Duas ou três palavras sobre jabuticabas, C-R-O-I-F-E e o “tatiquês” que abunda por aqui na análise do futebol
A maior jabuticaba da história do Brasil tem pronúncia, nome, sobrenome e pedigree dos mais nobres: Johan Cruijff.
De uso recorrente para nomear o que só existe por aqui, a pequenina fruta costuma batizar golpes, leis estapafúrdias e afins, só vigentes na terra brasilis.
Embora sabidamente holandês, foi por aqui que o mais famoso número 14 da história do futebol mundial ganhou algo que só existe por essas bandas. Uma verdadeira e inacreditável jabuticaba: de maneira unânime seu nome é pronunciado nesta parte do globo com uma sonora letra “O”.
Não há outro lugar do planeta em que se cometa tal desatino. Em que tenha frutificado tamanha jabuticaba.
“C-R-O-I-F-E” se diz orgulhosamente no país das tomadas de três pinos. E do “Johan C-R-O-I-F-E”.
Na língua-mãe, os holandeses falam com um “A” bem aberto, precedido por aquele “erre” que nem Galvão Bueno conseguiria fazer. “C-R-R-R-R-A-I-F”, arranham a garganta.
Já pedi para diversos holandeses. Desde o saudoso Frei Paulo, dominicano corajoso na resistência da ditadura como foram os dominicanos em geral, senhor já de idade e que vivia ali no convento do Leme, holandês que veio baixar nesse hospício verde e amarelo e se ria sempre com o nosso “C-R-O-I-F-E”. Imagino que ele via o diabo naquela invenção tão nacional de chamar o craque daquele jeito.
No país deles, em tom baixo como quem tem algum pudor, pergunto sempre a pronúncia, mas, cuidadoso, não conto que falamos “C-R-O-I-F-E” por aqui. Imaginem o que eles iam rir da minha cara.
Para não ser pernóstico, e o jornalismo já tem muito desses por aí, não adotei o acento holandês. Mas também para não cair no ridículo de nossa jabuticaba, tampouco o “C-R-O-I-F-E”. Assim, adotei a pronúncia aportuguesada, aliás, sempre a melhor maneira pra falar nomes estrangeiros. Se lá fora eles andam para caprichar em nossos acentos, por que temos que macaquear isso por aqui?
Da maneira como leio, falo: “Cruijff”. Ou melhor: “C-R-U-I-F-E”. Jamais houve vez em que assim pronunciei que não houvesse um sabichão, um gato-mestre com doutorado em cultivo de jabuticaba, que não morresse de rir e tacasse xingamento. De ignorante pra baixo: “É C-R-O-I-F-E”, imbecil”! Lembro-me de alguns programas em que falei o “C-R-U-I-F-E” para não cometer o desatino do “C-R-O-I-F-E” e choveu mensagem ridicularizando. Então tá. Sempre achei muito maluca essa história de ter de se jogar pela janela porque outro tava se jogando…E falar “C-R-O-I-F-E” nada mais é do que se jogar pela janela porque outros estão se jogando.
Como nadar contra a corrente nunca chegou a ser grande temor ou empecilho nesta modesta existência, segui e sigo com meu mui humilde “C-R-U-I-F-E”.
O bom Gerd Wenzel, tão bom profissional como pessoa e cidadão, alemão mas que versa das coisas do idioma de Van Gogh, certa vez me apoiou no canto do ringue sobre minha resolução e sobre o equívoco do uso do ““C-R-O-I-F-E”.
Nem sempre sabemos como uma jabuticaba começa. Nesse caso raro, é conhecida a origem da jabuticaba “C-R-O-I-F-E”. Os mais velhos vão logo reconhecer. Mas nem precisa dar o nome, deixa quieto que é pra gente poder descrever melhor os sujeitos, os pais dessa jabuticaba.
Pai e filho eram jornalistas também. O pai, embora analfabeto de quatro costados, adorava um termo rebuscado. Devia ir ao dicionário para lançar novidades. Não sabia juntar lé com crê, mas soltava pérolas. Nas transmissões de rádio, quando acabava um jogo, deixava recado para que a família fosse buscá-lo no aeroporto com o carro Mercedes. Entre uma palavra de dicionário e outra, tacava um jabá, uma picaretagem. Tinha um programa de TV também, onde a cada bloco fazia 3 minutos de debate e 5 de jabá.
O filho não era diferente. Analfabeto do mesmo jeito, pernóstico qual o pai. E afeito as coisas da picaretagem também.
