Empresa ligada a Maria Cristina Boner faturou no esquema de Cabral e Aécio enquanto ainda era casada com Wassef
Queiroz, família Bolsonaro, JBS, repasse da ex-mulher beneficiada em contratos com o atual governo. Não é pouco. Por onde passam, Frederick Wassef e Maria Cristina Boner Léo deixam um rastro de pegadas que começam a vir à tona. Mas os tentáculos do ex-advogado do clã presidencial e sua ex não param por aí e vão muito além do que já se tem notícia. E chegam aos esquemas de Sérgio Cabral e Aécio Neves. Com pagamentos milionários já denunciados na Lava Jato feitos pelos governos de Minas e do Rio para consórcios nos quais a empresária tinha participação acionária. Realizados no tempo em que ainda era casada com o “Anjo”.
Os contratos do consórcio em que uma empresa ligada a Maria Cristina Boner fazia parte chegam a mais de R$ 130 milhões no Rio e R$ 310 milhões em Minas. A participação no que veio a se transformar em uma máquina de corrupção de Sérgio Cabral e Aécio Neves foi dentro de um esquema em que os dois governantes espelharam as mesmas prestações de serviço e praticamente as mesmas empresas e foi reproduzido nos dois estados. Dentro da quantia paga por esses estados aos consórcios, cada empresa participante ganhava o montante equivalente a sua porcentagem na sociedade.
Amigos de quatro décadas, próximos desde os anos 80 quando militavam juntos na “juventude peemedebista” e com as famílias estabelecendo laços, já que Sérgio Cabral chegou a se casar com Susana Neves, prima de Aécio, os dois coincidentemente tiveram a mesma idéia: a montagem de programas de atendimento ao público onde governavam. No Rio ganhou o nome de “Poupa Tempo” e em Minas ganhou de “Uai”, interjeição típica dos locais que simplificava “Unidades de Atendimento Integrado”.
Consórcio faturou mais de R$ 130 milhões em esquema de Cabral denunciado pelo MPFAs coincidências não paravam na idéia. O consórcio “Minas Cidadão Centrais de Atendimento” foi formado por quatro empresas: Alternativa Consultoria e Participações, Gelpar Empreendimentos e Participações, Shopping do Cidadão Serviços e Informática e B2BR – Business to Business Informática do Brasil.
E no Rio, com Sérgio Cabral, venceu o “Consórcio Agiliza”, que tinha cinco empresas em sua constituição: Shopping do Cidadão Serviços de Informática,CEI Shopping Centers, Gelpar Empreendimentos e Participações,Prol Soluções e B2BR- Business to Business Informática do Brasil.
As três empresas acima grifadas são comuns aos consórcios dos dois estados: a B2BR- Business to Business Informática do Brasil, Shopping do Cidadão Serviços de Informática e a Gelpar Empreendimentos e Participações.
A “B2BR- Business to Business Informática do Brasil”, que está no coração desse núcleo comum, tem como fundadora Maria Cristina Boner Léo. Que foi casada com Frederick Wassef entre os anos de 2008 e 2017, de acordo com as informações em entrevista recente do próprio ex-advogado dos Bolsonaro e alcoviteiro entre Fabrício Queiroz e a família.
Em tempo paralelo ao início das atividades do Consórcio Agiliza, a então mulher de Frederick Wassef registrou a renuncia ao quadro da empresa na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp). O ato de Maria Cristina Boner Léo é de 26 de novembro de 2009. Na mesma data, a filha Mariana Boner Léo assumiu a posição da mãe na B2BR.
O casamento de Wassef e Maria Cristina atravessou o mesmo recorte do tempo em que a B2BR, através do “Consórcio Agiliza”, faturou altas quantias no governo Sérgio Cabral. Mais exatamente R$ 132.538.350,00 (cento e trinta e dois milhões, quinhentos e trinta e oito mil e trezentos e cinquenta reais) entre os anos de 2009 e 2015, como mostram o Portal da Transparência do Rio de Janeiro e a denúncia da Força-Tarefa da Operação Lava Jato do MPF-RJ.
(Fonte: denúncia do MPF-RJ e Portal da Transparência do estado do Rio de Janeiro)
O “Consórcio Agiliza” foi alvo da Lava Jato. A denúncia apresentada pela Força-Tarefa do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro que resultou na “Operação C’est Fini”, em 23 de novembro de 2017, é taxativa ao tratar sobre a utilização do consórcio para os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, demonstrando que o grupo de empresas da qual a B2BR fazia parte “pagava recursos de propina para a organização criminosa instituída por Sérgio Cabral”, afirma a investigação, posteriormente aceita pela 7ª Vara Federal Criminal e que resultou na prisão de George Sadala, integrante da “Turma do Guardanapo” e sócio da “Gelpar Empreendimentos e Participações”, interseção entre os consórcios do Rio e de Minas, assim como a empresa da então mulher de Wassef.
De acordo com a denúncia do MPF-RJ, o dinheiro era pago pelo governo do estado e ia direto para o Consórcio Agiliza. De lá, a Gelpar Empreendimentos e Participações, de George Sadala, centralizava o repasse de propina do consórcio para Cabral e encaminhava a taxa através de diversas outras empresas menores, buscando assim lavar o suborno.
O consórcio que formou o “Poupa Tempo” inaugurou um novo setor de propinas para Sérgio Cabral, segundo o MPF. De acordo com a denúncia apresentada, “o mesmo esquema de oferecimento de facilitações em troca de propina, até então, implementado nos setores de construção civil, saúde, transportes públicos e serviços especializados” e que, ainda nas palavras do MPF, pagava pedágio como “percentual de propina de 5% de todos os contratos administrativos celebrados com o estado”. Percentual esse que viria a ficar famoso como a “Taxa de Oxigênio” que Cabral cobrava.
