As ligações perigosas de um ministro (2): Campanha de Mandetta em 2014 teve como maior doador empresa que JBS apontou ser laranja de propina
Amaior doação direta da campanha para reeleição como deputado federal em 2014 do futuro ministro da saúde no governo Jair Bolsonaro foi feita por uma empresa delatada pela JBS como laranja no esquema de propina montado por Joesley e Wesley Batista. A Buriti Comércio de Carnes contribuiu com R$ 154 mil para a campanha de Luiz Henrique Mendetta (DEM-MS), realizadas em duas transferências eletrônicas de R$ 70 mil e R$ 84 mil.
No acordo de colaboração dos irmãos, a Buriti aparece como emissora de 56 notas fiscais contra a JBS em um período de quatro meses (março a julho de 2015), com valor total de R$ 12.903.691,03 (doze milhões, novecentos e três mil, seiscentos e noventa e um reais e três centavos). Em depoimento para o Ministério Público Federal na Operação Lava Jato, os Batista afirmaram que as notas emitidas pela Buriti “não tinham contrapartida em bens ou serviços” e se destinavam ao pagamento de propinas de políticos.
Além da maior doadora estar envolvida no escândalo de propinas da JBS como laranja, a campanha de Mendetta contou ainda com o dinheiro de outras empresas envolvidas em casos de corrupção e fornecedores de material hospitalar também investigados. O futuro ocupante da pasta da Saúde é investigado por outro caso: uma suposta fraude em licitação, tráfico de influência e caixa 2 em um contrato para implementar um sistema de informatização em Campo Grande, no período em que foi secretário da mesma área. No momento do anúncio, o presidente eleito afirmou que o ministro não é réu e só uma acusação robusta poderia determinar a saída dele.
As 56 notas da Buriti para a JBS referem-se a fornecimento de carne. No entanto, corroborando a delação dos irmãos, uma auditoria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) descreve que não é possível comprovar o abate dos animais. Outras 23 notas da Buriti foram emitidas contra a JBS também pela compra de gado vivo. (Abaixo, trecho da delação premiada dos irmãos Batista):
Abaixo da Buriti nas doações para o futuro ministro está João Roberto Baird com R$ 150 mil. O empresário do ramo de informática carrega o apelido de “Bill Gates Pantaneiro” e uma série de escândalos nas costas. No último mês de maio, Baird foi condenado pela Justiça Federal a pagar multa de R$ 200 mil e prestar 671 horas de serviços à comunidade por envolvimento em esquema de desvio de recursos do Detran-MS, após longa investigação do Ministério Público Federal.
Na folha corrida do doador de Mandetta, está citação na “Operação Lama Asfáltica” e na “Coffee Break”. Para a campanha de Mandetta ao congresso em 2014, Baird doou R$ 100 mil em cheque como pessoa física e mais R$ 50 mil através da Itel Informática. A eleição de 2014 foi a última onde era possível doar como pessoa jurídica.
A primeira reportagem da Agência Sportlight de Jornalismo Investigativo sobre as “ligações perigosas de um ministro” mostrou que outra empresa citada na Lava Jato também tem estreitas relações com Mandetta, que pagou para a empresa de um amigo por onze fretamentos de aeronaves ao longo dos seus dois mandatos como deputado federal. Os pagamentos foram efetuados para a Amapil Táxi Aéreo, envolvida na Lava Jato no escândalo da JBS exatamente por emitir notas fiscais sem prestar o serviço.
As transações Mandetta e Amapil pagas com dinheiro público ficaram em R$ 128.257,50 (cento e vinte e oito mil, duzentos e cinquenta e sete reais e cinquenta centavos), com reembolso de verba parlamentar entre dezembro de 2014 e maio de 2018. Total de 11 fretamentos. A locação de aeronaves não impediu que o deputado tivesse gastos também com passagens de avião de carreira pagos pelo congresso.
Para se ter uma referência e tomando janeiro deste ano como exemplo, o futuro ministro da saúde aparece pagando através do mandato por dois fretes da Amapil naquele mês. O primeiro no valor de R$ 8.250,00 e o segundo de R$ 5.365,00. Ainda assim, foram emitidas nove passagens em voos regulares de grandes companhias para o deputado. Nos demais meses em que fretou aviões da Amapil também fez gastos de voos de carreira.
A Amapil está citada na Lava Jato por emissão de notas para voos que não realizava, de acordo com a delação de Joesley e Wesley Batista, da JBS. Na colaboração premiada dos irmãos foi apresentada a relação de 12 notas fiscais emitidas pela voadora contra a JBS no valor de R$ 168.109,00 (cento e sessenta e oito mil, cento e nove reais). Dinheiro que, segundo a dupla, ia para o esquema de pagamento de propinas. A Amapil nega.
Outro lado: A reportagem enviou questões para Luiz Henrique Mendetta, sem retorno.