Passagem de Pazuello no ministério começou com mentira olímpica de Bolsonaro e acabou como tragédia humanitária
Começou com uma mentira.
Terminou como uma tragédia humanitária.
Apresentado por Jair Bolsonaro como peça fundamental para a realização das olimpíadas do Rio em 2016, embora seu nome não fosse sequer conhecido por envolvidos na organização dos jogos ouvidos por esta reportagem, o general Eduardo Pazuello deixou o ministério da saúde dez meses depois de assumir. E com 269.209 mil mortes na pandemia durante sua gestão, entre o dia da nomeação e a saída:
Entrada: 16 de maio de 2020 – 14.817 mortos na pandemia no Brasil até esse dia.
Saída: 23 de março de 2021– 298.843 mortos.
O general Eduardo Pazuello assumiu a pasta do ministério da saúde como interino em 16 de maio de 2020 (a nomeação como titular da pasta veio em 14 de setembro).
O presidente Jair Bolsonaro não fez por menos para apresentar o novo responsável pelo principal cargo na linha de frente em meio a maior pandemia da história.
Nas palavras postadas pelo presidente na véspera, Pazuello era tão eficiente e brilhante que até o sucesso, segundo ele, das Olimpíadas realizadas no Rio em 2016 tinham as digitais e total protagonismo do novo ministro.
Bolsonaro não deixou dúvidas em suas palavras quanto ao protagonismo do novo ministro na organização dos jogos:
“Em 2016, nos JO Rio 2016, o Gen Pazuello e sua pequena equipe foram convocados para a gestão da Logística Olímpica e Financeira na parte de Segurança e Defesa. A competição foi um sucesso e elogiada no mundo inteiro”, dizia a postagem do presidente.
E completou: “Pazuello é um predestinado, nos momentos difíceis sempre está no lugar certo para melhor servir a sua pátria. Nosso exército se orgulha desse nobre soldado”.
O general retribuiu a gentileza à altura. Três dias depois de assumir, cumpriu fielmente a cartilha do seu superior e liberou o uso da hidroxicloroquina e cloroquina para o tratamento da covid, mesmo que já tal prática já fosse amplamente refutada pela comunidade científica.
“SEM ELE, A OLIMPÍADA DO RIO NÃO TERIA ACONTECIDO” (Jair Bolsonaro sobre o papel do general Pazuello nos jogos de 2016)
Com o passar dos dias do general Pazuello no ministério da saúde, a empolgação de Jair Bolsonaro com a gestão do amigo foi crescendo na mesma proporção em que o número de mortes ia aumentando em progressão geométrica.
No dia 30 de julho, em uma daquelas quinta-feiras com suas falas direcionadas para os seus, as famosas “lives”, o presidente se empolgou muito com o desempenho do general Pazuello no ministério e mandou:
“Sem ele, a Olimpíada do Rio não teria acontecido”.
(Reprodução de postagem de Jair Bolsonaro de 15/7/2020):
A reportagem escutou diversos envolvidos na organização direta das Olimpíadas do Rio. Que são unânimes quanto ao papel do general Pazuello nos jogos. Ou quanto ao não papel. Bem distante do “sem ele, a olimpíada do Rio não teria acontecido” afirmado pelo presidente.
“Não cuidou jamais da logística dos jogos”, afirma envolvida na organização.
A sintética frase foi ampliada por demais envolvidos.
“Nunca ninguém da organização tinha ouvido falar nele. Foi uma surpresa comentada entre os que trabalharam ver esse nome sendo citado como responsável pela logística das olimpíadas. Quem trabalhava ali foi ouvir esse nome primeiro quando ele vira ministro da saúde”, conta outro responsável pela organização, que descreve com mais detalhes a ação de Pazuello durante os jogos, assim como dos militares, muito aquém do protagonismo propagado por Bolsonaro e restrito a ações localizadas. “Estiveram mais efetivamente na preparação de Deodoro e na ajuda do transporte no revezamento das tochas no Amazonas”, conta.
E fornecem mais detalhes sobre como é feita a logística dos jogos:
“A logística era feita por grandes empresas que em geral fazem essa parte em todos os jogos, vem fazendo isso ao longo do tempo desde os jogos de Sidnei, em 2000. Cuidaram da logística de cada coisa, cada área tinha sua empresa cuidando da logística. A do hipismo era uma, do transporte dos cavalos, a segurança por outra, a de outros eventos tinha outras. Jamais cuidou disso”.
A parte da segurança, mencionada por Jair Bolsonaro em sua postagem como de responsabilidade do general Pazuello, ao citar a “logística olímpica e financeira na parte de segurança e defesa” esteve na verdade a cargo de empresa privada. De currículo controverso, além de muito bem remunerada para o trabalho nas olimpíadas do Rio, onde conquistou quatro contratos nas diferentes áreas de logística e segurança.
EMPRESA APONTADA COMO CÚMPLICE DE MASSACRES FEZ A LOGÍSTICA DE SEGURANÇA
Pelo maior deles, de “Planejamento de Segurança e Serviços de Assessoria de Segurança” válido entre 8 de julho de 2014 e 31 de dezembro de 2016, a ISDS Brasil Segurança e Logística recebeu R$ 18.000.000,00 (dezoito milhões de reais), atuais R$ 32.093.548,20 (trinta e dois milhões, noventa e três mil, quinhentos e quarenta e oito reais e vinte centavos).
A ISDS Brasil Segurança e Logística, aberta em 2011, é a subsidiária brasileira da israelense ISDS Internacional Security e Defense Systems.
Com uma longa folha corrida de escândalos e cumplicidade com regimes sanguinários, conspirações e cumplicidade com mercenários.
Foi fundada em Tel Aviv por um coronel da reserva e ex-agente do Mossad, de dupla nacionalidade, argentino e israelense, Leo Gleser.
Que em 1981, estava em Honduras na guarda pessoal do então presidente Roberto Suazo Cordova, ao lado do general Gustavo Alvarez, que promovia a guerra suja e matança contra a esquerda hondurenha, com saldo de 250 assassinatos nas forças contrárias ao sistema. Participou também do treinamento dos mercenários denominados “Contra”, que lutavam para derrubar a revolução sandinista na Nicarágua.
Ao longo dos anos, foi acusada de fazer o tipo de serviço, na condição de mercenários, que o governo israelense não poderia fazer por ser um estado.
Nos últimos tempos, em razão da política de flexibilização de porte de armas de Jair Bolsonaro, tem atuado no Brasil com mais interesse. Contrataram como lobista no negócio das armas o coronel da reserva Flávio Josmar Pelegio.
Outro lado:
A reportagem enviou pedido de respostas para o general Eduardo Pazuello através da assessoria de imprensa do ministério da saúde enquanto ele ainda estava no cargo mas não obteve resposta.
Obra-Prima Lucio
Siga em frente, fazendo trabalho sério, pq que ja tem muita gente pra criar fake news do outro lado