidos na reportagem.
O engraçado é que vc não encontra esse azeite em prateleira alguma. Negócio de fachada!
Impressionante a forma como os dirigentes estão deixando a marca tirar proveito da imagem do clubes, espero que no futuro seja descoberta a relação deles com os administradores da Azeite Royal.