Pois foi essa dupla que, certamente achando que davam uma aula para a plebe ignara, lançou solenemente: “Johan C-R-O-I-F-E”. Os pioneiros. Os criadores da jabuticaba mais singular que o Brasil foi capaz de produzir, produto único no mundo. E não é que arrebanharam uma legião de seguidores? Mesmo alguns dos melhores que conheço, certamente por ver que a causa é perdida e, já que todos falam…
Recentemente falávamos de regionalismos por aqui. Que são de outra categoria. Em sua maior parte, não são uma questão de certo ou errado, criticar ou não o uso. A crítica era sobre o colonialismo de alguém do Rio, por exemplo, usar “catraca”, “balada”, “treta”, etc. Perfeitos e sem crítica possível, desde que para alguém de São Paulo por exemplo. Um carioca falando isso soa ridículo. Toda honra e toda glória pra gente pernambucana, que me parecem os menos dispostos a abrir mão de suas maneiras e expressões. Amante de minha cidade cada dia mais apesar e por todos os pesares, decidi que na hora em que ouvir o primeiro “fulano ficou pistola” por aqui não sairei mais de casa.
Pois nada tem sido mais rico e generoso nos últimos tempos para esse imenso “FEBEAPÁ” (Google em: “Satanislaw Ponte Preta”), nessa imensa produção de jabuticabas do que o “tatiquês” que agora assola nosso jornalismo esportivo.A exceção para regionalismos usados ao gosto da região geográfica é o inacreditável “vou me trocar”, sempre me puxou a orelha o meu maior Mestre. Claro, nesse caso não é opção de regionalismo, é erro mesmo, grosseiro, no uso de uma expressão que é um equívoco, uma impropriedade vocabular imensa, embora tenha se consagrado e vá se alastrando Brasil afora, culpa das novelas certamente. Porque, afinal, tirando o Clark Kent, ninguém “se troca” ao entrar na cabine. Troca-se de roupa mas você sai lá de dentro a mesma pessoa.
E é assim, de jabuticaba em jabuticaba, de impropriedades em impropriedades inventadas por um analfabeto funcional e seguidas por todos que vamos estuprando a pobre última Flor do Lácio.
Pois nada tem sido mais rico e generoso nos últimos tempos para esse imenso “FEBEAPÁ” (Google em: “Satanislaw Ponte Preta”), nessa imensa produção de jabuticabas, do que o “tatiquês” que agora assola nosso jornalismo esportivo.
Neste momento da vida brasileira, cansado de tanto senso comum, de tanta repetição de qualquer fake news que passa, dos argumentos rasos formados ao som de bateção de panela, vou de antemão pedindo que me poupem do surrado ao se tratar do tema: “mas o futebol mudou e você quer ficar lá no atraso, não entendeu nada”.
Tratamos exatamente disso em 12 de janeiro de 2017, no texto “Sarmiento explica a defesagem dos nossos treinadores e o sucesso dos hermanos”. Lá estava:
“Em resumo muito frouxo, estávamos diante de um novo tempo. De compactação, de posse de bola ou de contra-ataques mortais, de participação de todos e funções no lugar de posições, de marcação lá na frente, enfim, tudo aquilo que muitas vezes é dito de maneira bem chata com por alguns como se estivessem falando dos resultados do acelerador de partículas e detivessem o último cálice do conhecimento.
Não entenda as palavras acima como crítica a novos caminhos da análise do futebol. Assim como dentro das quatro linhas, novos conceitos e referenciais foram necessários. Só não precisam ser ditos como quem anuncia a última fórmula que explica a equação jamais revelada. E assim, nesse quase pedantismo de quem crê nisso, chegamos a expressões patéticas como “o último terço do campo”, repetido em demasia, e que expressa bem esse espírito de alguém achar que inventou a roda. “Último terço do campo” embute essa aura de religião que alguns querem dar a simples explicações de…futebol. Se seguirem falando isso, vou aproveitar, patentear e fundar uma igreja, a “Santa Igreja do Último Terço”.
Desenhando para que ninguém mesmo apareça falando que o futebol mudou… O futebol sim, algumas ideias sim. Mas estamos falando aqui de jornalismo, de comunicação, de boa capacidade em estabelecer comunicação. Esse debate, ao qual todos podem participar porque discurso excludente do tipo “você é jornalista?” é uma aberração, mas deveria ter começado criticamente no seio do jornalismo.
