Falha na inteligência: no auge da crise dos combustíveis que parou o país, general responsável pelo setor estava no Paraguai
No auge da crise dos combustíveis e do movimento que parou o Brasil sem ser detectado com antecedência pela área de inteligência do governo, o responsável pelo setor estava no Paraguai debatendo outros assuntos.
Ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), o general Sérgio Etchegoyen é responsável também pela ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), que responde pelo SISBIN (Sistema Brasileiro de Informações). Há uma semana exatamente, dia 22, terça-feira, o general, homem de confiança do presidente Michel Temer, viajava para Assunção. Enquanto as estradas internas ferviam e o país dava sinais de paralisação, o cabeça da inteligência brasileira discutia a segurança das fronteiras. (clique na imagem abaixo para ver documento da FAB com o detalhamento da viagem)
Ás 20h da última terça, o general estava na embaixada do Brasil em Assunção reunido com os pares daquele país, Humberto Insfrán (vice-ministro do interior), Lorenzo Lescano Sanchez (chefe do Sistema Nacional de Inteligência-SINAI), além do embaixador brasileiro Carlos Alberto Simas Magalhães e a comitiva brasileira.
Às 9h da manhã seguinte, quarta-feira, 23, enquanto a temperatura subia no Brasil, o general reuniu-se ainda com Frederico Gonçáles Franco, vice-ministro de relações exteriores para a mesma pauta. E às 11h30 fez uma visita de cortesia ao presidente Mario Abdo Benitez na residência do mandatário paraguaio.
Para encerrar a programação na capital paraguaia, recebeu logo depois, no comando da comitiva brasileira, o senador Luis Castiglioni, futuro Chanceler do Paraguai e Juan Ernesto Villamayor. Às 15h25, embarcou de volta para Guarulhos, São Paulo, chegando às 18h25, com a temperatura interna subindo a cada minuto.
Na ida para o Paraguai, dia 22, antes de embarcar em São Paulo, a despeito dos aeroportos já sob ameaça de falta de combustível, tomou o avião da FAB em Brasília às 8h50, desembarcando em Congonhas (SP) às 10h10.
De acordo com a agenda oficial do comandante do GSI, proferiu palestra e almoçou no Instituto de Estudos de Desenvolvimento Econômico (IEDE), de São Paulo, antes do embarque às 16h35 para o Paraguai, onde desembarcaria às 17h30 para iniciar agenda acima descrita.
A Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo enviou duas questões para o GSI, através da assessoria de imprensa. Perguntou se as viagens em avião da FAB em plena crise de combustível não poderiam ter sido evitadas e se houve descaso. E, mais importante, quis saber se a viagem, em meio a tamanha crise, “não foi inoportuna no sentido em que o responsável pelo setor de inteligência do país estava entretido em outros temas, como mostra a agenda do general Sergio Etchegoyen, inclusive no exterior, enquanto os problemas se acumulavam aqui sem terem sido previstos pela inteligência”.
A assessoria do Ministro-chefe do GSI, general Sergio Etchegoyen, enviou a seguinte resposta:
“Em atenção aos questionamentos encaminhados, informamos que a agenda em São Paulo e em Assunção estava planejada e ocorreu em período anterior ao início do movimento dos caminhoneiros, não influenciando no desempenho das responsabilidades institucionais previstas no Decreto 9.031, de 12 de abril de 2017. Por oportuno, a utilização de aeronave da FAB obedeceu ao previsto na legislação vigente”.
Em réplica, a reportagem enviou a seguinte questão:
“Tanto pelo registro de voos da FAB quanto pela agenda oficial do Ministro-chefe desta pasta, General Sergio Etchegoyen , as viagens se deram nos dias 22 e 23, portanto, em plena vigência do movimento dos caminhoneiros. Gostaria de confirmar se esta GSI considera que viagens realizadas nos dias 22 e 23 foram “em período anterior ao início do movimento dos caminhoneiros”.
O GSI não voltou a responder.
Análise do repórter Rubens Valente, da Folha de São Paulo, publicada ontem, mostra que eram atribuições do setor comandado pelo general Sergio Etchegoyen o alerta sobre o movimento e os riscos reais, mas que, no entanto, os serviços essenciais foram afetados sem nenhum plano de emergência.
No auge da crise, o comandante do setor estava no Paraguai discutindo a segurança das fronteiras.