O “Agiliza” seria peça da engrenagem de um dos quatro núcleos descritos pelo MPF que formavam a “organização criminosa” de Cabral: o econômico, o administrativo, o político e por fim o núcleo financeiro operacional, ao qual o empresas de natureza como a constituída pelo consórcio faria parte, “formado por responsáveis pelo recebimento e repasse das vantagens indevidas e pela ocultação da origem espúria, inclusive através da utilização de empresas e escritórios de advocacia, algumas delas constituídas exclusivamente com tal finalidade”.
O período também se notabilizou por registrar um imenso aumento do capital da B2BR. Dos R$ 7.516.374,00 (sete milhões, quinhentos e dezesseis mil e trezentos e setenta e quatro reais) anteriores a 2009, pula para R$ 19.803.535,54 (dezenove milhões, oitocentos e três mil, quinhentos e trinta e cinco reais e cinquenta e quatro centavos) naquele ano e vai para R$ 20.803.535,54 (vinte milhões, oitocentos e três mil, quinhentos e trinta e cinco reais e cinquenta e quatro centavos) em 2011.
Aécio foi o pioneiro nas parcerias PPPs no Brasil, por onde escoaram milhões em corrupçãoOs consórcios por onde escoaram imensas quantias para corrupção nos governos Cabral e Aécio foram frutos de uma obsessão de Aécio Neves: as Parcerias Público-Privadas (PPPs), que se revelaram um duto seguro para essa transferência de renda.
O discurso de que as PPPs eram o caminho seguro para a promessa tantas vezes repetida de “choque de gestão” e de modernidade e que a tantos seduziu, se mostrou na prática um ralo de corrupção. Com máxima celeridade, em 16 de dezembro de 2003, menos de um ano depois da posse (1º/1/2003) no Palácio da Liberdade, Belo Horizonte, Aécio Neves assinou a Lei Estadual nº 14.868, que estabeleceu e normatizou as Parcerias Público-Privadas (PPPs).
A pressa em abrir caminhos, normatizando e viabilizando uma participação do setor privado muito mais expressiva fez o ato ser absolutamente pioneiro no país: a Minas Gerais de Aécio foi assim o primeiro estado da federação a ter uma lei de PPPs. Antecipando-se inclusive à União, já que o Brasil só teria a sua regra de PPPs estabelecida um ano depois, com a Lei n° 11.079, em 30 de novembro de 2004.
O então governador sempre gostou de ostentar a paternidade do pioneirismo das PPPs. Em artigo na Folha de São Paulo de 27 de novembro de 2005, Aécio exibia a cria orgulhoso: “Aliás, a lei das PPPs de Minas, assinada em dezembro de 2003, foi o primeiro instrumento dessa natureza no país. Essa postura de vanguarda do Estado despertou o interesse do BID, que disponibilizou recursos a fundo perdido para a Unidade PPP de Minas desenvolver projetos-piloto, para criar mecanismos de garantias e difundir esse modelo de parcerias”.
Obras em profusão ganharam as Minas Gerais. Parcerias com empreiteiras se multiplicavam no setor rodoviário, no saneamento básico, no sistema prisional, construção e gestão de campus da Universidade Estadual de Minas Gerais e um novo centro administrativo.
Mas não só. As PPPs foram o caminho para muito mais. A peça de propaganda do governo sobre as PPPs traçava o destino que seria alcançado através das parcerias: “Tornar Minas Gerais o melhor estado para se viver”. As PPPs eram caminho seguro para se “promover o desenvolvimento econômico e social em bases sustentáveis” e assim chegar “a melhora do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”, de acordo com a publicidade do estado mineiro.
A propaganda é clara: as PPPs eram o pilar da modernidade dos novos tempos.
Na prática, algumas PPPs, cantadas em verso e prosa como símbolo do pioneirismo de Aécio e pilar da modernidade de sua excelência em gestão, foram o gene estrutural de organizações criminosas.
A mais notória interseção entre Cabral e Aécio foram os consórcios que exploraram os programas de atendimento ao público nos estados governados pela dupla, o “Rio Poupa Tempo” o “Uai” (Unidade de Atendimento Integrado), em Minas.
Aécio Neves deixou o governo mineiro em 31 de março de 2010 para concorrer ao senado. Deixou tudo pronto para apenas um mês depois, o sucessor, Antônio Anastasia, atual senador (PSDB-MG), lançar no 1º de maio, dentro do plano de “Parceria Público Privada (PPP), a consulta pública para inclusão, implantação, gestão e manutenção das UAI nos municípios de Betim, Governador Valadares, Juiz de Fora, Montes Claros, Varginha e Uberlândia. A minuta do edital é aprovada em 18 de maio de 2010 e a publicação é feita do Edital 01/2010 é feita em 1º de junho de 2010. No dia 22 de outubro de 2010, é anunciado o Consórcio Minas Cidadão Centrais de Atendimento como vencedor.
Outro lado:
A reportagem enviou pedido de resposta para Maria Cristina Boner Léo, que não respondeu e não obteve contato com Frederick Wassef.
Lúcio você é um monstro do jornalismo investigativo, você é o orgulho do cidadão de bem que aprecia a verdade íntegra e não fracionada… Obrigado pelo que faz pelo jornalismo, pelo futebol, pelo povão, pois, você da luz a esse obscuridade que desgraça o Brasil …
Parabéns pelo seu ótimo trabalho Lucio, te acompanho sempre nos podcasts Muito mais do que futebol e sempre acompanhei desde a época do bate bola com joão canalha, muito obrigado pelo seu trabalho e se puder manda um abraço pra nós do interior de são paulo, grande abraço!!