Em última análise, o ônus da decisão de como vai se comunicar é dos profissionais do ramo. E eles tem certas obrigações. Sobre definições e obrigações, a que mais gosto é a de um estudioso do ramo, um famoso linguista, algo assim, não vou lembrar com exatidão: “nossa obrigação de comunicadores é nos fazer entender pelo homem mais simples e pelo maior dos sábios ao mesmo tempo”.
É no mínimo ridículo que jornalistas estejam achando o máximo, babando com dialetos. Ditos e criados muitas vezes por grotões e setores que, apenas por vaidade, querem dar uma roupagem sofisticada a uma expressão para parecer muito refinada a própria análise. Ou pior: muitas vezes por quem não tem o manejo mais rudimentar da língua, mas ainda assim se arvora a disparar termos que parecem, ao menos aos ouvidos de um pequeno círculo, a última garfada da Santa Ceia.
Assim, expressões inventadas por técnicos de futebol semialfabetizados ou mesmo os mais cultos, mas querendo tornar seu negócio algo como quem explica o já citado acelerador de partículas, ou em fala de ministro do Supremo, vão sendo incorporadas por nossos analistas.
E quem pensa que essa é uma discussão menor, é antes de tudo um traidor da essência de sua função de comunicador. Porque entender os processos de mudanças no futebol é tarefa urgente. Mas daí a transformá-los dialeto de uma tribo, é patético.
No caminho natural de nossa crônica, do quase parnasianismo ao se falar de futebol, passando pela riqueza sem o menor compromisso com o rigor de um Nelson Rodrigues (que maravilha o que deixou sobre futebol!), aos dias de hoje, da necessidade de gráficos e tabelas para dar conta da complexidade do jogo, não há certo nem errado. Cada qual é produto de seu tempo, e assim deve ser. Mas sempre com o compromisso de um ofício, e não de uma tribo pretensiosa e muitas vezes pouco alfabetizada. Para não chegarmos em algo que começa e se multiplicar em resenhas explicando futebol: “a gente chama isso de…”. A gente quem, cara pálida? Os detentores do último segredo de Fátima?
Nenhum comentarista esportivo teve a capacidade de comunicação e de falar com o público como João Saldanha. Traduzia o jogo perfeitamente com linguagem que o povão amava e entendia maravilhosamente bem. Eram outros tempos, as análises tinham outras referências como citamos aqui e é obrigatório evoluir nessas análises, ver as novas imposições que o jogo muito mais tático impôs. Mas sou capaz de apostar todas as minhas fichas na certeza de que Saldanha teria tirado de letra alcançar e incoporar os novos protocolos e padrões.Certamente não. A obrigação do ofício na comunicação exige a boa e velha obrigação em se comunicar bem. Só faltava depois do economês, do juriquês, a hora e a vez do “tatiquês”!
Assim chegamos a bobagens colossais como “o último terço” já citado, apenas uma ridícula e pernóstica expressão. E a outras em que o sujeito, dentro de sua limitação, não percebe ser uma impropriedade. Um erro.
Como “propor o jogo”, tão em voga. Ora, ora, ora…Pelo que entendo, querem dizer que quem tem a posse de bola está “propondo o jogo”. Imagine a cena: tenho a bola e te proponho algo. A imagem é tão óbvia: quem tem a proposta de domínio com bola na maior parte do tempo, pelo que parece quererem dizer, é o time que impõe o jogo. Não propõe droga nenhuma. Impõe. É algo como imaginar na roda de bobo: “vou te fazer uma proposta: eu brinco aqui e você fica de otário aí, tá?”. Ora, na roda de bobo, o nome já diz, você impõe ao sujeito ser o otário da vez. “Propor o jogo” é equívoco tão grande quanto já espalhado.
Ou agora para quem não “propõe o jogo” tem nova expressão se consolidando no FEBEAPÁ: “o time dá a bola pro adversário”. Quem cria isso sequer reflete o ridículo da imagem que desenha.
Não me lembro de alguém entregando a bola pro adversário. Lembro de retrancas históricas, mesmo antes de linhas de cinco ou de estacionar o ônibus, esta sim uma grande imagem que honra locutores antigos capazes de imagens sonoras como “fumaça de gol”, espetacular por ela mesmo, ou de jogos de hoje, onde o time que planeja ficar atrás tenta contragolpes diante da maior capacidade do outro em impor seu jogo, ou se nem isso conseguir, rifa essa bola, mas jamais com intenção de papai Noel: “olha, toma essa bola pra me atacar”! Algo que não existe em nenhum esporte do mundo, nem no vôlei onde você é obrigado a passar a bola pro outro time, mas o faz com a intenção de que ele se ferre. Fere até o espírito do jogo “dar a bola ao adversário”. Ah, essa turma do tatiquês…
Existe também um inacreditável “performar” que vai tomando corpo. O sujeito que fala achando espetacular, não consegue sequer entender que performance pode ser boa ou ruim. Dita no sentido de “desempenho”, claramente pode ser positivo ou negativo. Então dizer simplesmente o tal “performou” é…ter performance ridícula!
Dia desses o comentarista/repórter Mauro Cezar, capaz de todas as análises que os dias de hoje pedem mas sem o ridículo do “tatiquês”, riu de algumas dessas invenções, destacando o “jogador terminal” (finalizador), o já citado “último terço do campo” (as imediações da área inimiga), o fantástico “portador da bola” (quem tem a pelota aos pés) que mais parece um cheque e o inacreditável fato de citar um jogador como a “perna mais curta”, sendo isso um detalhe tático.
Confesso que demorei a me recuperar de tanta risada. “Jogador terminal” dispensa maiores comentários de tão ridículo. E “perna mais curta” me lembrou um samba por onde passei onde tinha um sujeito que realmente tinha a perna mais curta, e no caso era mesmo uma característica da anatomia. Perversa como é a gente da rua, chamavam o sujeito de “agogô” pra marcar bem ter uma perna mais curta do que a outra.
Ao menos poderiam ser mais engraçados nossos adeptos do “tatiquês”. Que adotem o “agogô” pra falar do jogador que é a perna mais curta de um esquema.
No mais, todo respeito do mundo aos mais do que necessários nos dias de hoje chamados analistas táticos. Só não pode ser uma seita. Todo profissional do ramo terá que caminhar pra isso. Para tais análises. Claro que junto com o respeito a magia do futebol, ao imponderável, ao desvão que uma mente humana pode produzir e definir um jogo, ao improviso. Todo poder do mundo para as boas análises táticas. Só nos poupem de mais um dialeto no país que adora uma jabuticaba. Como dissemos, já temos o “economês”, o “juridiquês”. Não precisamos do “tatiquês”.
Ps:
Certamente esqueci de algumas pérolas do “tatiquês” que adoro ouvir. Conforme leitores e autor forem lembrando, vamos rindo por aqui.
Ps2:
Curiosamente, e pra mostrar o quão pernósticos são alguns dos adeptos do “tatiquês” por aqui, algumas das obras mais recentes lá de fora muito relevantes e que falam do que há de mais moderno para se entender o que vai mudando no futebol, passam longe do “tatiquês” e são de agradáveis leituras. Como “A Pirâmide Invertida”, de Jonathan Wilson, e “Guardiola Confidencial”, de Martí Peranau.
Ps3:
Nenhum comentarista esportivo teve a capacidade de comunicação e de falar com o público como João Saldanha. Traduzia o jogo perfeitamente com linguagem que o povão amava e entendia maravilhosamente bem. Eram outros tempos, as análises tinham outras referências como citamos aqui e é obrigatório evoluir nessas análises, ver as novas imposições que o jogo muito mais tático impôs. Mas sou capaz de apostar todas as minhas fichas na certeza de que Saldanha teria tirado de letra alcançar e incoporar os novos protocolos e padrões. Sem usar o “tatiquês”. Usando o vocabulário que convém a um comunicador. E sem muitas das impropriedades que se multiplicam, difundidas por gente que não tem o menor compromisso com o ofício e parece só olhar para o espelho. Como os craques de verdade de outrora se adaptariam as novas exigências em campo. Cabe também aos analistas de hoje o olhar um pouco para algumas referências de ontem e incorporar o que tinham de melhor.
Lembro de já ter lido em algumas colunas, e também de ter ouvido em programa de debates, que tinha gente que não sabia “ver” futebol. Imagino se daqui a pouco teremos que fazer uma prova para tirarmos uma carteirinha de torcedor e ser regularizados, como entededores do jogo! Hahahaha
Lúcio, acredito que seja, de maneira indireta, um posicionamento de comunicação.
É quase que um contaponto a grade atual das tvs a cabo, que teve que se popularizar e brigar pela audiencia com temáticas de fofoca e de sensacionalismo pelo sensacionalismo, a discussao em alto tom de voz, mas profunda como um pires.
Ai a richa que sempre existiu nas redações, se traduz em “programas separados por classe”, ainda que falem das mesmas coisas. Soma-se à humana batalha de egos que gera os “eu entendo mais de futebol do que você”.
por isso a necessidade de “tornar tecnicista” algo tão imponderável, humano – e bonito! – como é o jogo.
ótimos dias!
Como sempre, preciso. Já contei está história pro grande Mauro Cezar. Estava num churrasco com alguns amigos e o potente Márcio Araújo era o assunto. Lá pelas tantas, um soltou que ele era um “pivote”. Nunca ouvi o termo antes, então perguntei. O “sábio” disse-me que era um volante. Fiquei sem resposta quando perguntei-lhe por que não disse logo volante. Conversa segue e outro manda “time tal joga um futebol reativo”. Pronto, percebendo como meus amigos começaram a conversar sobre futebol, peguei minha cerveja em fui embora, pois estava pronto pra joga-la na cara do primeiro que falasse “o terço final”.
Quando o São Paulo contratou o Cueva, perguntei no twitter se alguém conhecia. Recebi a seguinte resposta: “é um Deus do ataque posicional”. Até hoje, não entendi
Excelente!!! Sou seu leitor.
Ritmista é uma boa. Heheheh. Agora jogador terminal é nova kkkkk. Gostei do texto, traz uma discussão muito interessante sobre o papel do jornalismo de informar, ao utilizar um dialeto próprio pode realmente desinformar. Abraços.
Grande Lúcio!
Lembrei-me de algumas pérolas aqui: a “linha alta” (pra se referir à marcação sob pressão, o adiantar do time); e o “jogo apoiado” (aproximação, dar opção pra tabelinha, 1, 2), que também não fica atrás na esquizofrenia do tatiquês.
No mais, outro grande texto.
Abraço!
“Triângulo da base alta.”- Ilustríssimo Professor Doutor Mano Menezes.
Ora, se tem base alta é porque também a tem baixa, nesse caso o “triângulo” foi achatado e passa a ser chamado de trapézio! Hahaha. Sempre ótima leitura o Lúcio.
Bom dia, Lúcio!! A cada leitura um novo aprendizado. Você nos força a botar o cérebro para trabalhar e não somente ser uma massa para preencher o cranio. Grato!!
Saldanha se divertiria muito com esse dilúvio de parábolas da imprensa esportiva.
A grande qualidade dele era inverter a narrativa do Nelson Rodrigues, do extraordinário para o mundano, enfiando suas histórias que, de tão absurdas, até pareciam lembranças.
Ele diria, talvez, que o comentário esportivo foi pro vinagre…
Num futebol que já começa a adotar o papel de “ritmista”, até que um “agogô” cairia bem.
É, os meia armadores, agora estão sendo chamados de “ritmistas “.
Primeira vez que ouvi, demorei pra entender!
Kkkkk
Lembrei de outro espetacular jabuticabismo da imprensa: o famoso mafioso siciliano Tommaso Buscetta, rebatizado para Busqueta quando foi preso no Brasil nos anos 70.
Obrigado pelo belo texto!
Brilhante texto nobre Lúcio de Castro! Quanta falta vc faz na TV! Luz e paz, amigo! Abraços, do rubro-negro de Ourinhos-SP.
Perfeito, Lúcio. Eu acho que o momento condiz com o assunto também: após o 7×1 o que surgiu de tatiquês foi surreal. Parece que fomos apresentados a tática no futebol após o juiz apitar o fim do jogo no Mineirão. É como disse: precisamos estar atentos com a evolução do futebol, mas, ao falar sobre isso, transmitir de uma forma clara, sem sofisticar e criar uma nova linguagem em cima disso. Os que utilizam o tatiquês parece que estão falando numa sala com analistas táticos, não com uma público imenso no sofá. Lembro-me de na faculdade de jornalismo assistir a uma aula de Filosofia com um professor que falava como se estivéssemos no terceiro ano de Filosofia, e não em jornalismo. Resultado: a sala inteira boiando e não entendo bulufas do que ele queria passar.
Para não passar batido: não suporto ouvir amplitude, momento em que o time utiliza os extremos do campo, à uma alusão de “alargar” os jogadores no gramado, parece que estamos falando de física.
Jogador terminal é um termo que uso há tempos, mas com outro sentido. Rodrigo Pimpão, por exemplo, é um jogador terminal: toda jogada termina nele, seja com uma bica pra fora ou com um passe errado.
Ótimo texto. Parabéns pelo blog.
Confesso que fiquei curioso. Quem são os jornalistas pais da jaboticaba Cruyff?
Só consigo lembrar de dois jornalistas com essas características citadas pelo Lucio: Orlando Batista e o seu filho Luiz Orlando.
Acho que é isso!
claro que é isso!
Perfeito como sempre, Lúcio! “Incisivo”! Hahahahaha
E boa e velha retranca virou o atual futebol “reativo”.
Futebol é simples. Mas o simples é muito difícil de ser percebido. Belo Texto!
Caro Lúcio, ótima seu texto. Aceitando seu convite, a título de lembrete, algumas pérolas do “Tatiquês”, que já é de uso comum nas TVs:
um jogador quando vem driblando e perde domínio d a bola:” não soube gerenciar os espaços”
quem pressiona a defesa quando está está saindo pro jogo faz uma “marcação alta”
quem pressiona o jogador adversário que está com a pelota: esse “ataca a bola”
Sds!!!!
Fico imaginando você falando sobre seu escrete favorito, pensando no apronto e na regra de três que seu técnico pode usar pra melhorar o score do prélio. Você torcendo pro beque deslizar no relvado, o centro-médio lançar pro ponta de lança vencer o arqueiro e mandar pra baliza.
Ritmista, pivote, jogo apoiado, jogo entrelinhas, jogo reativo, jogador posicional.
E ainda tem o box to box que o Mauro Beting (brilhantemente) traduziu para todocampista.
O “propor o jogo” foi lançado pelo Mano Menezes num Bem Amigos quando ainda era técnico da Seleção, lembro como se fosse hoje.
Tenho a impressão que os comentaristas falam para os seus pares, não para os torcedores. Eu adorava assistir aos programas de futebol, hoje não tenho mais paciência; assisto a uma coisa ou outra e curto muito mais o futebol.
Lúcio, acrescentando a lista de jabuticabas está a famosa fórmula de Bhaskara. Tem tatiquês até na matemática.
Muito bem lembrado. E essa jabuticaba é grande, viu….
EXCELENTE!!!!!!
Nada mais que isso.
Ótimo texto como sempre. Pérolas que emburrecem por tabela e se transformam em falsos diplomas de modernidade. Não existe mais minutos de desconto ao fim de uma partida – como já nos ensinou com clareza seu pai. Mas no fim, quem não se comunica, se trumbica. Simples e direto.
Minhas saudações antarcticanas, por favor
Uma boa também e que ainda preciso entender é o tal JOGO VERTICAL. Na minha ignorância, seria jogar pra cima???????
É só pegar a bola e tentar chegar o mais rápido no gol do adversário, sem muito passe pro lado.
Só para citar mais algumas jaboticabas clássicas:
– “Reconhecimento de campo”, para equipes que estão visitando um estádio pela primeira vez…
– “Reverter o placar” de um jogo. Este eu tenho muita dificuldade em entender; é possível um jogo que está com placar de 1 a 0 voltar a ser 0 a 0?
Ótimo texto!
O que eu mais gosto é o termo “flutuação”. É tão genérico e serve para várias situações futebolísticas. “Flutuação da linha defensiva do XV de Jaú no Torneio Rio-São Paulo de 1999”, excelente tema para monografia da Faculdade Federal da Cocanha.
Tem o famoso “bater campeão” repetido nas mesas das tevês a cabo.
Fico pensando, “bater campeão” seria quebrar a cara do Mike Tyson?
Mas isso é só mais uma prova da arrogância dos jornalistas brasileiros. Na TV e no rádio se sentem como seres superiores que precisam decifrar o esporte para os fanáticos que não sabem o que estão vendo. O dever não é mais informar, mas sim esclarecer.
É só ver as chamadas do Sportv. TODAS colocam o torcedor como palhaço, idiota, que muda de opinião a cada segundo.
Mas o pior de tudo pra mim é o jornalista dizer “fulano não sabe dar passe de 3 metros” ou “ciclano não joga NADA” ou “tem que trocar esse por um que saiba futebol”. Isso falando de jogadores profissionais de times de ponta!
Uma pena, e a geração de jornalistas que vem por aí, além de arrogante, é formada por celebridades estrelinhas das redes sociais. Não chegamos no fundo do poço ainda, podem ter certeza.
E o “um contra um” pra falar do drible?pra mim isso é a madrasta do tatiquês
Como não lembrar do clássico jogo que foi “cheio de alternativas”?
Tem também o jogador agudo.
Mas o que eu não aguento mesmo é o tal “mapa de calor”. É até uma ferramenta útil, mas que nome…
Como exemplos positivos tem o jogador garçom, que serve o companheiro, e o chuveirinho, que é o festival de bolas aéreas.